Experiência de Marca

Grandes marcas nos sambas enredos cariocas

Entre sambar no Carnaval por falta de verba e resistir à tentação de fazer um enredo patrocinado, que normalmente não rende boas notas dos jurados, a maioria das escolas de samba optou por uma nova solução. Este ano as empresas se tornaram coadjuvantes no enredo e não mais protagonistas do desfile. Temas patrocinados por grandes corporações, Estados e até cidades do exterior serão raros no desfile de 2010. As escolas agora optam por parcerias com as empresas que fornecem, além de verba, produtos e serviços.

Entre sambar no Carnaval por falta de verba e resistir à tentação de fazer um enredo patrocinado, que normalmente não rende boas notas dos jurados, a maioria das escolas de samba optou por uma nova solução. Este ano as empresas se tornaram coadjuvantes no enredo e não mais protagonistas do desfile. Temas patrocinados por grandes corporações, Estados e até cidades do exterior serão raros no desfile de 2010. As escolas agora optam por parcerias com as empresas que fornecem, além de verba, produtos e serviços.

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Todas as escolas receberam da Liga das Escolas de Samba (Liesa) R$ 3 milhões cada. E as seis primeiras colocadas no desfile das campeãs no Carnaval do ano passado, mais R$ 750 mil. A verba não é suficiente para bancar o desfile porque a organização pode custar até R$ 10 milhões dependendo da estrutura e da apresentação.

A Mocidade Independente de Padre Miguel, por exemplo, terá apoio da fabricante de linha branca Electrolux, da Cervejaria Cintra e da montadora Honda para compor as alegorias de seu o enredo: “Do paraíso de Deus ao paraíso da loucura, cada um sabe o que procura”. Um dos carros alegóricos, retratando o Paraíso Fiscal, terá dez máquinas de lavar roupas Electrolux recheadas de dólares-fantasia, representando a lavagem de dinheiro.

Mocidade Independente de Padre Miguel leva Electrolux para a avenida.
Mocidade Independente de Padre Miguel leva Electrolux para a avenida.

Em outra alegoria, Paraíso do Consumo, automóveis Honda estarão sobre o carro alegórico. São três modelos de carros (New Civic, New Fit e Honda City) e seis de motocicletas. “Abrimos mão de patrocínio para não cercear a criatividade”, disse o diretor de Carnaval da Mocidade, Cid Carvalho.

O apoio das empresas envolveu ainda a Cintra, que servirá cerveja para os componentes da Mocidade, e a concessionária PontoMix, encarregada de fornecer camisas e fazer a manutenção da bateria.

A Mocidade registra em seu orçamento do Carnaval 2010 R$ 6 milhões, sendo R$ 3 milhões recebidos da Liesa e outros R$ 3 milhões arrecadadas com a venda de direitos de transmissão para as redes de TV e de eventos promovidos pela escola, como os ensaios.

No caso da Salgueiro, o patrocinador, a editora Ediouro, foi quem propôs a parceria quando conheceu o enredo e percebeu que se encaixava perfeitamente à sua estratégia de marketing. “Quando soubemos que ‘Histórias sem fim’ (ítulo do enredo) era sobre livros, propusemos trabalhar juntos”, conta Lula Vieira, diretor de marketing da Ediouro.

A Ediouro está com o Salgueiro em 2010.
A Ediouro está com o Salgueiro em 2010.

A Ediouro vai distribuir 500 livros durante o desfile, a partir de um dos carros alegóricos que representará uma biblioteca. Entre os livros estarão alguns dos clássicos mencionados no samba-enredo, como “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Julio Verne, e “Moby Dick”, de Herman Melville.

Também serão distribuídos programas da escola como se fossem o roteiro de uma ópera e 30 mil revistas da Salgueiro. Será a primeira vez que a Ediouro patrocina o Carnaval e, para Vieira, a ação tem tudo a ver com a estratégia de vender o livro como diversão: “Se você olha o livro como diversão, não se sente obrigado a ler, mas é prazeirosamente convidado a ler”.

Uma escola reconhecida como inovadora, a Unidos da Tijuca não espera o Carnaval para correr atrás de empresas patrocinadoras. Durante todo o ano, além do patrocínio da Vivo, da LG, da Schincariol e da TAP, a empresa tem mais de 30 parceiras que fornecem material em troca de espaço na escola para realizar ações de relacionamento com seus clientes.

Unidos da Tijuca contou com patrocínios de grandes marcas durante toda a preparação para o Carnaval.
Unidos da Tijuca contou com patrocínios de grandes marcas durante toda a preparação para o Carnaval.

“A gente dá espaço no camarote, leva para fazer um tour e conhecer a indústria do carnaval. Isso é importante para quem nos apoia”, conta Fabiana Amorim, diretora de Marketing da Unidos da Tijuca.. “Trabalhamos como uma empresa que tem que se planejar o ano inteiro. Temos funcionários e uma indústria que não para depois do carnaval”, acrescenta.

Ela conta que essas parcerias se dão em setores estratégicos como gráficas, empresas de divulgação em outdoors e de anúncios em ônibus, além de uma rede de supermercados local que fornece alimentos aos funcionários.

A Unidos da Tijuca também inovou ao tornar seu barracão um ponto de atração turística. A escola chega a receber grupos com 300 turistas para conhecer o barracão, o ateliê e todas as fases de produção do carnaval. “Além de aumentarmos a renda, ainda mostramos que o carnaval é organizado”.

Novamente em crise depois de maus resultados nos últimos desfiles, a nova direção da Mangueira, encabeçada pelo músico Ivo Meirelles, encontrou a escola com uma dívida de R$ 6,5 milhões. Depois de renegociá-la, conseguiu angariar patrocínios da TIM e da AmBev. A cervejaria ainda vende cerveja subsidiada, para que a escola tenha uma margem grande, já que, na quadra, o produto sai a R$ 3,00.

A escola de Samba Mangueira conquistou o patrocínio da TAM e AmBev.
A escola de Samba Mangueira conquistou o patrocínio da TIM e AmBev.

A empresa também se associou ao Ingresso Certo para vender ingressos para seus eventos pela internet, o que permitiu um alcance maior. “O sucesso foi tanto, que o site passou a vender também fantasias”, explica Rafael Sampaio, diretor de marketing da escola.

Com o enredo sobre música brasileira, cantores como Fernanda Abreu, Emílio Santiago, Diogo Nogueira e Arlindo Cruz fizeram shows para a escola sem cobrar nada, revertendo toda arrecadação para a Mangueira. Com isso, a agremiação montou um enredo de R$ 5 milhões.

Mas nem todas as escolas abandonaram a conexão direta com o patrocínio. A Grande Rio fará uma associação direta com a AmBev, seu principal patrocinador, para o enredo de 2010 – “Da arquibancada ao Camarote Número 1, 25 anos de folia no palco da fantasia”. Mas o assessor Avelino Ribeiro diz que o “Camarote nº 1” será tratado como outros “momentos marcantes” dos 25 anos do Sambódromo, que inclui “homenagem aos grandes carnavalescos, a Joãzinho Trinta e aos operários que fazem o Carnaval”. O orçamento da Grande Rio este ano será de R$ 8 milhões. No ano passado, a Grande Rio recebeu R$ 4 milhões em patrocínio da cidade de Nice, na França, que organizou a arrecadação junto a vários empresários franceses.

Grande Rio homenageia o Camarote da Brahma e, com isso,
Grande Rio homenageia o Camarote da Brahma e, conta com o patrocínio da AmBev.

Outra que optou por um enredo patrocinado foi a a Beija-Flor, que acabou envolvida no escândalo do mensalão do DEM. Isso porque recebeu R$ 3 milhões do Distrito Federal para contar a história de Brasília. Durante as negociações do patrocínio, alguns deputados distritais chegaram a pressionar o governo e a escola para aumentar o valor em troca de propinas. O acerto não foi fechado, mas tudo foi exposto durante a apuração do escândalo.

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