Nos dois primeiros artigos desta série, abordamos os conceitos essenciais do direito autoral e quem paga por ele em eventos. Agora, vamos mergulhar nos aspectos práticos que afetam agências, fornecedores e produtores de eventos ao lidar com música.
O papel das licenças: o que você precisa saber?
Toda vez que uma música é executada em público, há a necessidade de uma licença adequada. Existem diferentes tipos de licenças que você deve entender:
- Licença de execução pública: necessária quando a música é tocada em um espaço público, como shows, eventos corporativos, lojas ou festas. Essa licença é geralmente cobrada pelo ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).
- Licença de reprodução: se você precisa gravar ou reproduzir uma música (como em vídeos promocionais), é preciso solicitar autorização diretamente com os titulares dos direitos ou suas editoras.
- Licença de sincronização: necessária quando a música é utilizada junto a uma produção audiovisual, como vídeos promocionais, trailers de eventos ou comerciais.
Como o ECAD funciona na prática?
O ECAD atua como uma central de arrecadação de direitos autorais para execuções públicas de músicas no Brasil. Veja como ele se aplica ao mercado de eventos:
- Cálculo das taxas: as taxas variam de acordo com o tamanho do evento, o tipo de local, a quantidade de público e se o evento tem fins lucrativos ou não. O ECAD calcula o valor a ser pago com base nesses critérios.
- Arrecadação e distribuição: após o pagamento, o ECAD distribui os valores arrecadados para os titulares dos direitos autorais, incluindo compositores, intérpretes e editoras musicais.
- Negociação de valores: para eventos maiores, é possível negociar os valores diretamente com o ECAD. Procure a unidade regional da instituição para tirar dúvidas e formalizar os acordos necessários.
Música em eventos: o que é permitido e o que deve ser evitado
Ao planejar um evento, há regras importantes para o uso de músicas protegidas por direitos autorais. Aqui estão algumas orientações práticas:
- Músicas livres de direitos autorais: para quem deseja evitar o pagamento ao ECAD, é possível usar músicas que estejam no domínio público (em que os direitos autorais expiraram) ou músicas com licenças Creative Commons, que permitem o uso gratuito mediante certas condições.
- Uso de playlists comerciais: plataformas como Spotify ou Apple Music não são adequadas para eventos públicos, já que as licenças dessas plataformas cobrem apenas o uso pessoal. Para execuções públicas, procure serviços específicos, como trilhas, licenciadas e até personalizadas. Por exemplo, a DJ HIT Music oferece este serviço.
- Artistas independentes: uma alternativa é fazer parcerias diretas com artistas independentes, negociando diretamente o uso das músicas sem intermediários. Isso pode garantir mais flexibilidade e um som exclusivo para o seu evento.
Quais as consequências de ignorar o direito autoral?
Não respeitar os direitos autorais pode resultar em consequências legais sérias:
- Multas e penalidades: a ausência de licenças pode resultar em multas elevadas. O ECAD, por exemplo, tem autoridade para aplicar sanções quando a música é executada sem a devida autorização.
- Danos à reputação: além das questões legais, sua empresa pode sofrer danos à reputação no mercado. Marcas e agências respeitadas têm uma responsabilidade social de valorizar a criação artística.
- Ação judicial: titulares dos direitos podem mover ações judiciais por uso não autorizado, resultando em processos demorados e custos legais.
Como agências e fornecedores podem garantir conformidade?
Para garantir que seu evento esteja em conformidade com as leis de direitos autorais, siga estas etapas:
- Auditoria pré-evento: faça um checklist das músicas que serão utilizadas e assegure-se de que todas estão licenciadas de forma adequada, seja para reprodução ou execução.
- Contrato com fornecedores: exija que seus fornecedores, como DJs, bandas ou empresas de sonorização, forneçam comprovantes de que têm as licenças necessárias para as músicas que irão tocar.
- Consultoria jurídica: se houver dúvidas, vale a pena investir em uma consultoria jurídica especializada em direitos autorais. Um advogado pode ajudar a interpretar os contratos de licença e fornecer orientações claras.
Dicas finais para Produtores de Eventos
- Planeje com antecedência: não deixe para resolver as questões de direitos autorais na última hora. Inclua a compra de licenças no planejamento do evento.
- Mantenha registros: guarde comprovantes de todas as licenças adquiridas e tenha documentação disponível para o caso de uma inspeção ou questionamento.
- Eduque sua equipe: certifique-se de que todos na equipe, especialmente os responsáveis pela música e pelo entretenimento, entendam a importância de seguir as regras de direitos autorais.
O direito autoral é uma questão fundamental para quem trabalha no mercado de eventos. Ignorar ou desconsiderar a necessidade de licenciamento musical pode acarretar consequências graves, tanto legais quanto reputacionais. Por isso, é crucial que agências, fornecedores e organizadores estejam bem informados e preparados para garantir que o uso de música seja sempre realizado dentro da lei.
Se ainda não leu os outros (dois) artigos, vá lá e pegue mais informações. Se tiver alguma dúvida sobre este assunto, eu (Myrrha) me coloco a disposição! Afinal, dedico parte da minha vida à MÚSICA.
Com isso, encerramos a nossa série sobre O Básico do Direito Autoral na Música, fornecendo algumas ferramentas essenciais para que o setor de eventos possa atuar de forma ética e profissional, respeitando o trabalho criativo de compositores e artistas.
Que a música nos conecte sempre!
Abraço,
Myrrha