Fico triste de ver que em pleno 2023, tilintar nos noticiários escândalos relacionados a “trabalhos análogos à escravidão”. Aliás, é igualzinho, só ocorrendo em outra época, o que demonstra que não evoluímos como ser humano. Humanos ???
Outro ponto que chama a atenção, é o fato que muitos dos empregadores se dizem surpresos, pois não sabiam dos fatos por terceirizarem parte de suas atividades. Jogada jurídica ou não, aqui temos um aprendizado, ainda mais em tempos de ESG: Não se terceiriza Governança, Compliance e Gestão sustentável de cadeia de valor, é preciso acompanhar de perto, porque o papel aceita tudo e depois que a crise de imagem vier, não adianta somente arrumar a indenização, o estrago já foi feito na empresa e no entorno também. Por exemplo, o que o Vale dos Vinhedos está vivendo, com o impacto nos seus 3000 leitos que compõem a região de Bento Gonçalves, sem falar no entorno como a cidade de Gramado e Canela que vive do turismo muito baseado nas vinícolas, inclusive das que nada fizeram de errado.
Então aproveitando – infelizmente – os casos das vinícolas do Sul, de Goiás com cana de açúcar e tantos outros que passaram pelos jornais, me pergunto:
Sera-que no quintal nosso de EVENTOS não temos certas situações similares ocorrendo que devemos refletir?
Listei algumas :
- O nosso staff de montagem está trabalhando quantos horas no pré evento?
- Qual o intervalo de tempo que você dá para o nosso promotor de feira almoçar? Considerando um local que por vezes não tem refeitório, tão pouco por perto não tem opções para ele comprar algo (marmitas não são permitidas entrar) e a oferta de alimentação local é extremamente cara;
- Qual o valor que você tá pagando para o Carregador ?
- O horário que acaba o seu evento não tem transporte público e o seu funcionário às vezes fica esperando o primeiro trem/metrô… dormindo nas calçadas e estações e logo logo ele está de volta;
- Você deixa o segurança num posto fixo no sol, com uniforme de terno preto e “esquece” de levar água para ele;
- De repente começa a chover, e o segurança num ponto fixo a céu aberto – que não pode abandonar o seu posto – não recebeu capa de chuva, tão pouco providenciaram um guarda chuva que seja;
- Um profissional de credenciamento ou “Posso Ajudar” que atua ao ar livre não tem um boné como uniforme ou protetor solar disponível;
- Você paga esse freela assim que o evento acaba? Até porque, por muitas vezes ele depende desse dinheiro para a condução para trabalhar;
- Tem Coordenador que dá 02 camisetas de staff e exige que ele lave a mesma, que só pode ocorrer na madruga quando ele volta para o quarto hotel/casa.
- Banheiro fica trancado durante a montagem/desmontagem ou não temos banheiro químico exclusivo e temos que ficar na fila enorme junto com os participantes, mas os 45 min de intervalo para pipi e lanchinho continuam os mesmos;
- A comida da brigada é uma quentinha, que não está quentinha ou até mesmo é um sanduíche que efetivamente não sustenta a quantidade de horas dedicadas no evento.
E infelizmente poderia descrever mais outras cenas que vi e vivi nos eventos.
Obviamente que existem clientes e clientes, contratantes e contratantes, terceirizadas e terceirizadas, mas a provocação fica feita para que não sejamos surpreendidos, para que não sejamos hipócritas e para que sejamos efetivamente coerentes com nossas posturas, com os tempos de ESG e não de greenwashing, não sendo lacração nas redes sociais e com um teto de vidro enorme em cima da cabeça.
Por mais ambientes saudáveis de produção de eventos e seus colaboradores.