Entre as datas comemorativas brasileiras está o dia 23 de agosto como o Dia da Injustiça. Eu disse, entre as datas comemorativas, por isso, temos milhares de motivos para comemorar.
Quem já não foi injustiçado? Se você já foi, comemore, a festa é sua. Com um pouco de reflexão, sem querer aviltar, dá para deduzir que se trata de uma data egoísta que Brasília tentou criar só para si.
Alias, egoísmo e injustiça caminham juntos. Imagine nossos excelentíssimos parlamentares reunidos no planalto em festa regada a wiski escocês e champanhe francês. Só para rimar, tudo com o dinheiro de vocês.
Cheios-de pompa e com as pernas cruzadas, em sofás especiais com legítimo couro de contribuinte. Ironicamente, todos comentando sobre quem teria cometido mais injustiças.
“Meu primeiro ato foi nepotizar – empreguei toda a minha família, parentes, amigos e até minha sogra” comenta um novato.
“isso é o básico, todos fazem” retrucam os companheiros gargalhando. Para melhor descontração, na festa poderia ser criada corrida com dinheiro na cueca. Quem derrubasse menos cédulas ganharia o troféu de Gran Injusto de Ouro.
Haveria também uma expo-injustiça. Uma galeria paralela onde estariam expostas as grandes falcatruas, escândalos e corrupções de grande relevância.
O contribuinte teria acesso a essa galeria para rir e se divertir das situações irônicas. “Ah. Ah. Ah… estou pagando para ser lesado… mas pelo menos vivo no maior circo a céu aberto do planeta – o circo Brasil”
Possivelmente seria um dos comentários. Recortes de revistas e jornais estariam em expositores de cor preta, sobre os constantes escândalos que não mazelam o país, apenas trazem o prazer das artes cênicas no picadeiro do Congresso.
Entre os membros do conselho de ética do senado o comentário seria se alguém conhecia essa nova sigla. Essa tal de é.t.i.c.a. O que significaria isso? Os atos secretos do ex-presidente Sarney estariam na berlinda por compor o “agenda-setting” nacional.
O senador Paulo Duque (PMDB), no Rio, presidente do Conselho de Ética do Senado, comemoraria por se considerar o mais intrépido humorista.
Foi ele que arquivou, com apoio dos colegas, as 11 denúncias e representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
O presidente Lula poderia permanecer em uma poltrona balançando em cima do muro, para ficar de olho na imprensa e para escolher de que lado ficaria na hora do pega.
A grande e justa comemoração giraria em torno do maravilhoso e exemplar corporativismo político que transforma nossos parlamentares em homens blindados contra qualquer tentativa de punição.
Seria comemorada a intocabilidade sustentada pela imunidade parlamentar que oferece foro privilegiado contra o que alguns mal amados insistem em chamar de crimes políticos.
O eleitor já pode com orgulho se colocar um nariz de palhaço, participar e rir a vontade. Com orgulho porque desde o início deste ano de 2009 até o mês de agosto, já foram descobertos e catalogados 87 atos imaculados pelos nossos congressistas.
Atos teatrais homéricos que comparados, fazem de Ronald Biggs, conhecido como “o ladrão do século’, um simples e neófito trombadinha.