Você que trabalha com criação ou planejamento. Para onde você viaja para buscar novas referências? Londres, Nova York? Quase todo mundo que conheço vai para os mesmos lugares em busca de novidades. Novidades?
Outro dia, navegando pelo Google Earth, lembrei de meu avô, já falecido. Fiquei imaginando como ele, que gostava tanto de Atlas e de Geografia, iria adorar navegar por este site para poder ver em detalhes cada estrada, rua ou fazenda.
Sempre conversei muito com meu avô. Logo, pensei como ele iria curtir a internet, o Google, o Wikipedia. Era tão curioso e interessado em assuntos diversos que sempre consultava sua estante gigante em sua sala de leitura com sua Enciclopédia Britânica, que era a mais completa e poucos tinham em casa.
Resolvi ir mais a fundo neste raciocínio de “que site substituiu o que”, sem a pretensão de formular teorias, mas apenas para brincar de fazer correlações.
O Twitter, por exemplo, pode ser a versão moderna da janela em que as mulheres do interior observavam o que acontecia, sempre querendo ser as primeiras a saber e as primeiras a contar a novidade, como citou Sérgio Gordilho, em uma entrevista recente.
Meu avô era de Poços de Caldas e minha mãe conta que se lembra do meu bisavô, pai dele, na fazenda, aguardando ansiosamente ao lado de seu rádio pela “Hora do Brasil” para ficar por dentro do que acontecia no País. Seria o Twitter a versão moderna da Hora do Brasil? Minha mãe se lembra também de ficar ao lado do meu bisavô, enquanto ele passava uma manhã inteira escrevendo uma carta a um parente, com sua caneta tinteiro.
Podemos dizer que o Twitter também faz o papel da versão moderna, em pedaços e em tempo real das cartas e cartões postais – “está chovendo na praia.” “Estou num restaurante delicioso aqui em…”
Todo esse raciocínio, para concluir que estamos com ferramentas modernas que atendem os mesmos desejos e motivações de sempre. A busca da informação que era feita pela Hora do Brasil ou pela janela, agora é feita pelo Twitter. A busca de conhecimento que era feita por Atlas e enciclopédias, agora é feita por Google e Wikipedia. A vontade de compartilhar viagens e o que acontece na sua vida com amigos, que antes era feita por cartas e postais, agora é feita pelas redes sociais.
Parece óbvio. Mas não é. Como existe toda uma aura tecnológica em torno destes sites, muitas vezes, fica difícil enxergar que tudo isso é um novo formato dos mesmos hábitos e comportamentos dos nossos avôs. Se relacionar, buscar informação, contar aos amigos sobre uma viagem.
Vejo muitos jovens planejadores e criativos que estão conectados a todos os blogs internacionais de tendências, mas que têm dificuldade de enxergar o simples, aquilo que é essencial no comportamento das pessoas e que vai gerar insights relevantes para a comunicação das marcas. Eles têm dificuldade de enxergar o mais importante: como as pessoas se relacionam com as outras pessoas e como as pessoas se relacionam com as marcas.
Gosto muito de visitar meus tios em Poços de Caldas e conversar sobre como era a vida deles antigamente. É incrível como a essência dos comportamentos não mudou e como podemos encontrar formas diferentes de entender comportamentos ouvindo essas histórias.
Que tal se, para variar, na sua próxima viagem você vá visitar sua família no Interior (todo mundo tem uma família no interior) e conversar com seus tios mais velhos como eles consumiam os produtos e como eles se relacionavam com as outras pessoas. Enfim, como eram suas vidas.
Grandes chances de você voltar com insights mais verdadeiros sobre hábitos e atitudes em relação a marcas, do que em seu passeio pela última lojinha aberta no Meatpacking District de Nova York. A não ser que você queira ser o primeiro a dizer pra todos na agência que foi o primeiro a conhecer essa loja, recém inaugurada, que ninguém conhecia. Repetindo aquele velho comportamento das suas tias que ficavam na janela.
PS: nada contra ir a Londres ou Nova York a passeio ou para fazer compras, mas se você quiser buscar um olhar diferente, deve buscar inspiração em locais diferentes.