Palco de quatro jogos da Copa do Mundo, a Arena da Amazônia está praticamente descartada do Campeonato Amazonense. A exceção seria o uso em uma possível final, mas a própria Federação Amazonense de Futebol (FAF) não se mostra otimista com a possibilidade. Com isso, os 15 jogos antes destinados ao estádio serão remanejados para outros locais.
A FAF ainda não se manifesta oficialmente sobre a decisão. Entretanto, tudo indica que os clubes amazonenses não têm condições financeiras para arcar com as exigências da entidade em dia de jogos na Arena.
A Associação dos Clubes Profissionais do Amazonas estuda uma forma de conseguir se reunir com o governador do Estado, José Melo, para alterar até mesmo a portaria assinada pelos representantes do Estado após a inauguração do estádio.
Foto: Rodrigo Faber.
“A Arena também foi feita para o futebol amazonense, para os clubes amazonenses, e eu não acho justo que ela seja utilizada somente por clubes de fora do Amazonas. Por isso estamos buscando mudar essa ideia com os jogos no Estadual.”, declarou Ivan Guimarães, diretor da Federação Amazonense de Futebol (FAF), há três semanas.
No dia 20 de fevereiro, porém, o discurso do cartola mudou, e Guimarães praticamente descartou o uso do estádio no Estadual 2015.
“É muito difícil que a Arena seja usada nos outros jogos. Teremos que fazer um remanejamento das partidas. A direção do Nacional, que seria mandante no primeiro jogo (contra o Rio Negro), entrou em contato com a gente e disse que não havia condições. O público em jogos do Campeonato Amazonense atinge, por vezes, uma média de 1 mil ou 1,5 mil torcedores, o que é inviável financeiramente para os clubes. A final não foi descartada pois, dependendo das equipes, pode existir um apelo popular e o público pode ser bom.”, emendou, referindo-se a renda da partida.
Mudança da Portaria e Risco de Elefante Branco
O choque de realidade aconteceu na noite de 19 de fevereiro. O primeiro jogo a ser realizado na Arena da Amazônia seria o clássico entre Nacional e Rio Negro, no próximo dia 26/02. O preço do ingresso deveria ser estipulado pelo clube mandante, que também seria responsável pelas despesas com quadro móvel, gandulas, arbitragem e lanchonetes.
Em reunião entre os dirigentes do Leão da Vila Municipal, o descarte foi imediato já que só com quadro móvel o gasto seria de R$ 12,5 mil. Valor este que dobraria com o pagamento dos funcionários.
Foto: Reuters.
“A situação é essa por conta do que é imposto por quem trabalha no Estado. Eles alegam que não podem arcar com as questões de segurança, que envolve diversos pontos como Corpo e Bombeiros, também precisam falar com a secretaria da saúde para eventuais situações, etc. São muitas despesas para os clubes. A grande verdade é que enquanto o Governo não mudar esse quadro não haverá condição para que os times do Amazonas possam atuar na Arena, não haverá espaço para o futebol amazonense.”, criticou o vice-presidente do Nacional, Manoel do Carmo Chaves, o Maneca.
O dirigente defendeu a mudança da portaria assinada pelas autoridades na inauguração da Arena da Amazônia.
“Enquanto não formos abrangidos pela portaria, que restringe o uso da Arena, estaremos desse mesmo jeito, até lá o estádio não vai pertencer ao nosso futebol. Não nos resta outra alternativa. Futebol não está tendo e só resta a nós, representantes dos clubes, procurar sensibilizar o governador José Melo, que em outras oportunidades se mostrou disposto a colaborar conosco. Só ele poderá intervir nesse caso e nos ajudar.”, emendou.
Preocupação da Associação de Clubes
Presidente da Associação dos Clubes Profissionais e vice-presidente do Fast Clube, Cláudio Nobre se mostrou preocupado com o cenário que se desenha para os clubes locais.
De acordo com ele, é necessário que exista uma definição do governo e que se escolha qual o ônus é o mais viável: auxiliar os clubes ou transformar a Arena da Amazônia em um ‘elefante branco’.
“Um dos principais temas debatidos pela associação dos clubes é o destino da Arena da Amazônia. O estádio tem sido pauta recorrente das nossas reuniões, e queremos tratar isso com o governador. A gente espera evoluir, porque o que ocorre é um contrassenso. Se cria um estádio, eleito um dos mais belos do país, mas não se oferece custos e a possibilidade de viabilizar jogos de times do Amazonas. Qual o pior ônus nisso tudo? ajudar os clubes ou ver a Arena se tornar um ‘elefante branco’?”, questionou.
Nobre, por fim, citou a decisão de um grupo estrangeiro que, supostamente, estaria interessado em privatizar a Arena da Amazônia. As negociações, inclusive, já estariam em andamento.
“A essência de toda essa mudança tem ligação com um único esporte, o futebol. Os nossos clubes ficam no porão, em segundo, terceiro, quarto ou quinto plano! É preciso buscar uma solução. Se esse grupo assumir o estádio, privatizar, explorar o espaço, que o façam de forma sensata e possam inserir no contrato uma cláusula que permita o uso do estádio em três ou quatro ocasiões no mês.
Espaço aos Clubes do Estado
Recentemente, a cidade de Manaus recebeu a primeira edição do Super Series, com as equipes do Flamengo, Vasco e São Paulo. O triangular não teve a resposta esperada pela organização, com o maior público chegando a marca dos 23 mil pagantes (capacidade do estádio é de 44 mil). Para muitos, o apelo de uma equipe local no torneio fez falta. Posição defendida por jogadores que atuam no Estado.
Foto: Globoesporte.com.
Governo Diz que Não Determina os Jogos no Local
Com Manaus concorrendo diretamente para se tornar subsede dos jogos de futebol nas Olimpíadas, a Fundação Vila Olímpica/FVO (Órgão do Governo responsável pelo estádio) também se manifestou por meio de nota.
No documento, a entidade se defende e alega que ”Disponibiliza ao futebol amazonense três modernos estádios para os torneios que os times locais participam e a Federação Amazonense de Futebol organiza.”, e reitera que não só a Arena da Amazônia, assim como os CTs da Colina e do Coroado ”São legados dos investimentos da Copa do Mundo no Amazonas e são utilizados para o futebol conforme a disponibilidade dos mesmos e o interesse de cada entidade desportiva que procura a FVO”.
Confira o documento na íntegra:
”O Governo do Amazonas, por meio da Fundação Vila Olímpica (FVO) disponibiliza ao futebol amazonense três modernos estádios para os torneios que os times locais participam e a Federação Amazonense de Futebol organiza. Estes três aparelhos urbanos são legados dos investimentos da Copa do Mundo no Amazonas e são utilizados para o futebol conforme a disponibilidade dos mesmos e o interesse de cada entidade desportiva que procura a FVO.
Com a obrigação de zelar por estes patrimônios e conscientizar os usuários da importância de mantê-los sempre em perfeitas condições de funcionamento, inclusive durante os eventos desportivos, o presidente da FVO, Aly Almeida, coordenou uma reunião de trabalho com a Secretaria de Segurança, representantes das agremiações desportivas locais e a FAF onde foi novamente colocado à disposição do futebol amazonense todos os estádios e esclarecidas as responsabilidades dos organizadores dos eventos, inclusive no que diz respeito à segurança dos torcedores e atletas. Contudo, não cabe à FVO determinar o uso de cada estádio, mas sim aos organizadores de cada competição.”