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Futefagia ou Autofagia do futebol no Brasil

Vejo que o esporte que apaixona os brasileiros, está entrando num momento autofágico, sem precedentes.

Meus caros. É claro que esta palavra não existe. Entretanto vejo que o esporte que apaixona os brasileiros, está entrando num momento autofágico, sem precedentes. Desta forma, cunhei esta expressão, que significa que o futebol está se alimentando de sua própria carne para poder seguir em frente.

Acompanhem comigo um raciocínio simples.

Vamos começar pelos clubes.

Exceto-dois, que estão com suas finanças mais resolvidas, todos os outros tem uma altíssima taxa de endividamento, que parece ser impagável a curto prazo. Então, o dilema é: gasto com um time de ponta e aumento minha dívida, ou tento fazer uma contenção de despesas e corro o risco de não ser competitivo e assim deixar de faturar com premiações, ingressos, venda de jogadores.

A questão é que nossos clubes só pensam na arquibancada, como torcedores; nunca numa mesa de escritório fazendo contas. Vejam que situação. 

Em Minas, por exemplo, existe o Mineirão. Então o América construiu seu estádio, o Atlético vai inaugurar o seu, e ao Cruzeiro, enquanto estiver competindo, resta jogar no Mineirão, ou levar seus jogos para fora de Belo Horizonte, ou construir seu estádio. 

Em São Paulo, todos tem estádio, e o famoso Pacaembu vai virar aquela tal de arena multiuso, onde haverá até jogos de futebol. 

No Rio, dois clubes administram o Maracanã, o que parece ser uma boa ideia, se for feito um trabalho competente, e os outros dois já tem seus estádios e deveriam se preocupar em mantê-los operacionais.

E existem outros exemplos ridículos. 

Em Goiás o Serra Dourada, praticamente não abre.

Isso só demonstra um fato. Não existe qualquer pensamento estratégico em relação a este ponto, que é fundamental. Claro, se os estádios do poder público são deficitários para os clubes, será que o dever de casa não será torná-los operacionalmente lucrativos? 

O que representaria o fim de um destes clubes para as prefeituras, governo estadual etc., em termos de não arrecadação de impostos; não movimentação da economia local, geração de empregos, enfim, quanto isto representa em termos econômicos e sociais.

Ainda falando de clubes. Vejam, não conseguimos ter um único projeto de Liga. 

De saída temos duas diferentes. E não se entendem. A veia do torcedor fala mais alto. Transformar a criação de uma Liga, em vantagem competitiva para manter a liderança é o ponto que mais sobressai.

O movimento autofágico continua a se manifestar por conta das SAFs. Vão dar resultado? Será a salvação dos clubes? 

Tenho minhas dúvidas. 

E por um único motivo. Por que o futebol no Brasil é mágico? É capaz de levar multidões aos estádios? Representa muitas e muitas vezes um jeito muito peculiar do brasileiro iniciar a semana.

Eu manifestei, em alguns de meus textos, que tenho Nelson Rodrigues como um grande colunista esportivo; um exemplo a ser seguido, dado a forma como escrevia, sempre mostrando sua predileção clubística, mas não deixando nunca de entregar a realidade dos jogos, mesmo que contra seu time. 

Por isso, cito uma de suas grandes frases: “toda unanimidade é burra”. 

Me permito, inclusive, a me abrigar debaixo deste conceito para oferecer a minha visão. 

Todos falam que a SAF pode ser uma solução para os clubes, em termos de zerar seu endividamento. Entretanto, se esquecem que, os clubes vão se tornar negócios administrados com o grande objetivo capitalista selvagem, de gerarem lucro.

Pode parecer inteligente. No entanto, será que aqueles que movimentam o futebol, o torcedor, vai entender que lucro muitas vezes será melhor que vencer um campeonato, e que é para isso, este novo modelo passa a existir?

Tenho minhas dúvidas.

Em nosso país, o campeonato brasileiro começa, e temos sempre os favoritos ao título. E são vários. Ora, as maiores ligas do mundo, quando iniciam, todos sabem que o título vai ficar entre duas ou três equipes, e rarissimamente fugirá disso. 

É este o caminho que estamos iniciando. Donos de times pelo mundo vindo investir no Brasil.

Vejam como o problema é complexo; trazer equilíbrio entre finanças e paixão.

Mas vamos em frente. 

Hoje, quando aparece um menino que tem grande possibilidade de carreira, muitas vezes ele, revelado por um de nossos clubes, é imediatamente vendido, sem nem mesmo passar pelo time de cima. Novamente, aquele imediatismo de realizar o lucro. Mas com uma visão totalmente equivocada, do ponto de vista do negócio. 

O que se vê normalmente, são esses garotos irem jogar no primeiro clube que aparece. Vão com a esperança de fazer seu nome e ganhar muito dinheiro. No início, este segundo objetivo aparece rapidamente. Mas logo iniciasse um processo de querer mais. É justo. Só que não é o que acontece com a maioria. Saíram de grandes clubes, onde certamente estariam na vitrine, muitas vezes para times completamente sem expressão, e veem suas carreiras minguarem pela completa falta de visibilidade que acaba acontecendo.

Uma vez mais, a autofagia entra em campo, para não deixar que grandes craques floresçam, tendo sua carreira podada precocemente.

O clube ganhou um dinheiro com a venda, o garoto realizou o sonho de ir jogar na Europa, mas quem ganhou mesmo nesta operação é o empresário, que como tal está de olho no lucro imediato.

Se não bastasse esta realidade, agora nos deparamos com a manipulação de fatos, que se tornaram jogo, nas casas de apostas disponíveis hoje, para todos aqueles que desejam apostar.

Meus amigos. Corrupção braba. Quadrilhas aliciando jogadores a serem expulsos, tomarem cartões, cometerem pênaltis, e, quem sabem, ganharem o jogo.

Lamentável.

Começamos a ver jogadores a serem banidos do esporte, suspensos por dois anos, sendo marcados por participarem deste esquema horrível descoberto em nosso futebol.

Convido a todos a olharem para as camisas das equipes que disputam a série A do brasileiro e a contarem, quantas equipes são patrocinadas por estas mesmas casas de apostas.

O que significa que, se estes patrocinadores pararem de investir nos clubes; com absoluta certeza a situação da grande maioria seria muitíssimo pior.

Eu fico meio com sensação da raposa tomando conta do galinheiro. Mas o que fazer.

Isso sem falar dos escândalos que nossa Confederação se viu envolvida nos últimos anos. Será que não existe uma relação amarga entre estes fatos e o Brasil viver seu maior jejum de títulos em Copas do Mundo. Senhores, tivemos dirigentes da CBF presos ou tolhidos de viajarem para fora do país.

Que vergonha!

Quando éramos crianças, no período de nossa formação, sempre ouvimos falar que o exemplo vem de cima. Não à toa, estamos passando por esta situação de manipulação.

Pensar o futebol brasileiro.

Tratasse de um exercício, que literalmente deveria ser feito sem camisas.

Os selecionados para tratar destes assuntos, ao menor sinal de disputar com um terceiro um benefício para seu time de coração, estará excluído, imediatamente.

Há de haver uma maneira que possamos primeiro controlar, depois acabar com estas manifestações autofágicas.

Estas questões só deram um tempo, na mídia, pois nos deparamos com um caso de racismo na Espanha que abriu um baú manifestações inimaginável. E o pior revelando a total incompetência de se administrar uma crise.

Para mim, o auge da falta de bom senso, foi uma manifestação feita por dois clubes que iriam se confrontar; um ser humano teve a grande ideia de, para apoiar nosso Vini Jr, quando as equipes divulgaram suas escalações, os nomes dos jogadores negros não apareciam.

Eu fiquei sem entender o porquê desta brincadeira de mau gosto. Seria o fato de que eles, por serem negros, não mereciam ter seus nomes divulgados? Ou por que negros não tem nomes? Ou sei lá o que o sujeito que inventou esta manifestação de apoio pensou. O pior, os dirigentes dos dois clubes apoiaram.

Para finalizar esta humilde opinião.

Precisamos recolocar as coisas no seu devido lugar.

Não dá mais para sairmos fazendo planos, não pensando no todo.

Esporte é um ecossistema apaixonante, mas precisa ser pensado de uma forma mais responsável, levando em consideração o todo.

Imagina aquele time que sempre ganha, todo ano é campeão. Depois de um tempo, aquela competição estará fadada a desaparecer.

O outro time, é só seu adversário, não é seu inimigo.

 É preciso criar-se um sistema que privilegie a todos.

Caso contrário, seremos vítima da FUTEFAGIA.