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A Gillette sabe o que faz. Já Neymar...

O filme passou no intervalo do Fantástico, um dos horários mais concorridos da TV Globo, além de ser publicado pelo craque em seu Facebook e Twitter.

Desde 2010, Gillette e Neymar são parceiros. O craque empresta sua fama para a marca, que colhe os louros da parceria com vendas que geram lucros bilionários. A parceria era uma das apostas da marca da P&G para 2018, ano de Copa do Mundo. A empresa capitalizaria em cima do craque, com hexa ou não. Foi o segundo caso. E a polêmica foi instaurada.

O vídeo passou no intervalo do Fantástico, um dos horários mais concorridos da TV Globo, além de ser publicado pelo craque em seu Facebook e Twitter. Um trabalho primoroso do pessoal da Grey Brasil. Um vídeo muito bem feito assinado pela turma da Picma Creative Post (um job feito em menos de 40 horas).

O resultado: alguns milhares de visualizações já nas primeiras horas após a publicação. Os termos Neymar e Gillette nos Trending Topics Brasil. Inúmeros artigos de opinião sobre a postura do craque. O buzz foi criado. Sucesso para a Gillette. As vendas não devem decepcionar, afinal, a aposta da marca no craque, lembremos, data de 2010. A parceria é êxito certo. Mas e para Neymar?

O craque saiu execrado do Mundial da Rússia. Até o último domingo, não havia se pronunciado publicamente com tamanha exposição (deu uma rápida entrevista na abertura de um evento e só). Será que se posicionar por meio de uma publicidade foi a melhor escolha?

Para o bolso dele, certamente. Mas e para sua imagem? Pouco depois do fim da Copa, foi noticiado que o staff do craque estava reunido planejando maneiras de reerguer sua imagem. A repercussão do vídeo de Gillette parece mostrar que tal atitude, talvez, não tenha sido a melhor escolha.

A começar pelo discurso. O texto (que pode até ter sido aprovado por Neymar, mas certamente foi feito por um publicitário) nem cita desculpas, apenas justifica as atitudes do jogador.

Além disso, há uma clara confusão entre comunicado e peça publicitária. Afinal, qual o objetivo aqui? Divulgar – finalmente – o posicionamento do jogador diante da eliminação na Copa, atrelar a marca Gillette ao discurso ou a Gillette mostrar seu apoio a Neymar, independentemente de suas atitudes?

Quando Tiger Woods traiu sua esposa, o atleta concedeu coletiva de imprensa para tratar do assunto, e, pouco depois, a Nike soltou um dos filmes mais controversos da história recente da publicidade. O comercial “Earl and Tiger” traz a voz do falecido pai do golfista tendo uma conversa rápida e franca com o filho.

O vídeo causou polêmica, mas não varreu para debaixo dos panos. Como bem diz a voz de Earl Woods, a intenção era promover o debate.

Já o filme de Neymar é apenas um discurso que justifica suas atitudes. Não traz para o lado do craque quem já tinha antipatia por ele. No máximo, mantém os fãs que ainda confiam no jogador.

A repercussão do comercial “Um novo homem todo dia” poderá afetar muito mais a imagem de Neymar do que da Gillette. Ambos chegarão a 2022, mas apenas um terá o peso de milhões nas costas. Resta saber se o Brasil inteiro realmente se levantará com ele.