Dizem que o agro é pop, é tech, é tudo. Mas você sabe de fato o que é o agro?
Conhecemos sítios, pés de jabuticaba, laranja, a hortinha… Mas uma plantação estabelecida para gerar receita, pouca gente que cresceu em uma cidade grande conhece. E o produtor rural, você sabe quem é? Aquele que planta o café, as frutas, o arroz nosso de cada dia? Provavelmente, não – porque nosso contato com esses produtos costuma chegar no máximo às gôndolas dos supermercados. Mas, e quanto ao produtor? O brasileiro que comanda negócios no campo responsáveis por mais de 20% do PIB nacional?
Nas cidades, onde ficam as nossas agências, quase ninguém o conhece – e é uma pena, porque, além de se tratar de um público muito importante para o país, estamos falando de um negócio que precisa muito de agências e profissionais de propaganda e marketing. Conhecer esse mundo pode representar um diferencial de mercado muito valioso.
Mas isso exige, inicialmente, a humildade de reconhecer que sabemos muito pouco, nas cidades, sobre a realidade da vida no campo e da agropecuária industrial. Que somos estrangeiros nesse Brasil.
Fazer propaganda para este público significa estar aberto para conhecer uma infinidade de perfis e para derrubar um monte de mitos.
É praticamente impossível fazer um bom trabalho de comunicação para este segmento sem ir a campo. Sujar os pés de terra é só o básico para chegar um pouco mais perto desse mundo distante do urbano.
Como profissional de atendimento, minha primeira experiência com clientes do segmento agro foi há 15 anos – e, apesar de trabalhar com o segmento de forma praticamente ininterrupta desde então, ainda me sinto como alguém que está aprendendo uma nova língua.
Com a experiência que acumulei até aqui, noto o tamanho da oportunidade e dos desafios para todos que atuam no nosso setor. Não foram poucas as vezes que preparei um briefing detalhado de campanha ou evento voltados ao marketing rural e encontrei criativos que não tinham ideia do que era um produtor de algodão, por exemplo. Ou das diferenças entre ele e um produtor de tomate.
Nesses anos de contato com produtores rurais, em visitas a fazendas, feiras agrícolas ou outros eventos promovidos por empresas voltadas ao setor, muitas das ideias que eu tinha sobre o perfil desse público se mostraram equivocadas. Destaco duas delas:
A primeira é que o produtor rural tem um perfil bem mais moderno do que se imagina. É certo que, no passado, quando as primeiras gerações de desbravadores começaram a tocar plantações e criações de gado Brasil adentro, era muito comum a figura dos coronéis que costumávamos ver nas novelas. Mas hoje os negócios estão nas mãos de uma segunda ou até mesmo de uma terceira geração, que não se encaixam mais naquele estereótipo.
Alguns dados da sétima Pesquisa de Hábitos do Produtor Rural, feita pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), mostram isso: quem comanda esses negócios tem média de 46,5 anos; filhos cursando faculdade ligada ao agronegócio; 31% são mulheres; e, embora continuem vendo TV, ouvindo rádio e lendo jornais e revistas, esses produtores estão ligadíssimos à internet, tendo o WhatsApp como seu meio de comunicação preferido tanto em nível pessoal quanto profissional.
Há também, numa parcela da população urbana, a imagem do produtor rural como um vilão que não está nem aí para o meio ambiente, que devasta a mata nativa, envenena o solo e os vegetais, e, ainda por cima, é o responsável pela alta do preço dos alimentos. Não é o que eu tenho visto nestes últimos anos.
Embora, como em toda área, existam os bons e os maus profissionais, o que se percebe na mentalidade dos empreendedores que estão à frente da revolução agropecuária brasileira é uma preocupação muito grande com o chamado tripé da sustentabilidade: ambiental, econômica e social.
O meio rural trabalha com olhos para o futuro. O mundo tem hoje pouco mais de 7,5 bilhões de habitantes e ganhará mais 1,5 bilhão nas próximas três décadas. A demanda por alimentos crescerá na mesma proporção e o grande desafio será produzir mais sem precisar de novas áreas. Ou seja: aumentar a produtividade da terra.
Acompanho de perto os esforços e investimentos que o produtor vem fazendo para isso. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o Brasil será um dos maiores players responsáveis pela produção global de alimentos, ampliando em 40% a sua produção sem precisar avançar sobre novas áreas de mata nativa.
É preciso entender que o produtor rural é um empreendedor, que enfrenta muitas dificuldades, mas que está sempre buscando superar os desafios de clima, pragas e doenças e garantir mais produtividade. E que para isso precisa da ajuda dos melhores profissionais de todas as áreas.
Para finalizar, é importante dizer que, neste mercado, não se busca glamour e um bom trabalho provavelmente, não será reconhecido por meio dos critérios utilizados nas premiações tradicionais do setor. Mas, pra nós, isso não tem a menor importância. Para a gente é uma honra fazer parte da transformação deste setor e cada dia de trabalho no planeta agro é um dia de aprendizado e realização.
Foto: John Deere