Eu trabalhava no extinto Banco Nacional e era responsável pelo marketing da seguradora. Estávamos atravessando um momento mágico, crescendo, gerando resultados, sendo agressivos em termos de inovação na mídia. Gostávamos muito de novidades, e nosso time de mídia estava sempre atrás de algo realmente diferente.
A mídia OOH – Out Of Home, se resumia a outdoors, relógios de rua, topos de prédios e painéis de estrada. Era difícil ter na mão, uma oportunidade diferente.
No-inicio de uma semana na qual teríamos um Fla x Flu decidindo o Campeonato Carioca, o que significava um público enorme no estádio, me liga o estagiário da área de mídia, Rodrigo, dizendo:
– Tenho uma proposta muito diferente, que é a cara da seguradora.
– Ok, Rodrigo. E do que se trata?
– O Maracanã está fazendo um teste com mensagens publicitárias no placar, e nos ofereceu a possibilidade de sermos os primeiros a utilizar essa mídia. O que você acha?
– Parece uma boa ideia.
– E além disso vamos poder colocar uns blimps no estádio.
– Vai custar uma baba de grana, não?
– Veja, Luiz, como é um teste o valor está bem acessível.
Não me lembro de quanto estávamos falando em dinheiro da época, mas era uma coisa que hoje deveria ficar entre 50 e 60 mil reais.
A resposta foi rápida, afinal era uma terça-feira, a ação seria no domingo e não tínhamos nada pronto. Mas Rodrigo topou o desafio. Começou a produzir o necessário para que tudo desse certo. Com a ação aprovada, na quinta-feira os blimps começaram a ser produzidos e as mensagens no placar, com a logo do Nacional vindo rolando feito uma bola, foram programadas por uma produtora.
No sábado, Rodrigo recebeu uma notícia desalentadora: seria necessário pagar a ação integralmente, no máximo até domingo pela manhã. Ele então me ligou.
– Luiz, não vai dar certo.
– Por quê? – perguntei.
– Temos que pagar hoje, sábado, no máximo amanhã pela manhã. E não tem como fazer isso acontecer.
Decepcionados, desligamos, com uma enorme dor de cotovelo por não aproveitar aquela oportunidade. Passou um tempo, e a velha máxima entrou em ação: “Temos mais sorte que juízo.” Liguei de volta e disse:
– Oi, tenho uma solução. Você já saiu do Maracanã?
– Estou na porta.
– Volta lá então.
– Mas por que, Luiz?
– Vai lá e dá um cheque seu, que cobrimos na segunda.
Naquela época, um cheque emitido no sábado só bateria na compensação na segunda à noite. Dessa forma teria o dia inteiro para depositar os fundos necessários para cobrir a conta de nosso estagiário. E assim foi feito. Uma certa discussão para aceitarem o cheque, que funcionaria na verdade como caução, mas deu certo.
No domingo pela manhã, lá foi nosso protagonista vistoriar os blimps e testar a marca no placar para ver se estava tudo certo. Blimps, ok. E o placar? Bem, a central que comandava o placar ficava na tribuna de honra do estádio. Todos sabem o calor que faz no Rio de Janeiro. Rodrigo vestia uma camisa polo e uma bermuda. Quando chegou para acessar a tribuna, a segurança veio e o parou:
– Onde o senhor pensa que vai?
– Vou até a sala de controle do placar, para entregar um material.
– Não pode entrar de bermuda.
– Mas só vou entregar este material!
– Desculpe, senhor, de bermuda não entra.
Não dava para Rodrigo ir em casa e trocar de roupa, não retornaria a tempo. Saindo do Maracanã, nosso estagiário brilhante e com toda a vontade de ver seu plano realizado viu uma pessoa circulando na calçada do estádio. Parecia um sem-teto procurando latinhas para vender. Ele, então parou e perguntou ao transeunte:
– Quanto quer pela sua calça?
– Não entendi. O que você deseja???
– Quanto você quer pela sua calça?
E sem deixar o sujeito responder, tirou cem reais da carteira e deu ao homem, que ficou tão feliz que deu a ele uma outra calça que não estava usando, até para não ficar pelado na rua.
Rodrigo vestiu a calça, que era muito menor do que o tamanho que usava, mas, com tudo apertadinho, foi à luta. Andando miudinho, pois o aperto não o deixava nem correr, nem desenvolver os passos mais rápido. Chegou à tribuna, entrou, passou o material e tudo acabou dando certo.
Mais tarde, quando contou essa parte da história, demos mais risada ainda. O cheque? Tranquilo. Todos estavam por dentro do que estava acontecendo e acabaram aplaudindo e reconhecendo o valor do nosso estagiário.
O maior problema mesmo, foi reembolsar os 100 reais da calça.
O que eu fiz?
Como tinha uma vaga na minha equipe, rapidamente tratei de contratá-lo. Não ia deixar escapar uma pessoa com essa determinação. Foi o primeiro emprego dele, que até hoje conta essa história quando me apresenta a alguém.
Ele era, e hoje cada vez mais, um cara muito criativo, porém, objetivo, que sabe tocar um projeto como poucos. Foi maravilhosa a experiência de tê-lo na equipe, e fico feliz por continuar a me relacionar com ele.
Foto: Depositphotos