Luiz Fernando Coelho

Está na hora de ver quem tem garrafa vazia para vender

Luiz Fernando Coelho. Descubra como o marketing desempenha um papel fundamental nas eleições. Conheça as estratégias utilizadas pelos candidatos para se destacar.

Créditos: Unsplash
Créditos: Unsplash

De dois em dois anos presenciamos as eleições passarem a participar de nosso dia a dia. Cabe a nós, profissionais que somos da área de comunicação, um papel muito importante, oferecendo a população as várias possibilidades que existem.

Este artigo não deseja de forma nenhuma um debate sobre política, até porque neste
portal o assunto é outro, e por isso quero falar sobre marketing, que é o que conversamos aqui todos os dias. Me impressiona como são desenvolvidos os jingles dos candidatos, são os jingles que invadem nossas cabeças como um hit de verão que você não pediu para ouvir; as fotos, parecem saídas de comerciais de creme dental, com vários sabores e de utilizações diversas.

É nesse clima que os “marketeiros de plantão” entram em ação, fazendo a profissão parecer, muitas vezes, um espetáculo de mágica, ou ilusionismo, junto àqueles que são disputados a tapas, com truques baratos.

Quem trabalha com comunicação sabe bem como essas campanhas são efetivamente construídas. É preciso eleger o candidato, custe o que custar. De um lado, é uma oportunidade incrível para mostrar o poder que temos nas mãos. Do outro, uma chance para que as piores táticas se revelem: promessas que parecem saídas de contos de fadas, slogans que fazem você revirar os olhos e, agora o uso das redes sociais de forma a tornar a conversa mais pessoal.

Mas a parte divertida é que são produzidas também fotos de candidatos que, convenhamos, jamais deveriam ter saído de um ensaio de posters para o trem fantasma, além de alcunhas muito engraçadas. E assim, as campanhas vão deixando uma trilha de memes, risadas e… decepções.

Tudo é marketing, até o que não deveria ser

O grande problema é que, e nestes momentos, o marketing vê sua reputação ir para o ralo, e os cidadãos, com toda razão, acabam associando a todas as enganações que sofrem, como se fossem todas culpa destes malfeitores marquetistas do inferno. E como diz o ditado: há males que vem também!

Depois do segundo turno vem a Black Friday, onde alguns comerciantes e empresas, remarcam para cima os preços, e na data marcada apresentam descontos mirabolantes. Não dá, é verdade, para achar que os profissionais desta área, são anjos, que dizem sempre a verdade e estão ao lado dos eleitores e dos consumidores. Afinal o julgamento acaba sendo o mesmo: isso é coisa de marketing.

Somos os vilões. E em alguns casos, somos mesmo. Precisamos fazer esta meia culpa. Acredito que do mesmo jeito que fico me sentindo com muita vergonha de determinadas campanhas, imagino que os bons políticos e os bons empresários também se sintam assim.

Vemos promessas de construir uma ponte onde não tem rio, oferecer wi-fi grátis para toda a cidade baseado num sistema de sobrevoos de pombos correio, tirar do papel as linhas de trem desenhadas na época do Barão de Mauá, e acabar de vez com a crise climática, a partir de uma nova equação química que transformará em moléculas de oxigênio, todas aquelas que causam o efeito estufa, utilizando um método que já existe na natureza, a metamorfose. Afinal se a lagarta vira borboleta, porque não podemos transformar os gases, em oxigênio.

No fim, o candidato aparece sorrindo, e quem paga a conta é a credibilidade dos profissionais da área.

Quando tudo é marketing, nós perdemos valor

E aqui chegamos ao ponto central: quando qualquer coisa pode ser marketing, o marketing como profissão perde seu verdadeiro valor. Nas mãos erradas, ele vira sinônimo de manipulação, truques e promessas vazias. Nas mãos certas, é uma poderosa ferramenta de conexão, informação e criação de relacionamentos duradouros. Mas o estrago que alguns profissionais do marketing eleitoral faz à nossa reputação, é inegável.

No final das contas, quem realmente sai perdendo são os eleitores, os consumidores. Porque, depois que o circo desmonta, o que resta é aquela realidade do toma lá da cá, para se conseguir algo para algum interesse.

Desde que me entendo por eleitor, poucas vezes votei convencido; uma delas foi quando elegemos o Cacareco, não me lembro se era o hipopótamo ou o jacaré do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, lá no início de um processo que hoje chega muito mais democrático que naqueles tempos.

Resgatando o valor do marketing

E talvez esteja aí o grande desafio para nós, profissionais desta área: resgatar o verdadeiro sentido da nossa profissão. O marketing não pode ser sobre enganar ou maquiar a realidade, mas sim sobre criar valor, entregar soluções e ser transparente. Em uma época em que tudo parece ser, marketing é uma ferramenta fundamental para lembrar que, no final do dia, o bom marketing é aquele que faz a diferença de verdade — não apenas na campanha política ou de um produto ou serviço, mas no dia a dia das pessoas.

Da próxima vez que ouvir um jingle eleitoral grudar na sua cabeça, lembre-se: nem tudo o que reluz é marketing. E nós, profissionais, ainda temos muito trabalho pela frente para mostrar ao mundo como podemos realmente ajudar, e que nossa atuação vai muito além de slogans vazios e promessas impossíveis.