No último dia 19, a Apple anunciou o iPhone 16e, uma versão com preço mais acomodável aos bolsos dos fãs de tecnologia — uma mudança não tão nova, mas ainda assim notável por parte da empresa de Cupertino.
Isso porque, a preço sugerido de R$ 5.799, o novo aparelho é a primeira tentativa da “Maçã” em anos de acomodar os seus aparelhos (normalmente oferecidos dentro dos segmentos “premium” da indústria) a um público cujo orçamento disponível para smartphones tende a ser mais baixo.
Mas a grande questão é: foi a necessidade que fez com que a Apple lançasse o iPhone 16e? E se sim, “necessidade” do público…ou dela mesma?
Amigo do budget (mas nem tanto)
Antes de tudo, é importante ressaltar que o iPhone 16e não é exatamente “barato”. Sim, “mais barato” que seus “irmãos” maiores, mas não é exatamente fácil de comprar. Basicamente uma versão enxuta das versões lançadas ano passado, o novo aparelho da Apple traz todos os recursos digitais esperados da família de dispositivos — incluindo a Apple Intelligence, a suíte de aplicações em inteligência artificial (IA) da empresa, que concorre com marcas como a “Galaxy AI” da sul-coreana Samsung.
Porém, uma vantagem que a empresa tem nessa questão de preço, é o seu status. Especialmente no Brasil, há uma boa parcela de público que está disposta a ignorar o preço final do aparelho se isso significar o seu ingresso em uma clientela de percepção mais “exclusiva”.
A especialista em Neuromarketing, Jennifer de Paula, explica isso de forma mais sucinta: “a Apple sempre trabalhou com um conceito de escassez simbólica, onde seus produtos representam mais do que tecnologia, são status, pertencimento e diferenciação social.”
Entretanto, ela também argumenta que o lançamento do iPhone 16e pode trazer uma percepção oposta ao que a Apple possa ter como intenção: “a introdução de uma versão mais acessível pode reforçar ainda mais a divisão entre os usuários que possuem os modelos premium e aqueles que optam pela linha popular“.
Em termos práticos: comprar o iPhone mais barato pode fazer com que o cliente seja visto como “aquele do iPhone mais barato”. A questão da exclusividade e status pode migrar, sendo percebida não apenas por quem “tem um iPhone”, mas sim por quem é dono do modelo topo de linha — neste caso, o iPhone 16 Pro Max, vendido por aqui a partir de R$ 12,5 mil.
Para Jennifer, isso pode significar uma mudança de comportamento do consumidor, onde o dono de um aparelho pode antecipar seu processo de troca: se antes, alguém trocava de celular uma vez a cada dois ou três anos, agora podem se sentir pressionados a atualizar seus dispositivos em um intervalo mais curto.
“A marca pode estar explorando um fenômeno psicológico onde a exclusividade se desloca para os modelos topo de linha. Ou seja, ao invés de tornar a Apple mais acessível, essa estratégia pode incentivar ainda mais o desejo pelos modelos premium.A questão não será mais simplesmente ter um iPhone, mas sim qual iPhone você tem.“
Jennifer de Paula, especialista em Neuromarketing
iPhone 16e pode ser a tentativa da Apple de corrigir uma falha
Por outro lado, o lançamento do iPhone 16e pode ser uma necessidade da própria Apple. No passado, a fabricante estadunidense viu o seu aparelho budget-friendly iPhone SE (mais barato, inclusive, do que o lançamento de quarta-feira passada) não vingar como ela esperava.
Segundo dados da Consumer Intelligence Research Partners (via CNN Brasil), o iPhone SE representou apenas 5% das vendas do iPhone nos EUA no trimestre encerrado em 31 de dezembro de 2024. Globalmente, o iPhone SE representou apenas 1% das vendas do iPhone da Apple no ano passado.
Vale lembrar que uma ampla fatia do faturamento trilionário da Apple pode ser atribuído à marca “iPhone”: de acordo com a mesma fonte, dos quase US$ 4 trilhões (cerca de R$ 23 trilhões) da Apple, US$ 69,1 bilhões (cerca de R$ 395 bilhões) dos US$ 124,3 bilhões (cerca de R$ 715 bilhões) em receita declarada no primeiro trimestre fiscal de 2025 vêm do smartphone.
Entretanto, a análise flerta com a ideia de que a estratégia da Apple é mais voltada a repetir o sucesso de outro smartphone mais barato: o iPhone XR — um modelo apenas marginalmente inferior à versão XS, mas com a maior parte dos mesmos recursos.
A situação se repete aqui: para o iPhone 16e, a Apple repetiu muitos recursos dos modelos superiores: além da Apple Intelligence, o novo aparelho também conta com o mesmo processador do restante da linha, assegurando compatibilidade máxima com os recursos de IA da empresa.
Mais além, assim que foi anunciado, o iPhone 16e substituiu o iPhone SE na loja oficial da Apple — este último foi, para todos os efeitos, totalmente descontinuado. Finalmente, o mesmo botão de Ação dos modelos superiores também pode ser visto na variante mais barata.
Isso dito, ele tem uma câmera a menos, mas é o primeiro iPhone a usar uma linha de modems 5G fabricados pela própria Apple, o que deve representar uma boa economia nos custos de confecção do aparelho para a empresa.
Ainda não se sabe qual das duas análises vai se confirmar. O iPhone 16e foi anunciado, mas a Apple só abrirá a sua pré-venda no Brasil no próximo dia 28.