Experiência de Marca

O produto Brasil e os megaeventos - Alexis Pagliarini

Se as autoridades encarassem isso como um <em>job</em> de uma boa agência de marketing promocional, garanto que teríamos um bom resultado.

Alexis Pagliarini*

Um dos principais legados de megaeventos, do tipo Copa do Mundo de Futebol ou Olimpíadas, é a projeção da imagem do país e das cidades-sede. Impossível mensurar o custo de uma campanha convencional de comunicação que garantisse a mesma visibilidade e o conhecimento que esses eventos geram. Daí a grande preocupação de brasileiros, que como eu, perante o andar da carruagem, receiam um efeito reverso do desejado.

O receio se dá ao presenciarmos a angustiante demora por importantes decisões relacionadas à infraestrutura e a preparação geral das cidades-sede para os eventos. Sei que, no fim, conseguiremos as condições mínimas necessárias para viabilizar os eventos. O problema é a forma com a qual isso ocorrerá.

Ao invés de “puxadinhos”  e “quebra-galhos”, acho que deveríamos planejar esse momento como uma oportunidade única de mostrar ao mundo que somos mais do que um País bonito, hospitaleiro, de gente alegre e simpática. Seria a oportunidade de demonstrar que somos, sim, um País que merece toda a fama de “bola da vez”.

Tive a oportunidade de estar em três países nos últimos meses, sempre representando o Brasil junto a um grupo de representantes de outros países. Assim foi na China, nos EUA (duas vezes) e Uruguai. Ao nos apresentarmos como representantes do Brasil, a primeira reação dos interlocutores é sempre a mesma: abrem-se sorrisos e todos expressam grande curiosidade e interesse pelo nosso País.

Destaco o “sorriso”, que representa uma percepção simpática e amigável do Brasil. Há um grande interesse também pela China e pela Índia, mas notamos uma flagrante diferença na reação dos interlocutores quando se trata do nosso País. Essa é nossa imagem.

Somos percebidos como um povo alegre, bem humorado, musical, boa gente. E agora com um ingrediente a mais, que é o boom econômico brasileiro. Ficamos ainda mais sexies… Bacana. Infla nosso ego. Mas não nos enganemos. Sabemos que a distância esconde algumas realidades que trazem mais preocupações do que regozijo. E os megaeventos podem deflagrar toda essa inconsistência entre o imaginado e o real.

Fico preocupado já com o nosso cartão de visita, os aeroportos. Ao invés de simplesmente correr para ter condições de atender minimamente os nossos visitantes, à custa de quebra-galhos, acho que deveríamos encará-los como a primeira oportunidade de provocar um “wow!”.

É triste perceber que mesmo a estrutura técnica, funcional, está sob risco. Esperava que tivéssemos a visão de surpreender o público-alvo do produto Brasil. Imaginava um aeroporto em que seria encontrado não só o conforto e a eficiência da operação (uma obrigação), mas um ambiente trabalhado para corroborar toda a imagem de beleza, alegria e simpatia do nosso País.

Se as autoridades encarassem isso como um job de uma boa agência de marketing promocional, garanto que teríamos um bom resultado. Você pode estar pensando que sou utópico, que estou pensando apenas numa bonita embalagem para um produto ruim. Não! É claro que não penso simplesmente em falsear uma realidade com tapumes bonitinhos. Penso que a estrutura básica é uma necessidade, mas que não deve ser a única.

É preciso ser bonito. É preciso ser impactante. É preciso provocar boa impressão, logo no primeiro contato, e continuar demonstrando eficiência e coerência em outras situações.

Um exemplo é Londres, que se prepara para receber turistas para os Jogos Olímpicos de 2012. Quem conhece o projeto daquela cidade, principalmente os aspectos relacionados à sustentabilidade e ao legado, fica com muita inveja.

Aprendi na comunicação e marketing que podemos até vender por algum tempo um produto bonitinho. Mas não todo o tempo, se ele não entregar o que promete. O Brasil é mais que um produto bacaninha. Temos realmente um crescimento econômico notável, estabilidade política, clima gentil e povo simpático. Mas temos também deficiências que começam a ser descobertas pelos estrangeiros que aqui vêm para pesquisar negócios pelo nosso País. E que poderão ser escancaradas por ocasião dos megaeventos programados.

Ainda dá tempo de cuidar do produto Brasil e evitar que isso aconteça.

Alexis Pagliarini.