Luiz Fernando Coelho

A gestão de projetos pelo método Tupperware

Por Luiz Fernando Coelho. Saiba como e o motivo da marca Tupperware ter virado uma categoria

Créditos: Tupperware
Créditos: Tupperware

Em 1946, Earl Tupper iniciou a fabricação das “tigelas maravilhosas”, as únicas que conseguiam fechar hermeticamente, potencializando assim a durabilidade dos alimentos armazenados nas grandes geladeiras da época.  

Certamente Mr. Tupper estudou e pesquisou muito para conseguir chegar aos resultados fantásticos que sua empresa conseguiu obter, não só com o sistema de fechamento, mas também com o design desenvolvido de forma a maximizar os espaços das grandes vedetes da época, o eletrodoméstico geladeira. 

Se eu bem me lembro, a gestão do espaço na enorme geladeira GE de minha casa era um baita desafio, e o abrir e fechar a porta da dita necessitava quase que um convescote para a tomada de decisão. Não podia ficar muito tempo aberta para não perder a refrigeração, pois as embalagens existentes à época tinham um problema de vedação, o que prejudicava a conservação dos alimentos. Mas por que isso acontecia? Muito simples.

Tudo que entrava na tal geladeira ia despejado em potes de vidro ou de lata, que não necessariamente conseguiam conservar o que ali era guardado, por conta, principalmente, de não ter como fechar hermeticamente. Além disso, havia a questão do espaço, do tempo de procura do que ali estava e do gasto de energia muito significativo devido ao abre e fecha da porta da geladeira.

É claro que a tecnologia foi evoluindo, e com isso as geladeiras foram cada vez mais diminuindo de tamanho, aumentando a capacidade de armazenamento e simplificando a forma de utilização.

Percebam que, acompanhando esse processo, começaram a surgir os potinhos para armazenar alimentos e outros que tais para ambientes frios dos concorrentes de Mr. Tupper. Entretanto, ele havia construído um legado muito grande em termos de design e, ainda por cima, baseando-se nos sistemas de venda de cosméticos, enciclopédias etc., havia formado um enorme exército de revendedoras exclusivas de seus produtos. Tudo muito fácil e simples de administrar.

— Mas, Luiz, uma pergunta: por que estamos falando de tupperware? Imaginava que pelo menos íamos abordar como o processo de vendas foi adaptado para a comercialização de potes de armazenamento.

Me deixem explicar meu ponto de vista. O tupperware, como produto, abraçou o mercado de tal forma que, durante o seu período de sucesso, a marca acabou virando uma categoria, assim como Xerox, Gillette, Modess, entre outras.

Na verdade, esses recipientes, além do benefício de um fechamento muito apropriado, ainda se encaixavam uns nos outros, proporcionando espaço e conforto na arrumação em qualquer lugar onde fosse possível guardar, inclusive nas geladeiras. Trata-se de um método pesquisado, testado e construído que serve praticamente para todos os fins.

O problema das imitações passou a ser a grande ameaça, e o tupperware tem hoje um monte de concorrentes, que não desenvolveram nem testaram a tecnologia em nenhum momento.  Muito bem. 

Em nosso mundo de hoje – onde a paciência em todos os sentidos e a disponibilidade para  leitura tendem a zero, e o estudo e entendimento dos ensinamentos do que nossos mestres desenvolveram, em muitas áreas do conhecimento, costumam não representar muito no momento em que relativizamos com a pressa de decidir –, o que acaba acontecendo é um fenômeno de consultorias rápidas. Você já entra sabendo, e está pronto para ensinar e dar consultoria sobre um tema. Afinal, acabou de ler um livro e fez uma imersão de três dias, e desenvolveu um método fácil, ágil e direto para resolução de problemas, trazendo assim soluções imediatas.

Métodos como esses são muito assertivos, como gostam de ser descritos, e estão genericamente formatados da seguinte maneira: cinco dicas para vencer os desafios corporativos, ou dez passos na direção da felicidade ou, ainda, sete trilhas para a superação de metas. Essas maravilhas são apresentadas como inovações e trazem o nome ou as iniciais de seus autores: o método ASC (Alex Souza Castro), ou método MCO (Maria Cristina Oliveira).

O grande problema de cada um deles é que não temos nenhuma comprovação de que foram aplicados em alguma situação. E, se foram, o número de casos é muitopequeno, não existindo provas sociais que comprovem seus resultados. Com isso, não há certeza de sua eficácia.

Eu, então, em vez de chamar tais métodos de genéricos, estou chamando de tupperware. Afinal, depois que são tampados, eles têm a propriedade de se fecharem em si mesmos, trazendo àqueles que decidiram aplicá-lo problemas enormes para se desvencilharem. Acabam virando crenças limitantes, muito mais difíceis de combater. Tudo isso por causa da intolerância à pesquisa, da impaciência para a leitura de textos e afins.

A linguagem quase telegráfica das redes acaba prestando um desserviço na consolidação de conceitos. E isso é tão utilizado que hoje é muito comum as mensagens de áudio serem ouvidas em velocidade dobrada. Assim vai mais rápido.

A economia de tempo deveria ser empregada para melhorar a qualidade de vida das pessoas. No entanto, está sendo utilizada para se fazer atividades mais rapidamente, sem nenhum objetivo de aprendizagem, e mais e mais, a cada oportunidade. Assim, galera, cuidado com essas metodologias criadas somente para embalar uma apresentação cheia de slides lindos, baseadas na leitura dinâmica de um único livro, e que não se sustentam em pé.

Certamente Earl não fez um cursinho de três dias online, em que aprendeu as variáveis da física e da química para desenvolver seu produto, que até hoje habita nossas geladeiras.