A França é um país rico em histórias de revoluções cheias de momentos grandiosos e de heróis de todos os naipes. Paris, uma cidade de mais de 2.000 anos, representa quase que um álbum
cheio de monumentos históricos que nos trazem a momento presente estas lembranças tão importantes, não só para o povo francês como também para todo o mundo.
Não é à toa que se trata do maior destino turístico do mundo, um predicado que muitos parisienses não gostam muito. A falta de acolhimento aos turistas em Paris, tem histórias e histórias com uma diversidade enorme de origens e relatos.
Muito bem. Então, trazer os Jogos para a cidade foi sem dúvida um desafio muito grande e que certamente rendeu muitas histórias, que um dia serão contadas. Hoje assistimos a festa de encerramento das Paralimpíadas 2024. E eu digo festa, e não cerimônia, pois foi exatamente isso que aconteceu.
Muita música eletrônica, de muita qualidade. Atletas e público dançando em pleno estádio de Saint Dennis. Cores, luzes, efeitos de todos os tipos, e um só sentimento: puxa, acabou. Sem dúvida.
Para os amantes dos Jogos, como eu, acabaram-se aqueles compromissos por madrugada adentro, para assistir de golbol a vôlei de quadra, de futebol de cegos a duplas de tênis; resta-nos começar tudo outra vez, torcendo para que nossas equipes se preparem bem e consigam as vagas para LA28.
Parece que o sentimento aqui, é de melancolia. Não deixa de ser. Mas as lembranças, ainda vivas em nossos corações nos trazem uma coleção enorme de grandes cenas das cerimônias e dos jogos. Quem não se lembrará de Celine Dion cantando “Hymne à l`amour”, na Torre Eiffel, ou do acendimento da Pira Olímpica, ou mesmo da maratona, que desta vez deu a possibilidade de pessoas comuns poderem participar, ou mesmo das comemorações contagiantes de nosso Gabrielzinho na piscina paralímpica.
Acho que preencheria uma lauda inteira com estes exemplos tão fantásticos. Como na história dos homens, a França e sua capital tem uma importância muito grande. Não podemos nos esquecer que foram os franceses que inventaram a república por exemplo. E é exatamente neste ponto que eu queria chegar. PARIS 2024 nos trouxe uma revolução de como realizar os jogos.
Eu acredito que, depois desta edição, nunca mais os jogos serão os mesmos. Sim, porque os franceses se organizaram de uma forma única, diferente, muito inovadora. Aliás, acabo percebendo que minha visão sobre inovação está corretíssima. O que muda é o olhar e a forma como apresentamos algum fato ou acontecimento.
Se não vejamos: o desfile das delegações, sempre foi um problema a ser resolvido, e que acabou sendo a principal atração de Paris 2024; a Paraolímpica, que se tornou uma atração, a cada dia que subia para seu voo diário; as venues de disputa: o melhor exemplo a quadra de vôlei de praia e depois do futebol de cegos; mesmo o Rio Sena, que serviu para diversas provas.
São inúmeros os exemplos que mostraram ao mundo os seus melhores cartões postais. Como se a cidade precisasse deste apoio para se promover. E tudo isso, sob o conceito de Diversidade e Integração social. Não me lembro de ter notícia de uma cerimônia de abertura assistida por mais de 300 mil pessoas, algumas delas com ingresso gratuito ganhos a partir de um sorteio.
Podemos aqui ressaltar ainda, todo o protagonismo dado a participação feminina. O Comitê organizador trocou até a ordem das maratonas, o que fez com que a maratona feminina fosse a última prova dos jogos. Mais do que isso. Para aqueles que não viram, olhem com atenção para o
logo, e percebam que é o desenho de uma mulher.
E quando digo que os próximos jogos sofrerão uma importante influência da concepção de Paris 2024, pela primeira vez se viu uma enorme preocupação de fazer uma integração muito grande entre os dois, olímpico e paralímpico, de forma que existe uma percepção no ar, de que foram seis semanas de um mesmo evento. Uma integração fantástica, a ponto de nos referirmos, sempre como jogos de Paris 2024 para nos referirmos aos 2 eventos.
Se a cena do apagar da chama olímpica já me trouxe muita emoção, o da chama paralímpica mais ainda; seis atletas, cada um representando uma categoria dos jogos, ou seja, um tipo de deficiência, e um atleta olímpico, que deram o suporte necessário para que a francesa, campeã paralímpica de bocha, Aurélie Aubert, soprasse e extinguisse a chama. Simples, emocionante, lindo.
Os franceses nos ensinaram muito, nestas seis semanas. Principalmente a capacidade de se realizar um planejamento tão bem pensado, tão dentro dos conceitos que eles queriam passar para o mundo. Imagino agora, olhando para trás como foram as primeiras reuniões, para construir essas 6 semanas tão maravilhosas, para o esporte mundial.
Quantos desafios tiveram que superar, ter o jogo de cintura para fazer acontecer. Só um exemplo: já imaginaram como foi a primeira reunião com os donos de barcos, que fazem turismo no Rio Sena, explicando como seria o desfile de abertura?
Paris 2024 deu este exemplo de DIVERSIDADE até o seu último momento. História, arte, turismo, esporte. Tudo integrado e muito bem amarrado para que tivéssemos jogos espetaculares.
Como disse em um artigo anterior, o desafio está lançado. Los Angeles 2028 e Brisbane 2032 têm a missão de no mínimo fazer igual aos franceses.
E este é o grande ponto que se aproxima das equipes que terão a missão realizar os próximos jogos. Imagino que, principalmente a equipe americana já deve estar com as anotações prontas e que brevemente já começarão a mostrar a todos o que começam a colocar de pé. Quanto aos australianos, também imagino que já estão ao lado dos americanos, observando como estão trilhando seu caminho.
Não há tempo a perder.
Antes de encerrar, preciso fazer um adendo importante. Segurança era um ponto de grande preocupação antes dos jogos. Eu não estava em Paris, mas não vi nenhum comentário de que algo mais sério tivesse ocorrido.
Não poderia deixar de pontuar este fato. Afinal, sem segurança teria sido impossível realizar estes jogos tão importantes para a história dos esportes mundiais.
Paris 2024. A Revolução Republicana do Esporte.