Experiência de Marca

Enredos patrocinados: ajudam ou atrapalham?

Os desfiles das escolas de samba, a cada ano que passa, ficam mais luxuosos, e, para que isso seja possível, as agremiações passaram a contar com o patrocínio de grandes marcas, para que, dessa forma, mantenham o seu bom desempenho na avenida.

Escola de samba é uma agremiação de cunho popular que se caracteriza pelo canto e dança do samba, quase sempre com intuito competitivo.

Originário da cidade do Rio de Janeiro, elas se apresentam em espetáculos públicos, em forma de cortejo, onde representam um enredo, ao som de um samba-enredo, acompanhado por uma bateria; seus componentes, usam fantasias alusivas ao tema proposto, sendo que a maioria destes desfila a pé e uma minoria desfila sobre “carros”, onde também são colocadas esculturas de papel machê, além de outros adereços.

Desfiles e escolas de samba multiplicam-se pelo país neste período. Levantamento exclusivo realizado pelo Promoview neste carnaval chegou a 850 em mais de 200 cidades.
As mais conhecidas são as da cidade do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana, que desfilam no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, e as de São Paulo, que desfilam no Sambódromo paulistano.

Essas escolas realizam um espetáculo considerado suntuoso, que atrai turistas de várias partes do mundo e atende interesses estratégicos das emissoras de TV.

Vila Isabel vence Carnaval 2013 patrocinada pela Basf
Patrocinada pela Basf, com aporte estimado em R$ 6 milhões Vila Isabel venceu Carnaval 2013 no Rio de Janeiro

 

Patrocínios

Por terem se tornado um espetáculo televisivo, os desfiles ficam mais luxuosos  a cada ano que passa, e, para que isso seja possível, as agremiações passaram a contar com o patrocínio de grandes marcas, para que, dessa forma, mantenham o seu bom desempenho na avenida.

No entanto, o que tem ocorrido, é que muitas escolas estão fugindo da sua tradição para manter as determinações dos patrocinadores.

Segundo a Liga Nacional das Escolas de Samba, o patrocínio não pode vir ‘escancarado’, no samba-enredo. Dessa forma, cabe aos carnavalescos usarem a imaginação para agradar ambos os lados.

Em declaração ao Jornal do Brasil, integrantes da Beija-Flor de Nilópolis consideram que o patrocínio da ABCCMangalarga Marchador  veio a calhar.
Quézia Sanches, que sai no terceiro carro da Beija-Flor, é moradora de Nilópolis e diz que pela primeira vez foi convidada pela escola para desfilar na Sapucaí. “Para mim, um patrocínio como esse é totalmente favorável, porque me dá a oportunidade de representar a minha escola. Além do mais, é por essas e outras que a Beija-Flor não é uma escola e sim uma família”, declarou ela.

O diretor da ala Signos, da Beija-Flor, José Lazarin, explica que é tradição da escola trazer luxo e servir a comunidade no Carnaval. “Esta é uma preocupação que a gente tem. A Beija-Flor é sempre técnica e é trabalho nosso fornecer as roupas para  que todos participem”, disse José.

O cantor Diogo Nogueira critica o que chama de “industrialização” do Carnaval. Segundo ele, as escolas passaram a depender muito de empresas e patrocínios, e deixaram de lado as homenagens aos grandes nomes do samba.

Diogo Nogueira.

“Hoje em dia, as escolas ficam na dependência de conseguir patrocínio de grandes empresas para apresentar um grande Carnaval, e não dependem mais só delas. Uma fala de raça equina, outra da uva, mas falta emoção, falta pé no chão”, disse Nogueira, citando o enredo sobre o cavalo Manga Larga da Beija-Flor, do Rio de Janeiro.

Comissão de frente da escola de samba Beija-Flor.

O cantor também criticou a Mangueira, que abriu mão de homenagear Jamelão, no centenário do intérprete, para fazer um enredo patrocinado de Cuiabá. “O Jamelão foi uma grande ausência (no Grupo Especial, já que o cantor foi enredo na Jacarezinho, na Série A). A Mangueira deveria, sim, homenagear o Jamelão. Ele foi um dos que mais defendeu a escola no mundo”, disparou.

Nogueira disse ainda que prefere a emoção de um enredo sobre Madureira, feito pela Portela este ano, que a frieza de um tema patrocinado. “A Portela faz um Carnaval modesto, mas com coração e garra”, concluiu.

Comissão de frente da Portela no Carnaval 2013.

A presidente da Petrobras, Graça Foster, de 59 anos, que desfilou anônima no Carnaval do Rio no último domingo na União da Ilha, como faz há mais de 20 anos saiu em defesa de Diogo Nogueira. Segunda a coluna de Anselmo Gois a executiva declarou que “O desfile da Mangueira estava maravilhoso, mas escolher Cuiabá como tema foi um horror.”

Segundo Anselmo, Graça, naturalmente, não é contra o patrocínio no samba: “Mas nada de patrocinador escolher o enredo. É por isso que surgem estes temas feios como Coreia do Sul ou Cuiabá. Os patrocinadores têm que dar total liberdade de criação”.

Rio de Janeiro

No Grupo Especial do Rio de Janeiro, das 12 agremiações apenas duas: União da Ilha e Portela não tiveram enredos assumidamente patrocinados. Os sambistas mais tradicionais ainda torcem o nariz para escolas que conseguem apoio.

Especialistas e dirigentes de agremiações, no entanto, são unânimes: no modelo atual de desfile, a escola que não o obtém sofre dificuldades para executar seu projeto.

“Hoje, colocar o desfile na rua sem patrocínio é complicado. O Carnaval é cada vez mais grandioso, e o custo é elevado. Por isso, mesmo quando não existe um enredo teoricamente patrocinado, as escolas buscam o apoio de empresas”, afirma Márcio André de Souza, diretor de Carnaval da União da Ilha do Governador.

A União da Ilha fez uma homenagem a Vinicius de Moraes.

O especialista em Economia da Cultura Luiz Carlos Prestes Filho, autor do estudo “Cadeia produtiva da economia do carnaval”, explica que essa visão crítica em relação à captação de patrocínio pelas escolas de samba vai contra a própria história do espetáculo.

“O primeiro desfile em 1932 foi patrocinado pelo jornal “Mundo Sportivo“. Todas as grandes empresas da área de cultura fazem captação de patrocínio para seus eventos. Por que no caso das escolas de samba – não só as do Grupo Especial como as que compõem os grupos A, B, C, D e E, além das mirins – não podem fazer projetos que captem recursos? Quem critica os enredos patrocinados deveria acenar com uma outra solução”, declara Prestes Filho.

Na avenida, o patrocínio já rendeu grandes espetáculos e desfiles nem tão bem sucedidos assim. Uma coisa é certa, a captação de recursos não garante campeonato.

Desde a inauguração do Sambódromo, em 1984, apenas oito vezes o enredo campeão foi patrocinado. A Imperatriz Leopoldinense foi a primeira a conseguir a proeza: faturou o bicampeonato em 1995 com o enredo “Mais vale um jegue que me carregue que um camelo que me derrube… lá no Ceará”, desenvolvido pela carnavalesca Rosa Magalhães, com patrocínio do Estado nordestino.^

Polêmicas à parte, o fato é que, realmente, a cada ano, com patrocínio ou não, as escolas levam para a avenida espetáculos grandiosos, de encher os olhos de todo o mundo.

E você, leitor do Promoview. O que acha dessa polêmica?