Lá vou eu com minhas crenças de que o esporte pode vir a ser uma indústria séria e capaz de proporcionar espetáculos fantásticos, entretendo o público apaixonado, que ali, naquele momento, experimenta sentimentos múltiplos, que variam em segundos da tristeza ao êxtase.
Peço perdão aos amadores, mas essa é a palavra de nossa língua para expressar a falta de profissionalismo. Não fico feliz ao utilizá-la, pois bem sei que amador vem de amor, daquele que faz por amor.
Para começar, peço que esqueçam as cenas vistas no último dia 21 de novembro, no Maracanã, e se transportem no tempo, para uma possível cena em que um dos diretores de uma das inúmeras instituições e entidades que regem o futebol “dá uma olhada” na venda de ingressos para o maior clássico de futebol do continente.
Brasil x Argentina é um jogo esperado por ambas as torcidas e sempre tem um sabor especial para quem vence. A rivalidade é enorme. E por isso essa partida é sempre cercada de muita expectativa e grande emoção.
Voltando à mesa que tem por obrigação planejar, e planejar direito, como será a venda de ingressos. Então, onde deveria haver um pensamento, uma premissa, um raciocínio, o que encontramos é descaso. Resultado: torcedores argentinos espalhados pelo estádio, misturados aos brasileiros; conflito com data e hora marcada para acontecer.
Quem parou para ver o espetáculo teve que assistir à troca de golpes de toda natureza entre torcedores e policiais, e a um séquito de engravatados, todos cheios de si, desfilando no gramado para “resolver” o problema, causado provavelmente por um deles, que não soube ou não quis pensar sobre o problema.
A entrevista mais sensível que vi foi a do coronel da PM, responsável pela segurança do estádio, manifestando toda a sua decepção por não conseguir continuar com seu índice de zero conflito entre torcidas no estádio do Maracanã no ano de 2023. A sabedoria do policial apontou para os organizadores do espetáculo, que não previram a possibilidade de haver briga de torcidas e venderam os ingressos sem nenhuma previsão de separação. Brasileiros e argentinos, sempre uma mistura explosiva, muito fácil de prever.
Mudando de esporte, mas continuando com o tema, luta. De domingo para segunda, em mais uma noite de insônia zapeando na TV, parei para ver o KSW, uma das muitas variações de luta livre. Não sou um dos fãs, mas me chamou muita atenção a quantidade de marcas envolvidas em cada tomada de cena.
O KSW tem todo um aparato de apresentação dos lutadores com uma enorme quantidade de efeitos visuais de todos os tipos, de fazer inveja aos maiores espetáculos da Broadway. Luzes de todas as espécies coloriam o lugar onde o evento se realizava. Os lutadores surgem num palco e vêm andando até a arena redonda, como nos bons tempos do império romano.
Luzes, cores, sons, efeitos visuais, e aí me surge um dos lutadores, todo adesivado. Não é pesadelo. Eu sei o que vi. O cara tinha, pelo menos, cinco adesivos colados no corpo, anunciando diversos produtos. Frente e verso. Em cores. De alto a baixo. Fico tentando imaginar a argumentação de vendas e a valoração desses espaços no corpo do atleta. Como alguém conseguiu convencer outro alguém a pagar a colocação de sua marca ali, naquele espaço?
Quando participava dos comitês de marketing das confederações dos esportes, representando a empresa onde trabalhava, um ponto que dificilmente discutíamos era a imagem que transmitíamos aos nossos telespectadores através das tomadas de câmera. É fato que tínhamos como benchmark negativo, se não me engano, as transmissões do voleibol italiano, em que a quadra era um grande outdoor, cheia de adesivos, onde dificilmente conseguíamos identificar o anunciante.
Voltando ao KSW. Pois bem. Nem quero imaginar o incômodo que aquilo deveria causar no atleta adesivado. À medida que o combate ia acontecendo, os lutadores trocando golpes, rolando no chão, o suor escorrendo, aquelas peças de merchandising sem sentido iam se desfazendo. O que não identificávamos claramente, agora era impossível qualquer lembrança de marca.
Parabéns a quem vendeu o espaço. Aliás, em termos de venda, o pessoal comercial vende bem. Na arena, tínhamos mais de dez marcas anunciadas; no uniforme do árbitro, pelo menos uma quatro; nos biquínis das moças que anunciam os rounds, pelo menos uma. Não sei dizer se estão cheios da grana ou se é tudo permuta. Mas aqueles que são responsáveis pela qualidade de imagem que vai ao ar devem estar preocupados. Um aparato enorme para fazer do evento um espetáculo para o telespectador e, no final do dia, o que se vê é uma colcha de retalhos, com anunciantes para todos os lados, disputando cada centímetro da tela? Deve ser frustrante.
Voltando ao ponto do início, é muita falta de profissionalismo, visão, preparo, planejamento, ou como quiserem descrever. E me parece que a linha que permeia esses dois fatos — e tantos outros, por que não? — é a incapacidade geral de proporcionar um espetáculo bem-feito. Mais do que nunca, esporte é entretenimento. E para isso precisa de uma embalagem que tenha atrativos. Quem patrocina, ou simplesmente põe sua marca no esporte, precisa de retorno, mas não a qualquer custo, a qualquer preço.
Minha bandeira é o planejamento; aquele que entende e atende às necessidades de clubes e atletas, patrocinadores, veículos de comunicação e entidades. Nem mais nem menos para nenhum deles. A soma desses interesses, construindo um espetáculo de primeira linha, trará resultado positivo para todos.
Vamos ter amadores de coração por todos os lados