Ao mesmo tempo que a Nestlé começou sua Assembleia Geral de Acionistas (AGM) no dia 20/04, organizações da sociedade civil realizaram uma ação para envergonhar a empresa, que é uma das maiores empresas de alimentos do mundo.
As projeções acompanham o lançamento do último relatório da Changing Markets Foundation intitulado Integridade Net-Zero: O ponto cego de metano da Nestlé. A pesquisa afirma que é improvável que a empresa atinja sua meta de redução de 50% até 2030 — até agora, a Nestlé reduziu suas emissões em apenas 1% desde 2018.
Segundo os autores do estudo, os planos climáticos da empresa não estão de acordo com o que é exigido pela ciência para cumprir a meta de limitar o aquecimento da Terra a 1,5C.
O relatório considera o roteiro climático da Nestlé fraco – falhando completamente em quatro e cumprindo apenas parcialmente outras cinco recomendações relevantes do prestigioso relatório apoiado pelo Secretário Geral da ONU, António Guterres.
Este documento da ONU, que indica como devem ser os planos corporativos net-zero, solicita que emissões substanciais de outros gases de efeito estufa, além do dióxido de carbono (CO2), sejam relatadas e direcionadas separadamente. Entretanto, a Nestlé não tem nenhum plano específico para tratar de suas emissões de metano.
O total de emissões de metano da Nestlé, somente em suas operações leiteiras, é estimado em 8,74 milhões de toneladas de CO2 equivalente. O IPCC e vários outros relatórios científicos recentes destacam o papel crucial que a redução das emissões de metano desempenha para a meta de 1,5C de aquecimento global máximo neste século.
“O não cumprimento dos padrões da ONU não só significa que os planos da Nestlé para o net-zero não têm substância, mas também correm o risco de ser uma peça de greenwashing“, disse Maddy Haughton-Boakes, Conselheira de Campanha da Fundação Change Markets.
“O que é especialmente preocupante é que a Nestlé não tem nenhuma meta específica de redução de metano – o que é surpreendente quando sua produção de laticínios por si só emite cerca do dobro de metano que todo o setor pecuário da Suíça“, continua Haughton-Boakes.
“A Nestlé está com a cabeça enfiada na areia sobre a questão do metano há muito tempo, e por isso trouxemos a mensagem para sua sede – a ciência climática não pode mais ser ignorada por um grande poluidor climático como a Nestlé”, afirma conselheira.
Ela cobra que a empresa coloque seu plano net-zero em conformidade com as recomendações da ONU até a COP28, em dezembro deste ano, estabelecendo uma meta específica de metano de pelo menos 30% até 2030, em linha com o Compromisso Global de Metano. “Esperamos que seus acionistas vejam isto e façam algumas perguntas difíceis“, dispara Haughton-Boakes.
“O fracasso da Nestlé em estabelecer uma meta clara de cortar o metano em 30% até 2030, em conformidade com Compromisso Global de Metan da COP 26, de 2021, mostra uma séria falta de ambição”, diz Jurjen de Waal, do grupo ambientalista Mighty Earth.
“Se quer ser líder global, a Nestlé precisa estabelecer metas mensuráveis para reduzir suas enormes emissões de metano, incluindo a redução de seu rebanho, melhorando a alimentação do gado e mudando para alternativas mais baseadas em plantas“, finaliza Waal.
Os holofotes sobre as promessas Net-Zero da Nestlé vêm à medida que grupos da sociedade civil se unem sob a iniciativa Climate Claims Watch, ou Observatório de Promessas Climáticas, que apoia este relatório da Changing Markets. O observatório vai expor a propaganda verde enganosa de corporações e evidências de ausência de responsabilidade climática.
O Climate Claims Watch pede que as legislações governamentais responsabilizem as empresas por meio da imposição de metas de redução de emissões baseadas na ciência (incluindo metas específicas de metano); e cobra ainda relatórios detalhados de grandes empresas, como a Nestlé. Eles pedem que esses relatórios sejam verificados por um terceiro independente.
Fotos e vídeo: Ação sem assinatura, não há atribuição de créditos.