Eu gostaria de publicar um artigo esta quinzena recomendando às agências de live marketing que investissem na abordagem de seus clientes sob a ótica de ESG.
As três letras mais hype do mundo corporativo atual oferecem um campo vasto para desdobrar em eventos, ativações, programas de incentivo baseados em políticas para conservação do meio ambiente, promoção da segurança e demonstração de boas práticas de governança.
São temas que se prestam maravilhosamente a atividades que envolvam experiência (ou seja, o nosso mundo do live marketing).
Eu gostaria de falar sobre minha felicidade em ver o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) aprovado por unanimidade no Senado e agora à mercê da sanção presidencial.
O Perse vem em excelente momento e vai efetivamente ajudar o mercado de eventos a segurar a barra dessa crise inédita e avassaladora.
Eu gostaria de escrever sobre mais uma comprovação cabal da importância estratégica dos eventos, puxando um pouco a sardinha para minha brasa (ou é o contrário?) e comentando sobre o Suzano Day, evento virtual e global que fizemos semana passada.
Ele mostrou ao mercado internacional de capitais (um grande viveiro de corações peludos), os benefícios para os negócios gerados pela prática da “inovabilidade”, a inovação mixada com sustentabilidade, pela gestão financeira rigorosa e conservadora, e pela seriedade no trato com os temas de diversidade e inclusão.
Uma verdadeira aula de walk the talk. Ao longo das duas horas de evento, as ações da companhia subiram 5,77%. Isso é resultado na veia.
Eu gostaria muito de passear por esses temas e explorar um deles em mais profundidade. Mas o Nei não deixa.
O Nei é um dos meus melhores amigos. Parceiro profissional há mais de 25 anos. Um craque da iluminação e pessoa com quem já tive muitas conversas inspiradoras sobre o trabalho, a vida e as corridas de rua, esporte que ambos praticamos, muitas vezes participando das mesmas provas.
Ele está internado numa UTI, entubado, com Covid-19. É forte, tem uma mulher valorosa e um filho de 18 anos – conheço desde que nasceu – que faz seus olhos brilharem com intensidade. Confio que vai sair dessa e fico sensibilizado com a grande corrente de energia que se formou entre os amigos dele.
Mas a pergunta que toma minha concentração e me rouba a disposição para tratar de outro assunto qualquer aqui é “Mas por que ele entrou nessa?”.
Por que ele e dezenas de milhares de pessoas seguem contaminando-se com essa famigerada doença enquanto muitos países já a controlaram?
Viramos o pior lugar do mundo porque aqui não há governo. Portanto, não há coordenação central inteligente, não há exemplo vindo de cima, não há empatia por parte do poder executivo, coragem do legislativo e consistência por parte do judiciário.
Cinquenta e oito milhões de irmãs e irmãos brasileiros desatinaram nas eleições de 2018, divididos entre ignorantes, obtusos, alienados e abjetos (se você apertou o maldito 17 na urna escolha uma das quatro categorias. Com ou sem autocrítica seu lugar é uma delas).
Por conta disso, todos nós estamos sofrendo, passando vergonha internacional e regredindo em termos civilizatórios, sanitários e econômicos.
Destamparam a panela do inferno, um termo bem ao gosto dos neopentecostais mercantilizados que acharam espaço de poder ao lado da banda podre do agronegócio, da bancada da bala, da milícia carioca, dos terraplanistas e outros malucos de hospício.
Perderam a vergonha de desfilar preconceitos, exaltar torturadores, reescrever a história recente amenizando a crueldade e estupidez do regime ditatorial cujo aniversário de fundação o governo federal ganhou na justiça o direito de celebrar.
No meio de tudo isso lá se foram mais de 300 mil brasileiros. O candidato a tiranete, inexplicavelmente eleito, aperta os parafusos, e, alucinado, sonha com um golpe para o qual não tem apoio, força e inteligência suficientes.
É uma longa noite que vai acabar, mas a cada minuto o estrago piora, o tecido social deteriora, mais gente adoece ou morre, mais gente passa fome e raiva. Mais limites vão sendo pisoteados. Paulatinamente, isso nos anestesia.
É preciso dar um basta.
Wilson Ferreira Junior é jornalista e empresário, torce por todos que estão doentes ou em dificuldades econômicas ou emocionais, e nunca pensou em testemunhar um genocídio moderno em seu próprio país. Sua opinião não representa o Promoview.