O Web Summit 2024, realizado em Lisboa, foi novamente o ponto de encontro global para tecnologia, inovação e criatividade. Com mais de 70 mil participantes e 3 mil empresas expositoras, minha curiosidade ao participar pela primeira vez do evento foi em vivenciar a sua organização, setorização e como empresas e países se expõem nesse contexto tão… tecnológico?
Vamos começar falando de expectativas? Bem, começando com os termos “inovação” e “tecnologia”, a minha primeira ideia era ver um monte de geringonças e criações com robôs e máquinas diferentes. Além disso, também correu pela minha mente ver mais marketeiros e inspirações tecnológicas aplicadas às cenografias. O que eu vi na prática correspondeu e não correspondeu a tudo isso.
Começando do começo, pelo que nem todos sabem: o Web Summit não é um evento de conteúdo, é um evento de networking. Tudo é pensado para potencializar as relações humanas e descoberta entre os mais de 70 mil participantes, e eles fazem isso muito bem.
Outro ponto é que o foco fica uns 95% direcionado nas startups e.. startups são práticas e minimalistas, correto? São muitos profissionais fazendo muita coisa diferente em seus países e trocando centenas de informações relevantes por segundo. É tipo um brainstorm monumental. Certamente decisões relevantes sobre o futuro da IA foram tomadas do meu lado e eu nem fiquei sabendo.
Alguns dados do Web Summit Lisboa
Repassando alguns dados:
- Sold out com 71.528 participantes de 153 países;
- 3.050 empresas exibindo em um espaço completamente vendido, com 1.066 investidores, 935 palestrantes e 2.005 representantes da mídia;
- Mais de 44% das startups são fundadas por mulheres, o maior percentual até agora. As mulheres também representam 42% dos participantes e 37% dos palestrantes;
- Os parceiros que expuseram incluem IBM, Adobe, Meta, Huawei, SAP, DELL, Qualcomm, VISA, American Express, Niantic, Pitchbook, EDP e KPMG;
- Milhares de novos meetups comunitários estão em andamento, permitindo que os participantes encontrem novas comunidades em um evento maior do que nunca;
- 62 delegações comerciais, representando 36 países, com maior representação da Alemanha e do Brasil.
E por mais que você não faça essas conexões de fato, só de estar lá você é automaticamente influenciado. Esse é o poder das experiências ao vivo que eu mais amo: você se influencia querendo ou não pela atmosfera.
Organização e espaços do Web Summit
Outro ponto que eu amei e comentei nos stories do Promoview foi a simplicidade na resolução das necessidades do evento e na organização impecável do Media Village, que recebeu mais de 2 mil jornalistas com o restaurante mais bem servido que eu já presenciei como imprensa e com todos os voluntários muito bem instruídos.
Ah, esqueci de comentar que o evento é realizado por voluntários? Em sua maioria estudantes das universidades locais, e todos com muita disposição e gentileza, é de se chocar uma vez que geralmente esse é um dos maiores problemas dos eventos de grande porte – a comunicação básica entre organização e participantes.
No último dia eu andei por todos os 5 pavilhões, em que a feira e os conteúdos secundários acontecem, e fui fazendo mil notas de tudo o que fui vendo. Não consegui tirar foto de tudo mas gravei vídeos sobre o que achei mais relevante, e em breve farei um vídeo em meu instagram, para ilustrar melhor. Para os mais gráficos, segue o tour:
Pavilhão 1
Era o primeiro espaço acessado ao sair da MEO Arena, palco principal do evento. Foi nele que algumas das maiores marcas do mundo se posicionaram, provavelmente por ser o pavilhão mais acessado de todo o evento, como IBM, Visa e Adobe (lembrando que as gigantes Google, Open AI e Meta não estavam expondo, o que eu achei chocante mas compreensível dados os últimos acontecimentos). Vamos falar sobre as ativações?
A Visa ofereceu um jogo interativo em que os participantes simulavam a aprovação e reprovação de compras (ge-ni-al), representando a tecnologia de segurança da empresa. Ali, cada participante via uma solicitação na tela com o perfil do comprador, e decidia se aprovava ou não aquela compra. Como prêmio, todos ganhavam uma miniatura do carro exibido no estande, em estilo Lego, que conquistou o público e gerou filas.
Outro destaque foi a IBM, com uma mesa de ping-pong monitorada por inteligência artificial – que para mim, foi a ativação mais bem “amarrada”, lúdica e completa de todo o evento. Sensores nas raquetes capturavam dados como velocidade da bola, ponto de impacto e tipo de batida, que eram enviados para a plataforma Watson X e exibidas ao fim das partidas.
A Adobe também se destacou, permitindo que os visitantes personalizassem garrafas de água com imagens criadas pelo Adobe Firefly, uma ferramenta de inteligência artificial generativa. Enquanto a garrafa era impressa, os participantes podiam aproveitar uma sala de espelhos cheia de bolinhas coloridas em neon para tirar fotos.
Além disso, importante citar que em cada pavilhão haviam dois palcos nos cantos, com conteúdos relacionados às suas temáticas e a maioria dos estandes era na realidade de países atraindo investidores e startupeiros. Esses estandes eram diferenciados mas em sua maioria apresentavam os clássicos miniauditórios e mesas para reuniões rápidas. Alguns se destacaram por ir muito além, mas falo disso na sequência.
Food Summit
Entre os pavilhões acontecia o “Food Summit” — na verdade a tradição é meter um “summit” no final de qualquer proposta do evento, como o night summit (com eventos nos bares e festas das marcas pela cidade), o wine summit (de vinho, que ficava lá dentro) e o que mais você imaginar, era só colocar o summit no final.
Aqui, ao invés de concentrar o espaço de alimentação em um lugar só, vários food trucks eram posicionados entre os pavilhões e no entorno com uma variedade gigante de alimentos de todos os lugares do mundo.
Agora, voltando ao interior dos pavilhões.
Pavilhão 2
No Pavilhão 2, o foco foi em tecnologia corporativa e SaaS. Os estandes de países trouxeram uma boa diversidade, como a Turquia que apostou em um design sóbrio com madeira, enquanto a Alemanha — logo à frente — criou um ambiente descontraído com balanços, mesa de pebolim, um carrinho de café que servia todo mundo e tudo isso em grama sintética e eu pude imaginar facilmente um parque alemão ali. Clima descontraído e o pessoal bem relaxado, eu amei.
Outro espaço que chamou a minha atenção foi a Niantic, empresa famosa por desenvolver jogos em RA como Pokemon Go, que atraiu o público com uma experiência interativa de bingo que distribuía brindes como cadernos e bolsas, além de oferecer realidade aumentada em intervenções urbanas com estátuas renascentistas.
Pavilhão 3
O Pavilhão 3 trouxe experiências mais imersivas. O estande do Brasil foi um dos maiores, com uma estrutura que reuniu diversos hexágonos, referenciando as abelhas, feitos de papelão e um miniauditório (não tão mini assim) equipado com um dos mais lindos painéis de LED que vi no evento.
Mas quem mais me impressionou, dos países, foi o Qatar. Com uma cenografia sofisticada e texturas que remetiam às construções em regiões áridas, acredito ter sido uma das melhores experiências com reflexo cultural da feira. Além de experiência em realidade virtual com animais do bioma do país, havia também aplicação de hena nas mãos e escrita (do que eu acredito ser) de nomes ocidentais na língua local.
A Huawei também se destacou pra mim pela forma extremamente lúdica que optou por exibir seus serviços para empresas, indústrias e até casas, em uma estrutura que acredito fortemente ser modular e estar em “turnê” por feiras mundo afora. A inovação ficou por conta das selfies personalizadas por inteligência artificial, com pesquisa em tempo real com os participantes sobre a própria feira, com fricção quase nula.
Além disso, quem impactou negativamente foi a Dell. Um estande bem bacana, mas lá tinha a famigerada roleta de prêmios, um clássico que conhecemos bem. E entre os prêmios havia um notebook, o que foi o suficiente para gerar filas imensas de dezenas, talvez centenas de pessoas, que só ganhavam, na prática, uma caneta ao participar. Sim, era uma roleta digital (possivelmente) viciada, achei lamentável e um brand experience bem mal feito por uma grande marca.
Pavilhão 4
Já o Pavilhão 4 combinou inovação corporativa e espaços de networking. O estande da Áustria foi um dos mais animados — acho que só perdeu para Portugal que ocupava um grande espaço na entrada do pavilhão 1 e também faziam muitas festas —, com DJ, bebidas e um simulador de voo com protótipo de um avião (possivelmente em escala real) em realidade virtual.
O Retail Hub, com um design moderno bem verde neon e elementos de LED, apresentou experiências relacionadas ao varejo. O Women in Tech Meetup destacou-se como um espaço inclusivo para mulheres na tecnologia, com um tapete roxo que criou um ambiente visualmente acolhedor — e que me chamou atenção pela temática e pela minha cor favorita.
Pavilhão 5
O Pavilhão 5, por outro lado, ficou aquém das expectativas. Apesar de abrigar temas relevantes como Marketing, E-commerce e Social Media, sua estrutura simples, localizada em uma tenda, não transmitiu o mesmo impacto dos outros pavilhões e decepcionou fortemente.
Últimas considerações
Entre os destaques adicionais, os meetups foram uma das melhores iniciativas do evento. Facilitados pelo aplicativo oficial, conectam pessoas com interesses em comum, por 20 minutos em espaços reservados, como o Meetup de empresas brasileiras e CEOs de Barcelona, além de dezenas de outros encontros com temas específicos.
Outro ponto interessante foram os painéis de pesquisas interativas nos pavilhões, onde os participantes podiam colar adesivos para responder perguntas. Simples e lúdico, esse método engaja o público de forma criativa e sempre que eu vejo acho genial por ser tão efetivo com baixo custo.
No entanto, nem tudo foi perfeito. A acessibilidade foi um dos grandes problemas que identificamos no evento, como a ausência de tradução para Libras, materiais em Braille e acessibilidade física adequada foram pontos que prejudicaram a inclusão.
Para fechar, como experiência e captação de conteúdos e tendências com a Ariane Feijó e o time da TSB, foi maravilhoso. Muita inovação e tecnologias focadas somente nas telas dos celulares e notebooks, sem grandes invenções, mas que serviram ao que se propuseram. Fico agora na expectativa de ver o quão diferente será a próxima edição no Rio, em abril de 2025, com a execução de muitos de vocês que me leem agora. Será que o Brasil vai se superar em qualidade mais uma vez? Vamos ver!