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Sudeste tem 49% dos patrocínios em festivais de música; Norte, só 5%, aponta estudo patrocinado pelo Promoview

Estudo revela que 886 marcas investiram em eventos musicais, mas distribuição regional expõe desigualdades entre regiões

Em 2024, 886 marcas engajaram no patrocínio de festivais de música no Brasil, de acordo com o estudo “Mapa dos Festivais: Panorama 2024”, da plataforma Mapa dos Festivais em parceria com a agência Walk the Talk. O estudo é patrocinado pelo Promoview.

Apesar do número expressivo de realização de eventos, a distribuição geográfica desse volume revela uma disparidade problemática: a região Sudeste concentrou 49% dos patrocínios, enquanto o Norte ficou com apenas 5%.

Concentração limita diversidade cultural e artística

Imagem mostra cena de edição anterior do Lollapalooza
Imagem: Lollapalooza/Acervo

A hegemonia do Sudeste vai além dos números. De acordo com o estudo, a região sedia grandes festivais multigênero, como Rock in Rio e Lollapalooza, que atraem patrocínios de marcas globais para festivais de música.

Já o Norte e o Nordeste priorizam ritmos locais, como forró, axé e carimbó, mas sem o mesmo apoio financeiro.

O impacto é visível na representatividade. Apenas 13,2% dos artistas em palcos são mulheres cis, e menos de 1% são pessoas trans ou não binárias. Além disso, 63,3% dos line-ups são homens cis, cenário que se repete desde 2023. Sem investimento, festivais regionais têm dificuldade para incluir novos talentos ou gêneros.

Marcas de bebidas dominam, mas não resolvem o desequilíbrio

Gráficos mostram dados de uma pesquisa relacionada a festivais de música, apontando quais as marcas favoritas do consumidor nesses eventos
Imagem: Walk the Talk/Mapa dos Festivais/Reprodução

Segundo o levantamento feito pelas organizções, quatro das cinco marcas mais ativas em patrocínios a festivais de música são do setor de bebidas:

  1. Coca-Cola: 39 festivais
  2. Amstel: 29 festivais
  3. Budweiser e Schweppes: 25 festivais
Gráficos mostram dados de uma pesquisa relacionada a festivais de música, apontando comportamentos de consumo e valores
Imagem: Walk the Talk/Mapa dos Festivais/Reprodução

O protagonismo do setor não vem sem explicação: segundo o estudo, 40% do público gasta até R$ 400 por dia em alimentação e consumo durante os eventos. Além disso, 57% dos frequentadores são da classe C, grupo que prioriza experiências acessíveis. Para as empresas, é uma estratégia clara: estar onde o consumo é alto.

Porém, o foco em bebidas não reduz a desigualdade regional. Enquanto o Sudeste recebe R$ 375,40 por ingresso (valor acima da expectativa média do público), outras regiões têm ingressos mais baratos, mas menos patrocínios.

A concentração de investimentos no Sudeste mantém o ciclo de vantagem para festivais já consolidados, como Rock in Rio e Lollapalooza, ou ainda o bi anual The Town, e deixa de priorizar eventos emergentes ou independentes — sobretudo os que são realizados em outras regiões.

O caminho para mais equilíbrio nos patrocínios de festivais de música

Gráficos mostram dados de uma pesquisa relacionada a festivais de música, apontando a disparidade de ofertas entre as regiões e público
Imagem: Walk the Talk/Mapa dos Festivais/Reprodução

Apesar dos desafios, o levantamento também indica que há oportunidades que podem contornar essa desigualdade.

Segundo os dados levantados, a região Norte dobrou seu número de festivais em 2024, e o Nordeste, com eventos como o Festival de Verão de Salvador, também registrou crescimento.

Muito disso se deu pela priorização a artistas regionais — estranhamente, um motivo parecido ao que levou ao desequilíbrio de oportunidades em primeiro lugar. A valorização da cultura local traz benefícios interessantes, como a descoberta de novos talentos e a expansão de ações por parte de marcas (ativações, campanhas regionalizadas de live marketing, por exemplo.

Com isso, marcas podem se destacar ao apoiar iniciativas locais, como os 42 festivais no Sul e 19 no Norte, que priorizam artistas regionais.

O estudo também aponta que 76 festivais foram gratuitos em 2024, muitos deles fora do Sudeste. Em contraponto aos valores altos praticados pelos festivais de maior estrutura na região Sudeste, uma oferta gratuita traz mais potencial de atração à população, criando uma via para explorar mercados subaproveitados.

Metodologia do estudo

O Mapa dos Festivais: Panorama 2024 combinou três técnicas para garantir precisão e representatividade. A pesquisa mista inclui mapeamento de eventos, entrevistas quantitativas e grupos focais, abrangendo todas as regiões do Brasil:

  • Mapeamento de festivais: 402 eventos analisados, cobrindo todos os gêneros (rock, eletrônica, sertanejo etc.) e portes (grandes a pequenos)
  • Dados coletados de todas as regiões, com destaque para o crescimento de 69 festivais em primeira edição
  • Pesquisa quantitativa: 1.170 entrevistados que frequentaram ao menos 1 festival em 2024
  • Amostra representativa de 18 a 54 anos, classes sociais (A, B, C), gênero, etnia e região
  • Campo realizado entre 29 de dezembro de 2023 e 10 de janeiro de 2024
  • Grupos focais com superfãs de festivais, divididos em duas faixas etárias: 18–30 anos e 30–45 anos
Rafael Arbulu Redator
Redator
Jornalista com (quase) 20 anos de experiência cobrindo tecnologia, entretenimento e negócios, e especialista em conteúdo SEO.