*Por Maurício Sepulveda, Diretor de Marketing e Novos Negócios da Taurus Helmets
A moda é cíclica, como muitas coisas que abrangem a vida em sociedade. Mas envolver-se em um negócio, geralmente acaba desencadeando dois tipos de sentimentos que podem ser considerados até mesmo antagônicos: a vontade de querer algo novo, que foge dos padrões e a necessidade de gerar valor, porque todo negócio precisa ser rentável, se não, é hobbie. Manter o equilíbrio entre os dois é desafiador, sem dúvidas, principalmente para quem, no mercado da moda, não aceita virar uma fast fashion.
Algumas marcas apostam na cultura de instigar o desejo do consumidor com peças em quantidades limitadas e coleções exclusivas. Em um mercado em que se quer ser inovador e fugir das tendências isso é muito importante porque cria um senso de pertencimento e, com sorte, uma legião de fãs que sempre compram lançamentos para não correr o risco de ficar sem.
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Na maioria das vezes, a exclusividade também está atrelada a peças com maior qualidade e bastante diferentes das opções do mercado. Os criadores acabam não seguindo uma premissa para o desenvolvimento dos produtos, mas existe um elo emocional grande que acaba criando barreiras para olhar outros nichos que poderiam consumir a marca, e aí os disruptivos, que criam as tendências, acabam ficando às margens do “popular” e sendo engolidos por grandes marcas que adaptam os conceitos para produtos mais vendáveis.
Também tenho observado alguns padrões. O que antes era tido como um jeito “peculiar” de se vestir, pode estar se tornando uma tendência. Antigamente seria inconcebível que uma aeromoça, sinônimo de elegância e requinte para alguns que romantizam a imagem destas profissionais, passasse de tênis servindo os passageiros, mas na Ucrânia, uma companhia aérea passou a adotar os sneakers e terninhos com modelagem mais solta no lugar dos uniformes tradicionais.
A pandemia também trouxe novas experiências e fez com que a indústria do vestuário se desprendesse das tendências e se adaptasse, além da necessidade de vender mais pela internet, atrair pessoas que nem precisassem provar as roupas para comprá-las. Outro ponto importante é que, com as pessoas passando muito mais tempo em casa, porém se apresentando em câmeras para reuniões online, foi possível unir conforto com estilo, formalidade e informalidade.
De acordo com a pesquisa Moda e Pandemia há diferenças em relação ao consumo entre as gerações Y (nascidos entre os anos 1980 e meados de 1990, os millenials) e Z (nascidos após 1990 e início dos anos 2000, os nativos digitais). Enquanto os primeiros se importam mais com o status que determinadas peças de roupas dão, os jovens da geração Z são mais conscientes em relação à moda e tendem a querer expressar seus posicionamentos pessoais no vestuário.
Por buscar um consumo com propósito, os nativos digitais acabam abrindo espaço no guarda-roupa para marcas com mais responsabilidade ambiental e social, o que também impacta no mercado.
A música sempre esteve presente na moda. Nossos ídolos sempre criaram desejo e identificação. Antigamente, usar uma camiseta de banda era a forma como as pessoas demonstravam que pertenciam a determinados grupos, mas hoje percebo que essa relação mudou. Usar uma camiseta do Ramones, por exemplo, não significa mais que você é um adorador do punk rock.
Muitos dos jovens sequer já ouviram as músicas deles, mas usar a camiseta com a logo da banda é quase como uma marca, se tornou uma tendência e um símbolo de um espírito alternativo.
Acredito que cada vez mais coisas que não são uma tendência hoje, se tornarão no futuro, principalmente com a inclusão de estampas de personagens icônicos, linhas relacionadas ao universo musical e outras coisas “undergrounds” nas prateleiras de lojas de departamento, assim como o adjetivo “nerd”, deixou de ser algo negativo e a cultura nerd, se popularizou.
*Maurício Sepulveda é Diretor de Marketing e Novos Negócios da Taurus Helmets, empresa brasileira pioneira na fabricação de capacetes no Brasil e detentora da marca Urban Helmets, de vestuários e acessórios.