Opinião de especialistas

Limitar ações de live marketing será um problema para o Salão do Automóvel?

Padronização de estandes e proibição de ações de alto custo estão entre as novas regras do evento; marcas defendem maior flexibilidade

O Salão do Automóvel retornará em 2025 com novas regras para os expositores. Após um hiatus de sete anos, o evento está confirmado para os dias 22 de novembro a 1º de dezembro, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo.

A volta do Salão foi uma demanda do próprio Presidente Lula, defensor de que o pais não poderia abrir mão de uma vitrine para os veículos produzidos em território nacional. Contudo, dessa vez, a ANFAVEA (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) determinou que o modelo da exposição deve seguir os padrões internacionais, como o CES Las Vegas e Salões de Pequim, Paris e Munique.

Assim, de acordo com a Associação, o foco do evento “passa a ser total nos produtos, na experiência com test-drives, nos serviços aos clientes, e sobretudo nas novas tecnologias de propulsão ambientalmente amigáveis, de segurança e de conectividade entre carro e motorista, além da conexão entre veículos e o seu entorno”. Além disso, o objetivo da decisão também é de manter os custos do Salão do Automóvel em níveis acessíveis.

salão do automóvel
Foto: Divulgação

Para isso, segundo o Autoesporte, algumas regras já foram acordadas. Entre elas, a adoção de estandes padronizados e a proibição de iniciativas de alto custo, como shows ou grandes ações promocionais. Ainda conforme as informações, limitar as ações de marketing trouxe discordância entre algumas das marcas expositoras.

Os grandes nomes, como BMW, Mercedes-Benz e Porshe acreditam que seus produtos serão suficientes para captar a atenção do público, mas marcas menos populares defendem a importância do live marketing, pedindo mais flexibilidade para a organização.

O Promoview conversou sobre o assunto com especialistas, que trouxeram uma maior profundidade sobre os impactos das regras para o Salão do Automóvel e expositores.

O que dizem os especialistas

A primeira edição do evento aconteceu em 1960, no período em que a a indústria automotiva brasileira estava começando a se fortalecer. Ao longo dos anos, o Salão chegou a receber 600 mil pessoas. Neste contexto, será que essas novas medidas de organização serão benéficas para o evento que marcou gerações?

Paulo Octavio Pereira, Diretor Executivo da UBRAFE e Consultor de Live Marketing, vê essa medida como algo positivo para o mercado. “Em uma época que a gente está vivendo de ESG, ROI e eficiência, os eventos realmente tem que se reinventar. Eles precisam repensar as regras que oferecem aos expositores. Eu vejo a mudança dessas regras, para trazer eficiência e eventualmente reduzir os investimentos, com muito bons olhos”, discorre.

“Essa é uma tendência mundial não só em eventos relacionados ao mundo do automóvel, mas em diversos eventos. Você trabalhar com mais inteligência e menos ego. Os stands e investimentos mais racionais beneficiam todo mundo. Beneficia quem organiza o evento e beneficia quem está trabalhando para quem organiza”.

Paulo Octavio Pereira de Almeida, Diretor Executivo da UBRAFE (União Brasileira dos Promotores de Feiras) e Consultor de Live Marketing  

Acompanhando de perto o movimento do setor automobilístico, Marcello Soares, CCO da Hype, também enxerga a mudança como algo positivo, que trará luz para a verdadeira estrela do evento: “vejo essas novas medidas como fundamentais para garantir a relevância e a longevidade do Salão do Automóvel. Recentemente, estivemos no Salão de Paris, onde testemunhamos uma volta ao essencial: o carro em si. O público brasileiro, com sua paixão inata por automóveis, espera por um Salão de São Paulo que resgate essa conexão“.

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Salão do Automóvel de Paris 2024. Foto: Hype

Possíveis problema

Contudo, esse “resgate” também pode se tornar um malefício para a exposição, que, de certa forma, estará diferente das outras edições, conforme o Diretor Executivo:

“O salão do automóvel é um evento que tem 60 anos de história. Então ele tem uma imagem de marca muito forte. Se existe uma mudança dessa, voltada para a eficiência e redução de investimentos, eu experimentaria fazer uma marca nova. Porque se as pessoas forem esperando o que foi no passado, sem saber dos motivos para o posicionamento, o meu medo é que tanto as montadoras quanto os visitantes fiquem desapontados quando chegarem lá”.

Salão do Automóvel 2018. Foto: Divulgação

Para o Consultor, o novo posicionamento pode trazer uma característica de “feirão de carros” para o Salão. “Eu acho que o evento está mudando para esse meio termo entre realmente um salão, que era uma atividade muito mais contemplativa, para uma feirão, que é uma coisa onde você tá muito mais transacional. Você vai num feirão para comprar o carro. Então eu acho que o posicionamento é no meio do caminho”, conclui.

E as marcas?

Por fim, sem as estratégias criativas e grandes artifícios de live marketing, voltados para chamar atenção e facilitar a conexão com o público, as marcas terão que basear os seus diferenciais nas experiências com os produtos.

Cada marca tem agora a oportunidade de se destacar apoiando-se no que há de mais autêntico: seu portfólio, seu branded content e o lifestyle que define a essência da marca e dos modelos. Com a chegada de novas marcas e abordagens competitivas, o mercado se renova, gerando novas perspectivas e elevando o nível de experiência. O verdadeiro brilho estará no produto e na vivência intensa e direta com ele“, finaliza Marcello Soares.