Mesmo com diversas polêmicas no mundo econômico e médico, a indústria da cannabis continua sendo uma das que mais crescem no mundo.
Apenas na América do Norte, as vendas legais de maconha totalizaram quase 7 bilhões de dólares (cerca de 21 bilhões de reais) no ano passado: um crescimento anual de 30%. Nos próximos cinco anos, tais vendas possuem uma projeção de crescimento médio anual de 26%.
Enquanto isso, no Brasil, legalizar e regulamentar a maconha poderia render entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano apenas para os cofres públicos, segundo um estudo divulgado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Já há empresas brasileiras de olho em aproveitar esse mercado se tal lei for aprovada no futuro – e não estamos falando apenas de tabacarias.
A rede social Who is Happy, por exemplo, foi lançada em janeiro do ano passado e funciona como um geolocalizador de usuários e negócios relacionados ao mundo canábico.
Em seu pouco tempo de vida, o aplicativo brasileiro já possui 200 mil usuários em mais de 100 países. A ferramenta fez tanto sucesso que atraiu recentemente até o olhar de investidores dos Estados Unidos.
História
A ideia para a Who is Happy surgiu em 2015, das experiências pessoais e profissionais dos empreendedores e publicitários João Paulo Costa e Henrique Torelli.
“Nosso negócio anterior passou por uma aceleração na Dinamarca, chamada Startupbootcamp. Lá, aprendemos que era importante pensar em nichos e futuras explosões de mercados. Notamos que o mercado de cannabis se encaixava nessa descrição, com players que não eram tão grandes a ponto de barrar nossa entrada”, conta Costa.
O empreendedor também afirma que teve uma motivação pessoal para fundar o aplicativo: ele sofre de epilepsia. “A cannabis é a principal substância que eu uso para o controle de crises e outros aspectos relacionados à doença. Foi um estímulo a mais para empreender nesse setor.”
A Who is Happy funciona principalmente pela geolocalização dos consumidores de cannabis – um procedimento similar ao do aplicativo Foursquare.
Os usuários apertam um botão de check-in e uma fumaça verde surge em um raio de um quilômetro, para indicar que lá há alguém consumindo a planta. Além disso, podem compartilhar sua forma de consumo (cigarro, alimentos ou remédios, por exemplos) e seus sentimentos através de adesivos adicionados ao mapa do aplicativo.
Nessa mesma tela, os usuários também podem conferir a localização de empresas legais do mercado canábico no mundo inteiro – como lojas e médicos especializados.
Com isso, o aplicativo apresenta uma base de dados sobre o consumo de cannabis: é possível ver qual o horário ou dia da semana em que as pessoas mais estão felizes; quantos usuários consomem por dia em determinada região; e qual o país que mais faz uso da planta, por exemplo.
A Who is Happy começou operando no Brasil. Obviamente, o negócio enfrentou obstáculos por conta da falta de regulamentação do mercado nacional de maconha – poucos estabelecimentos daqui puderam ser incluídos no mapa do aplicativo, por exemplo.
Mesmo assim, a maioria dos usuários hoje está no Brasil e nos Estados Unidos. Segundo Costa, a grande quantidade de usuários nacionais se deve à cobertura da mídia e ao networking que ele e o sócio fizeram no país – e não de forma orgânica, pelo consumo dos brasileiros.
“A realidade é que o empreendedorismo canábico no Brasil ainda está começando. Temos pequenas lojas especializadas, mas poucas startups no estilo de São Francisco [onde fica o Vale do Silício]. Há pouco conhecimento do potencial do mercado de cannabis”, afirma o empreendedor.
Por isso, o negócio não encontrou formas de gerar receita no Brasil e decidiu focar mais nos mercados norte-americano e europeu. Ele só voltará a pensar mais nos brasileiros se o processo de legalização da maconha for aprovado.
“É hora de repensarmos nossa política de guerra às drogas, optando por uma regulamentação do mercado de cannabis. Com isso, tiraremos o dinheiro do mercado negro e colocaremos na mão dos empresários. Isso gerará impostos, que podem ir para a educação e para a saúde pública”, defende Costa.
“Com menos dinheiro indo ao tráfico, a taxa de crimes e os gastos com força policial e prisões serão reduzidos. Os jovens também não serão apresentados a drogas mais pesadas, como costuma ocorrer no relacionamento com traficantes.”