Se você acompanha os meus artigos publicados no LinkedIn, deve estar pensando: “O quê? Acho que o Cris perdeu um pouco a sua linha de raciocínio”. Não é nada disso.
Como um bom apaixonado por tecnologia, eu sempre vou acreditar que ela é uma ferramenta extremamente poderosa. Um foguete levando a sociedade para longe e cada vez mais rápido.
Porém, existe outro lado dessa história. Pulando um pouco os clichês da Skynet, do clássico O Exterminador do Futuro ou do mais recente, Eu, Robô, com Will Smith, não acredito que uma guerra desse tipo seja o grande perigo. Na minha visão, a dependência de tecnologia e o intuito das pessoas ao utilizá-la são os verdadeiros riscos oferecidos para elas mesmas.
Veja, por exemplo, o uso polêmico das redes sociais, principalmente entre os mais jovens. Com uma Inteligência Artificial e leitura de dados de ética duvidosa, o tema já rendeu dois documentários para a Netflix. São eles, Privacidade Hackeada e o Dilema das Redes.
Como o mundo está reagindo diante dessa evolução exponencial? Bom, em alguns países o Estado está tomando providências.
A União Europeia (UE), por exemplo, chegou a propor algumas regras para o uso de Inteligência Artificial considerada de “alto risco”. No rascunho do texto, o bloco citou o uso de reconhecimento facial para vigilância em massa e de pontuação social para julgar as pessoas com base em seu comportamento e traços físicos.
O documento prevê algumas exceções, como a procura de crianças desaparecidas, fugitivos e até a prevenção de ataques terroristas. As propostas ainda devem ser debatidas pelos parlamentares da UE em um processo que pode durar alguns anos.
Na China, governo estipula tempo para menores de idade jogarem on-line.
O órgão regulador do setor audiovisual, de publicação e de radiodifusão do país determinou que os menores de 18 anos têm permissão para jogar somente às sextas, sábados e domingos, por três horas, no total.
O governo chinês já tinha criado regras que proibiam jovens e crianças de jogarem on-line tarde da noite e durante a madrugada. Agora, a atividade só será permitida entre “8h e 9h da noite”, como diz o texto.
O interessante é que para saber se uma criança está conectada naquele horário, é utilizado o reconhecimento facial, tecnologia que tem causado muita polêmica.
E a mudança acontece às portas do Metaverso.
Enquanto os órgãos públicos dos países tentam controlá-la, a tecnologia segue em seu processo de evolução exponencial. Dá para perceber que o conceito de Metaverso é cada vez mais forte entre as pessoas ao redor do mundo. O termo surgiu na década de 1980 da literatura cyberpunk, com o livro ‘Snow Crash’.
A ideia representa a possibilidade de acessar uma espécie de realidade paralela, em alguns casos ficcional, em que uma pessoa pode ter uma experiência de imersão. Tecnicamente, o Metaverso não é algo real, mas busca passar uma sensação de realidade, e possui toda uma estrutura no mundo real para isso.
Inclusive, o Facebook já mostrou interesse em explorar esse mundo de sinergia entre on-line e off-line. Recentemente, Mark Zuckerberg afirmou que pretende mudar o nome da sua rede social e vai investir US? 50 milhões no projeto.
Estaríamos diante de um novo ponto de virada tecnológica.
Depois da internet chegar às nossas casas e do smartphone aos nossos bolsos, seria o Metaverso a nova fase da revolução tecnológica que mudará completamente o comportamento das pessoas? Ele ganhará ainda mais proporção com a chegada do 5G?
Se usado de maneira correta, o conceito deve transformar o nosso dia a dia, mudar nossos hábitos de compra e a maneira como consumimos conteúdo.
Porém, se os haters, hackers, golpes, o uso desenfreado de dados e a falta de privacidade chegaram à internet, inclusive obrigando que seja criada uma legislação que preserve as informações pessoais, imagine a proporção disso no Metaverso?
A realidade mostra como a tecnologia é uma importante aliada da evolução, mas como disse uma vez Ben Parker (tio do Homem-Aranha), também conhecido como Tio Ben: “Grandes poderes vêm com grandes responsabilidades”.
Isso quer dizer que quanto mais a tecnológica evoluir, maior deve ser a presença das autoridades e dos órgãos reguladores no monitoramento e na definição das regras por parte das pessoas. Saúde, tecnologia, rotina… tudo precisa estar conectado.
Agora, que tal sair um pouco da rede social, olhar pela janela e respirar? Quando se trata de abandonar a tela, cinco minutos fazem toda a diferença. Depois me conte como foi.
Cristovão Wanderley
Sócio-diretor da Stratlab e Especialista em Tecnologia e Dados