Aquele já foi possivelmente o maior festival de música eletrônica do mundo, hoje enfrenta perigosas dificuldades e depende de doações para sobreviver: segundo sites como DJ Mag e brasileiros como o HouseMag, o festival Burning está novamente pedindo dinheiro aos fãs para assegurar sua sobrevivência.
A organização por trás do evento revelou que enfrenta um déficit financeiro significativo, que forçou demissões e cortes na equipe. De acordo com a CEO Marian Goodell, as doações são urgentes para que o Burning Man continue em 2024 e nos anos seguintes e, sem elas, seu fim pode ser decretado.
“Já passamos do ponto por onde a receita dos ingressos possa sustentar, sozinha, o nosso trabalho cultural anual.”
Marian Goodell, CEO do Burning Man Festival
O Burning Man é um festival de música eletrônica que ocorre, desde 1986, no deserto de Black Rock, em Nevada, EUA. O “homem queimando” é uma referência literal — no penúltimo dia da festa de uma semana, uma efígie na forma de um homem é queimada em caráter cerimonial.
Ao contrário de outros festivais, no entanto, o Burning Man inicialmente não tinha atrações mundialmente conhecidas, e praticamente todo o conteúdo — da música à arte — é criado pelos participantes. Anos mais tarde, no entanto, a ocasião se abriu para receber grandes nomes e até promover shows de fora do cenário eletrônico: rappers como Kendrick Lamar e bandas de metal como Metallica são alguns dos nomes que figuraram a ocasião.
Burning Man começou com apelo comunal, mas comunidade acusou-o de perder a própria mensagem
À medida em que cresceu e contou com participações maiores, o Burning Man passou a atrair pessoas que eram comumente contra os princípios mais comunitários do festival. O bilionário Elon Musk e outros empresários da tecnologia, por exemplo, já usaram o evento como networking para negócios — comumente pagando caro para ter instalações exclusivas.
Paralelamente, o preço dos ingressos foi gradativamente aumentado, com a revista Money estimando, em 2017, que o custo médio para participação girava em torno de US$ 2,4 mil (R$ 13,9 mil) por pessoa.
Mais além, regras altamente restritivas começaram a afastar participantes: em algumas edições, eram proibidas as capturas de imagens — mesmo para fins pessoais — sem que autores compartilhassem dos direitos de veiculação com a organização por meio de contratos (e essas imagens também eram proibidas de serem veiculadas comercialmente).
Isso sem mencionar as críticas relacionadas à pegada de carbono e outros impactos ambientais.
Apesar de tudo isso, a organização por trás do evento ainda se classifica como non profit, ou seja, sem fins lucrativos.
Desafios recentes e impacto na receita
O festival de 2023 enfrentou desafios climáticos severos, como chuvas torrenciais que dificultaram a experiência e influenciaram a participação, impactando diretamente a receita obtida com a venda de ingressos e patrocínios.
Em 2024, a situação não mudou: no primeiro dia, uma mulher de 39 anos morreu na estrutura montada em Black Rock, sendo encontrada desacordada. Os serviços de emergência não foram capazes de revivê-la, e a notícia correu pela imprensa internacional. Vale lembrar que a edição deste ano também foi a primeira a não render o sold out — quando todos os ingressos são vendidos — na história do festival.
Esse déficit se reflete na dificuldade de manter as operações, incluindo infraestrutura e segurança, elementos essenciais para a continuidade do evento no deserto de Black Rock. Como parte de seu plano para equilibrar as finanças, o Burning Man anunciou medidas de redução de custos, incluindo a redução da equipe e outras despesas administrativas.
A organização decidiu então procurar o apoio dos “burners” (participantes fiéis) para cobrir o déficit e manter a programação artística e estrutural do evento, evitando uma possível pausa nas próximas edições. No comunicado, Goodell enfatizou que o festival depende agora de sua comunidade para continuar sendo um espaço de expressão e inovação.