Meus amigos. A diversidade de temas que o esporte me proporcionou nos últimos dias acabou me tornando um articulista indeciso sobre o que fazer, no sentido de tentar levar uma reflexão positiva aos leitores. Fomos todos expostos a opiniões contraditórias, na medida em que, se nos colocássemos na posição do criticado, certamente nosso comportamento seria completamente diferente daquilo que estávamos opinando.
Primeiro, se bem me lembro, foi a discussão sobre se o Luís Castro, técnico do líder do campeonato brasileiro, deveria ou não aceitar a proposta do clube asiático por conta do compromisso que tinha com o Botafogo do Rio de Janeiro. Que debate mais sem noção! Se imaginem na posição desse profissional, que passou poucas e boas no início de sua trajetória no clube da estrela solitária, quase perdendo o cargo, diante de uma proposta em que o bônus é simplesmente o fato de que, se ele cumprir os dois anos de contrato, a casa de 13 milhões de dólares passa para seu nome. Além desse pequeno mimo, ainda recebe salário. O que você faria? São profissionais. Claro que têm responsabilidade com o que acertaram, respeito pelos jogadores e pelos torcedores, mas seria uma sandice recusar. Resolveu sua vida pelos próximos dois anos.
Bem-menos impressionante do que esse caso, surgiu, dias depois, o técnico interino da seleção canarinho. Não quero debater se o time do Brasil deve ou não ter um técnico interino. A ideia é, mais uma vez, tentar entender a postura dos profissionais de imprensa, por exemplo, que se mostraram absolutamente contrários, apontando os problemas que isso acarretaria para o clube e para a CBF, e afirmando que o profissional convidado deveria recusar, em nome de uma ética que não existe nem nunca existiu nesse meio, salvo algumas poucas exceções.
Percebam: com todo respeito ao profissional, o portfolio de títulos que o Fernando Diniz tem não o credencia para o cargo. Entretanto, houve outros que se deram bem sem terem construído uma reputação de títulos vencidos. Este pelo menos tem nas mãos uma equipe muito diferente do que estamos acostumados a ver, um time em que todos correm e participam.
Para o tricolor das Laranjeiras, é uma oportunidade de ouro ter o técnico da seleção brasileira dirigindo seu time. Receberam um dinheiro, além de passar a ter muito mais visibilidade do que tinham até então. E, amigos, isso é o mais importante, pois é a partir daí que aparecem mais oportunidades e, por consequência, mais verbas de propaganda, aumentando o caixa do clube. Em ambos os episódios, apesar de envolver exposição de marca, aumento da visibilidade, resultados a serem alcançados, nada se ouviu sobre as marcas que patrocinam as agremiações.
Caminhando nesse tema e deixando o assunto mais complexo. Sábado, 8 de julho, tivemos um dos jogos mais esperados deste campeonato de 2023. Afinal, as duas equipes envolvidas, Flamengo e Palmeiras, nos últimos anos têm proporcionado as disputas mais interessantes, além, é claro, de serem protagonistas das decisões dos mais importantes campeonatos. Um choque de representantes da indústria financeira.
Começa o jogo, que sofre duas paralisações devido a lançamento de gás de pimenta na parte externa do estádio. Imaginem, caros leitores, o cheiro realmente não poderia ser bom. Um apressadinho diria assim: “Mas, Luiz, o gás de pimenta não está ligado à confusão antes do início da partida?” Então, que fatos tão graves estavam acontecendo, que fizeram a polícia utilizar esse armamento do lado externo de um estádio, onde a partida estava na metade do primeiro tempo. Invasão? Briga?
O mais importante de tudo: ao final dessa noite sinistra, havia uma vítima fatal.
Para mim não importa para quem ela torcia, como também não importa para quem torcia o ser humano que atirou a garrafa de vidro, como também a esta altura não importa quem estava jogando. O trágico é que uma pessoa morreu, vítima de uma guerra de torcidas. Hoje já se sabe que algumas garrafas de vidro voaram de um lado para o outro. Uma cena de barbárie.
O que mais me irrita, a partir disso, são as providências espetaculares que são colocadas para “defender” aqueles que frequentam os estádios:
1 Ter um contingente maior de policiais.
2 Não vender garrafas de vidro.
3 Cuidar dos ambulantes.
4 Aumentar o tapume, etc.
Medidas óbvias, que deveriam ser o bê-á-bá da segurança de espetáculos dessa envergadura, mas que simplesmente não foram postas em prática. E assim, mais uma vez, o dia seguinte é de luto.
Se eu estivesse à frente dos dois patrocinadores dessas equipes, sugeriria que, na próxima partida, o Flamengo jogasse de verde e o Palmeiras, de vermelho e preto. Nada de jogar de preto. O luto é a família e os amigos que estão vivendo. O mais importante é fazer uma demonstração de que o outro time não é inimigo. É adversário.
Vejam como o Dicionário Houaiss define “adversário” e “rival”:
- adversário: “que ou o que combate (contra outrem); antagonista, contendor; que se opõe; antagonista, opositor; competidor, concorrente, rival”.
- rival: “que ou aquele que disputa com outro o amor de uma mesma pessoa; que ou aquele que rivaliza, que aspira às mesmas vantagens e oposições que outrem; êmulo, competidor, concorrente; que ou aquele que se equivale a outro em merecimento”.
O mundo do esporte precisa fazer algo que seja significativo, começando pelos patrocinadores, pois estes têm o poder de influenciar e criar ideias disruptivas que mexam com a cabeça dos componentes que transitam nesse universo. Medidas dessa natureza associadas a punições, tipo: quando um atleta machuca o outro, enquanto este estiver fora de combate, quem causou a contusão também estará, acredito que podem fazer diferença.
É fundamental que todos entendam a importância da figura do ADVERSÁRIO. Se ele não existir, não tem competição. A rivalidade entre adversários só existe para tornar os espetáculos cada vez melhores. Precisamos entender essa equação. Vencer é um verbo que só existirá enquanto houver um vencido, vivo. Morto não adianta. Brigas não interessam, nem deveriam ter o foco que damos. É ridículo olhar para o seu adversário e querer que ele desapareça, pois, se isso acontecer, não haverá mais vitória. Não haverá mais competição, diversão, histórias para contar.
Não vejo outro caminho. Não se trata de falar em educar a população, criar mais pontos de controle, revistas, proibir garrafas de vidro, instalar um tapume maior.
Peço aqui formal e publicamente, licença ao Comitê Olímpico Internacional, para colocar abaixo um vídeo maravilhoso que trata deste tema: Adversários. O filme faz parte de uma campanha chamada Celebrate Humanity.