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Amy Webb tenta colocar foco em um mundo desfocado

O que parece é que, como no tema Aquecimento Global, chegamos a uma situação limítrofe em que nossas micro decisões fazem sim diferença.


Claudia-Penteado

O que se percebe no SXSW 2023 é que “nunca antes na história” a nossa humanidade foi tão questionada e, ao mesmo tempo, tão chamada para o jogo. Parece esquizofrênico, e é. Se por um lado desenvolvemos ferramentas que nos substituem, e vivemos fazendo perguntas do tipo “mas quando a IA terá sentimentos?”, sabemos que este não é o caminho ideal e que o fim dele não oferece uma luz bacana, mas uma penumbra caótica, de difícil visualização como a brincadeira do “magic eye” dos anos 90 proposta pela futurista Amy Webb. Nosso riso é frouxo e nervoso ao mesmo tempo. Nos entreolhamos um pouco confusos pensando: ganhamos ou perdemos com tudo isso? 

Como todo jogo, haverá perdas e ganhos – e talvez mais perdas do que ganhos. Ou talvez ganhos para apenas uma parcela da sociedade, e mais perdas para quem já costuma perder mesmo. O que parece é que, como no tema Aquecimento Global, chegamos a uma situação limítrofe em que nossas micro decisões fazem sim diferença, e os caminhos que escolhemos trilhar demandarão desaceleração e decisões difíceis porque desconfortáveis. 

De todas as apresentações da Amy Webb que assisti até hoje no SXSW, esta sem dúvida foi a que trouxe menos respostas, e ela avisou isso no começo. Ela e nem ninguém tem as respostas do que acontecerá daqui a 10 ou 15 anos porque estamos vivendo, todos os dias, a construção dessas respostas. E logo mais vamos brindar ouvindo uma boa música, com a ótima cerveja que brota em todas as quebradas do SXSW, seguiremos a vida fazendo as mesmas coisas e nos divertindo com o MidJourney e o Chat GPT, entre outros brinquedinhos…e seguindo otimistas tentando ver o lado positivo das coisas como propôs o ótimo Simran Jeet na sua palestra de abertura. Não foi por acaso que o SXSW convidou precisamente ele para fazer a abertura do evento.

Para mim, a mensagem mais importante que ele passou foi sua definição de otimismo, logo no começo: reconhecer os desafios, e mergulhar neles COM NOSSOS VALORES. Sem abrir mão deles. No fundo, hoje, aqui, o tempo todo, e na construção desse nosso futuro, são os nossos valores que estão em jogo. E são eles que estarão refletidos no futuro que estamos construindo. Valores das lideranças que elegermos para decidir por nós. 

Valores das lideranças das empresas onde escolhermos trabalhar. Nesse SXSW há diversas palestras, talvez “como nunca antes na história”, com foco muito preciso em valores que podem nos mover para a frente de um jeito bom, sustentável e talvez menos glamouroso. É uma oportunidade. Vale aproveitá-las, mas não de um jeito passivo, como bem lembrou Amy Webb, somente aplaudindo, anotando no caderninho, repetindo em artigos e palestras. É preciso esticar as antenas e além de ouvir, bem mais atentos, precisamos de fato aplicar os conhecimentos. Praticá-los. Walk the Talk.

Porque não podemos esquecer, jamais, que são valores e escolhas muito precisas que transformaram o mundo neste espetáculo de injustiças a céu aberto em que vivemos.

*Claudia Penteado é jornalista, produtora de conteúdo, curadora, podcaster, pesquisadora e ghostwriter.