Este talvez seja o título mais complicado que eu escolhi para começar um artigo. Não vou começar pela imbecilidade maior, que está inserida no rótulo criado, provavelmente por um boçal, para se apontar para aqueles que já têm crachá para estacionar o carro nas vagas mais perto da entrada do shopping, ou permissão para passar na frente na fila do avião. Vamos lá, então.
Primeiramente, quem gosta de desafio é repentista. Eles são capazes de ficar horas e horas na peleja dos versos e dos acordes dissonantes, somente pela simples motivação de tentar determinar quem vence ou é vencido. Um jogo interessante, onde se observa muita criatividade em seu mais puro estado. Já o empreender, para mim, é o grande mistério dos dias de hoje.
Em-minha vida, meus empreendimentos foram todos amadores, na maior amplitude que esse termo possa conter. Amador vem daquele que ama. Digo isso pois passo a vida me apaixonando por gente, eventos, temas, hobbies, músicas, bebidas, receitas, cidades. Assim apareceram na minha vida a minha família e um monte de gente que ajudei a formar profissionalmente, e hoje me orgulho da posição que alcançaram por mérito de cada um deles.
A Rio 2016 foi um sonho realizado, principalmente em Londres. A visita ao Cirque du Soleil em Montreal, numa viagem de incentivo perfeita, foi de tirar o fôlego. A coleção de carrinhos de autorama, maravilhosa e de dar inveja. O time de botão, único esporte em que me tornei campeão várias vezes, ainda existe. A coleção inteira dos Beatles em vinil, wow! Uma dose de Lagavulin single malt, sem gelo, esse faz tempo. Meu projeto “sem nome” envolvendo culinária e longevidade, será que consigo realizar um dia?
Na verdade, empreender não é um mistério. Talvez seja um amor que me faz sofrer mais que os outros. E não estou habituado a viver esse sentimento. Dificilmente consigo fazer alguma coisa na minha rotina pela qual eu não esteja apaixonado, tentando me divertir com as situações, muitas vezes complexas e perigosas. Mas empreender me maltrata a alma, pois, para que eu me envolva mesmo, preciso gerar relacionamento, sonhos, pensamentos, devaneios.
E aí pego um aqui, outro ali, e aquele lampejo, aquela faísca se torna algo valioso, apaixonante, absolutamente único, ao qual vou me dedicar de corpo e alma, dia e noite, literalmente. No final dessa estrada está aquele momento de apresentar, mostrar, vender, o que no fundo é a própria razão de ser do empreender. Passar da porta, este é o mistério da fé. Fé de que vamos conseguir, vamos desenvolver, vamos poder, enfim, colocar de pé o que criamos e como imaginamos.
Como sempre fui péssimo aluno, é difícil para mim aprender que a vida tem seus rumos e caminhos. E nesse aspecto empreender me lembra uma frase de um chefe meu que constatou como liderar, comandar, é muito solitário, e é preciso exercício para se aprender a tratar essa solidão, no dia a dia e na maior parte do tempo.
Ah, Luiz, mas aí é uma questão de autoestima baixa, de necessidade de reconhecimento. Rsrsrs. E quem disse que não é? Mas a questão aqui é como superar esses pensamentos, com todos os vícios, manias e crenças adquiridas ao longo de uma vida que foi dedicada em grande parte a empresas, de marcas poderosas. Hoje, quem me conhece, olha para mim e ainda pensa no passado, imagina em como se aproximar e criar uma situação qualquer, principalmente em relação à última empresa onde exerci minhas atividades. Aqueles que não me conhecem acham tudo fantástico, uma história sensacional, uma experiência inestimável, mas talvez o momento tenha passado, ou não queiram experimentar um relacionamento diferente dos que estão acostumados. Impressionante.
Aqui, quero dar uma freada de arrumação. Não estou reclamando. Não estou deprimido nem pedindo socorro. Não estou sem fazer nada. Continuo a ter muitas ideias, algumas bem boas. O que eu quero é provocar aqueles que, hoje, estão com o pensamento lá no futuro, mas ainda em alta performance no presente. Tirem um tempo, reflitam, planejem e principalmente se preparem. Construam um plano B, enquanto o A ainda pode financiar. Eu não fiz isso. E se tivesse me dado a chance de fazê-lo, eu estaria mais preparado para esta realidade de empreender, onde é você, com você e mais ninguém. Prestem bem atenção a este conceito. Suas decisões te impulsionam o tempo todo.
Tenho aprendido muito. Aquela coisa do eterno aprendiz não é só um verso bonito ou o título de um reality show sem sentido. É verdadeiro. E é muito duro viver e conviver com o aprendizado, por exemplo, da resiliência, que neste caso está longe de ser uma competência desejada, mas sim uma atitude a ser tomada, todos os dias, todas as semanas, todo o tempo. Sem ela, desistimos no primeiro e-mail não respondido pelo cara em quem você apostaria todas as suas fichas que seria fácil te atender. É nesse sentido que falo. Perceba o tanto de aprendizado que existe nesta situação:
- Será que sua avaliação estava correta?
- Será que sua abordagem foi a melhor?
- Você realmente acredita que poderia simplesmente enviar um e-mail e esse fato se tornaria uma oportunidade?
- Quando você viveu essa situação na posição inversa, como se comportou? O que aprendeu?
- Será que essa pessoa que você procurou merecia a confiança que você depositou nela?
- Onde você acha que errou?
- O que aprendeu para fazer diferente na próxima?
Por isso a resiliência é um bem tão precioso. Esta situação vai acontecer, pode ter certeza. E se preparar, ter autoconhecimento, saber tocar a vida e encará-la como um livro aberto de inúmeras lições é muito importante. Eu poderia ter me preparado melhor? Talvez. Mas certamente não seria tão divertido, tão cheio de peripécias e aventuras, onde muitas vezes me vejo em certas situações, simples, é verdade, mas que me remetem ao início da minha vida profissional, quando levava marmita para o almoço, exatamente como aconteceu esta semana.
Mas isso são outras histórias.
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