Ao consultar qualquer calendário de eventos em São Paulo, é possível perceber uma quantidade significativa, quase saturada, de programações com um tema comum: inovação. Trazendo o recorte para os meses de julho e agosto, de primeira já conseguimos citar alguns nomes.
Luiz Gustavo Pacete, Curador que mapeia eventos de referência, notou o movimento. “Em alguns casos, até mesmo eventos que nasceram em outros estados, como o RD Summit, escolheram vir para São Paulo”, revela.
Em um estudo recente, o profissional identificou a progressão, que trazia consigo três perfis diferentes:
- Eventos proprietários: são realizados por empresas com objetivos claros de posicionamento de marcas e vendas, como VTex Day e Universo TOTVS;
- Eventos conceituais ou independentes: ações que tentam trazer propostas mais abrangentes, como Pach ou World Creativity Day;
- Eventos educacionais: aqueles que são associados a plataformas, como Startse ou HSM.
Mesmo com motivações diferentes, os eventos convergem na escolha de pautas. Pacete explica que precisamos explorar melhor as oportunidades: “O grande desafio que eu percebo é a diferenciação. Existe demanda, existem oportunidades mas os eventos precisam se reinventar e conseguir se diferenciar”.
O que dizem os internautas
Após pesquisa, Luiz Gustavo, que é “Top Voice” do LinkedIn e figura popular da plataforma, perguntou aos seus seguidores: São Paulo está saturado de eventos de inovação?
Dos 527 votos computados até a produção deste conteúdo, 45% consideravam que sim, o mercado paulistano está cheio; 34% que ainda existe lugar para o novo. Por outro lado, 20% acreditam que ainda há espaço para mais.
Ao mesmo tempo, existiram também aqueles que, além dos votos, também deixaram a opinião explícita. Por exemplo, Bruno D’Angelo, especialista em estratégia de narrativas, comentou: “Acho que o mundo está saturado de eventos de inovação e seus mesmos temas e palestras”. Quando perguntado pelo Promoview, aprofundou um pouco mais o pensamento:
“Acredito que sejam duas questões. A primeira é São Paulo ver inovação em outras cidades e estados, fora do eixo Sudestino. Há muita inovação real por aí, que vai além de tecnologias, marketing e robôs. São Paulo precisa, inclusive, aprender com seu entorno, sua periferia, sair do centro ou dos centros que a cidade mesmo criou. PERIFACON é um ótimo exemplo disso”.
E finaliza trazendo um olhar ainda mais crítico: “isso nos leva para o segundo problema: a bolha da inovação, de temas, lugares e pessoas, que ajuda muito mais em posts de Linkedin do que realmente inovar o negócio ou o mercado. São Paulo tem espaço pra muita coisa e pra muita gente, inclusive novos eventos de inovação, mas então que pelo menos estes novos venham de outras origens e busquem outros futuros”.
Christopher Toya, conselheiro consultivo, segue a mesma linha de raciocínio.“Não vejo saturação, a demanda existe, o problema é que muitos formatos já ficaram manjados demais”, disse em comentário.
Outras problemáticas
São Paulo é uma grande referência de inovação no Brasil e na América Latina, portanto, de acordo com Toya, esse movimento de concentração de eventos, que faz parecer saturado, é natural. Contudo, existem outras questões que também podem estar colaborando para essa saturação.
“Os palestrantes frequentemente não são remunerados pelo conteúdo que entregam, buscando apenas exposição. Também é necessário repensar a efetividade do networking nesses eventos. Com o volume excessivo de informação e movimento, as conexões acabam muitas vezes prejudicadas”, explicita Christopher.
Por fim, termina pontuando alguns novos formatos como alternativa aos modelos tradicionais: “pessoalmente, tenho preferido frequentar eventos menores, em hubs de inovação ou espaços particulares, onde a interação com o público é mais direta, promovendo uma troca de ideias em vez de um monólogo. Outra alternativa são os side-events, que ocorrem paralelamente aos grandes eventos e criam excelentes oportunidades de Networking”.
Em resumo, podemos dizer que o problema não está na “saturação do mercado”, e sim em outras questões que permeiam o assunto, como escolha de temas e convidados. Dessa forma, precisamos suprir a demanda de uma maneira que, além de trazer inovações reais, agreguem conhecimento para os envolvidos. Tudo, é claro, sem banalizar o uso da palavra.