Já tem no Brasil

Loja autônoma da Coca-Cola HBS na Hungria reacende debate sobre a automatização do varejo: será que a moda pega?

Coca-Cola HBC Hungary, a engarrafadora da marca de bebidas, firmou parceria para levantar lojas sem caixas e com check-out autônomo, algo já presente em outros países, incluindo o Brasil

A Coca-Cola HBS Hungary, que é para a Hungria o mesmo que a Coca-Cola FEMSA é para o Brasil, inaugurou recentemente a sua primeira loja autônoma, dotada de sistemas de pagamento automático que elimina a necessidade de um “check-out assistido”.

De acordo com a empresa, a empreitada foi feita em parceria com a fornecedora de serviços tecnológicos Kende Retail, e é a primeira de seu tipo no país do leste europeu, em um formato similar ao que foi praticado (e abandonado) pela Amazon há alguns anos.

Imagem de um sistema de pagamento automático de compras em um mercado
Imagem: aleksandarlittlewolf/Freepik/Reprodução

O que há por trás da loja autônoma da Coca-Cola

A abordagem de loja autônoma da Coca-Cola HBS não é de todo uma novidade, e o objetivo dela é bem claro: a ideia da empresa é ser mais atraente para um público jovem, cada vez mais conectado e familiarizado com sistemas automáticos de gestão de rotina.

Tudo isso é uma forma pomposa de dizer que consumidores atuais querem perder cada vez menos tempo à ação de “pegar fila no caixa” quando fazem as suas compras diárias.

A ideia por trás de uma loja autônoma é simples, do ponto de vista tecnológico: toda a estrutura é permeada por sensores e câmeras que monitoram os produtos a todo momento – desde quando eles são colocados nas prateleiras, até quando o cliente os retira e os leva à saída, normalmente contando com algum app ou outra solução digital conectada que permita o pagamento em forma de débito ou cobrança posterior.

Assim como dissemos, nada de muito novo: a Amazon já tentou algo similar no passado com o projeto “Amazon Go”. Entretanto, ao contrário da engarrafadora de bebidas húngara, a rede varejista estadunidense na verdade empregava o trabalho humano no monitoramento e checagem de produtos e pagamentos – ou seja, era inteligência artificial (IA), até descobrirem que não era.

Ainda assim, a tendência de uma loja autônoma parece estar crescendo no setor varejista global.

Imagem mostra a loja autônoma de engarrafadora da Coca-Cola, na Hungria
Imagem: Coca-Cola HBS Hungary/Reprodução

Automação no varejo cresce, mas não é livre de discussões polêmicas

Segundo uma análise da plataforma de mercado Statista, a China é, hoje, o maior mercado de sistemas de loja autônoma. Pelo levantamento, a gigante asiática contou com faturamento de US$ 11,8 bilhões no setor em 2022, e a projeção é a de que, até 2027, esse valor suba para US$ 75,58 bilhões.

Nos EUA, o conceito da já mencionada Amazon Go ajudou a popularizar o conceito no Ocidente, haja vista que a eficiência aprimorada da experiência de compra atrai os olhos de potenciais investidores. Entretanto, há discussões a serem debatidas.

O que aconteceu com a Amazon levanta discussões de transparência nas informações tratadas por uma loja autônoma, já que os dados dos consumidores estariam armazenados – ou, ao menos, vistos e utilizados – pelas marcas por trás dessas estruturas automatizadas.

Mais além, o caso da Amazon não necessariamente pode ser o único, onde a comunicação do projeto diz uma coisa, mas sua execução mostra outra: a rede dos EUA ainda dependia da força de trabalho humana para funcionar, mas isso nunca havia sido divulgado até se tornar uma “descoberta” da imprensa e da comunidade tecnológica.

Ainda assim, o prospecto da redução de custos e aumento da agilidade podem impulsionar a adoção. Críticos, então, começaram a avaliar a questão por outros fatores: potencial aumento de taxas de desemprego, falhas técnicas e resistência cultural. Mesmo assim, 72% dos consumidores globais veem a tecnologia como útil, segundo a McKinsey.

Imagem mostra loja autônoma Amazon Go, nos EUA
Imagem: Amazon/Divulgação

Uma loja autônoma teria sucesso no Brasil? Tendências apontam para avanço do setor

O Brasil não é alheio da discussão da implementação de uma loja autônoma. Por aqui, duas empresas têm destaque neste campo – ambas na oferta de soluções tecnológicas para isso: a Muffato Gourmet e a startup Market4u.

O primeiro é um mercado próprio, inaugurado em 2022, no Paraná. A loja, totalmente autônoma, usa sensores para rastrear produtos, e o pagamento é feito por uma plataforma acessível via smartphone, sem filas.

Já a segunda é responsável por desenvolver ferramentas para automatizar a precificação dos produtos, a fim de criar uma estrutura para locais menores. A tecnologia integra dados de estoque e demanda em tempo real. Ela é majoritariamente vista em condomínios, mas seu plantel de clientes inclui alguns nomes bem reconhecidos, como Intelbrás, Ambev e GOL – Linhas Aéreas.

Imagem mostra loja autônoma da Market4u em shopping de São Paulo
Imagem: Market4u/Divulgação

Na prática, entretanto, a Market4u e o Muffato oferecem a mesma solução: um mercado onde você não pega filas, nem interage com figuras humanas para as suas compras. Dadas as devidas reservas, esse formato tem o adendo de usar tecnologias de IA e machine learning para executar suas tarefas com precisão e transparência.

Sobre as grandes redes varejistas, algumas marcas já flertam com pagamentos automáticos: o Grupo Pão de Açúcar, o Grupo Carrefour e as lojas Extra, por exemplo, contam com sistemas do tipo. Entretanto, nenhuma delas tem, até agora, uma “loja autônoma” no conceito literal da expressão.

Loja do mercado Muffato no Paraná, é totalmente sem humanos, em sistemas automatizados de pagamento
Imagem: Muffato Gourmet/Divulgação

Segundo a FGV, isso pode aparecer no futuro brasileiro, mas ainda deve demorar: 82% dos brasileiros ainda não confiam plenamente em pagamentos automatizados, e se sentem mais seguros dentro dos formatos tradicionais.

Isso não significa que nós sejamos avessos à ideia, é importante lembrar: mas a julgar como as redes varejistas de grande porte tendem a oferecer ambos os formatos, a introdução de uma loja autônoma, 100% independente da força humana, pode demorar um pouco mais para aparecer.