Luiz Fernando Coelho

Quando o bolo não merece velas

O colunista Luiz Fernando Coelho questiona os limites do direito de imagem após clubes de futebol multarem boleiras

Bolo de aniversário temático do time de futebol Palmeiras
Foto: YouTube/ Camila Vechini Confeitaria Artesanal

Venho trazendo a vocês meus pontos de vista em relação às questões que envolvem os direitos e deveres, e as responsabilidades que patrocinadores e patrocinados do esporte devem ter.

Hoje tomei conhecimento de uma medida que o Vitória da Bahia e o Palmeiras estavam tomando, ao ajuizar uma queixa de utilização indevida de suas marcas por parte de empresários que se recusavam a pagar os direitos de uso de ambas as marcas. Fiquei impressionado, uma vez que não via um grande clube ter esse tipo de atitude há muito tempo. Achei louvável que não só a direção do clube, como também seus respectivos departamentos de marketing, estivessem atentos ao que estava acontecendo. Comecei então as minhas buscas para saber a que se referia essa utilização indevida.

Meus amigos, quase caí da cadeira ao descobrir o que estava rolando nesse campo minado que é o direito de utilização de marcas, logos, cores etc. A questão era muito simples. Os dois clubes estão processando as senhoras que fazem bolos para aniversário de seus pequenos torcedores, pois elas, as doceiras, confeiteiras, como queiram chamar, usam os dois brasões, de Palmeiras e Vitória, sem ao menos enviarem um pedacinho desses bolos, a título de royalties, àqueles que detêm o direito da marca.

A esta altura, creio que os respectivos departamentos de marketing também tenham demonstrado sua preocupação se o glacê utilizado pelas simpáticas doceiras e confeiteiras se encontra no pantone correto e se a tipologia criada com aquelas deliciosas massas à base de açúcar, manteiga e às vezes anilina também seguem o padrão que consta no manual de marca das duas agremiações.

Meus amigos, isso é uma das coisas mais esdrúxulas de que já tomei conhecimento. Fico imaginando como esses microempreendedores de bolos feitos em casa, uma tradição de muitos anos, reagiram a essa ação dos clubes. Isto é muito mais que um exagero. Não é possível que um clube de futebol, por onde passam milhões e milhões de reais, esteja preocupado em cobrar de microempreendedores algumas moedas pelo uso indevido da marca.

Para terminar o material de pesquisa a que tive acesso, ainda havia uma frase formulada de um jeito fantástico, e dita no microfone de uma rádio líder em audiência: “Apelamos aqui para que a D. Leila, presidenta do Palmeiras, que também é mulher e dessa forma deve entender melhor esses problemas de cozinha, que tome a frente dessa questão”.

Melhor teria sido não conjurar a frase, quase que atrelando o gênero da presidente da Sociedade Desportiva Palmeiras ao destino de estar sempre pilotando um artefato em sua cozinha, tratando assim de resolver os problemas de ordem jurídica com pedaços e pedaços do referido bolo.

Como dizem os mais antigos, eu morro e não vejo tudo.