Uma homenagem sincera de quem admira muito essa pessoa.
O que dizer deste ser humano? Com a mais absoluta certeza, esta foi a pessoa mais divertida com quem trabalhei.
Formado em Direito, atuava na área de promoções, quando trabalhamos juntos. E como todo bom advogado, sua mesa era uma trincheira de papéis e pastas. Segundo ele, tudo muito organizado.
Quando o conheci ele parecia um enorme urso. O cara era enorme, barba e cabelos longos. ‘Palmeirista’ doente. Além de tudo, fumava muito. E em todos os lugares. Mesmo os proibidos.
Certa vez entrei no banheiro e ele estava lá. Óbvio que fumando. Quando me viu, jogou o cigarro no lugar que estava mais próximo. No lixo.
Caros leitores, lixo de banheiro tem dois componentes sensacionais para interagir com uma guimba de cigarro acesa: papel e plástico.
Cigarro no lixo.
Ele saiu apressado.
“Pedrão, tava fumando, cacete?”
“Não, não”.
“Tenho que ver umas coisas”.
E eu retornei à minha posição de trabalho. Segundos depois, a Brigada de incêndio do Centro Empresarial onde trabalhávamos invade nosso departamento. Havia fogo no banheiro.
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Numa outra ocasião, durante a Copa da França, ele nos convidou para assistir o jogo em sua casa. Fez um churrasco.
Brasil X Holanda. Quando a partida começou, já tínhamos tomado tudo que era possível. Aprontado um monte. Inclusive escondemos na garagem do vizinho de frente o carro de uma de nossas convidadas. Nem preciso falar no que deu quando a mulher saiu para ir embora.
Mas, voltando ao futebol.
Se eu me lembro, afinal estava meio bêbado, a Holanda fez 1X0. O Brasil empatou! Gritamos. Eu, o Pedrão e todos os convidados que lá estavam. Vibramos muito. Passados alguns minutos, o jogador, Cafu, fez uma jogada muito parecida com a do primeiro gol; e aí o Pedro grita: “Futa Cachu”! Torcendo desesperadamente. E gol do Brasil. Viramos o jogo. 2X1.
Quando conseguimos entender alguma coisa do que estava rolando, o juiz apitou o final da partida. Mas alguma coisa estava errada.
Reclamamos com a TV veementemente. Afinal, o Brasil tinha feito o segundo gol. Não adiantou. Foi para os pênaltis.
Algum tempo depois descobrimos que o segundo gol, que nos fez brindar e tomar mais uma, na verdade era o replay do intervalo.
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Outra coisa que o Pedrão tinha era o maior afeto com os seus papagaios. Tinha três, e, vira e mexe um dos bichos fugia. Ele esqueceu-se de cortar as asas.
Morávamos perto um do outro. Num determinado dia saí de minha casa e me deparei com aquela pessoa subindo numa escada ao lado de uma árvore. Por quê?
Lá estava o papagaio olhando para o Pedro, e, cada vez que ele se aproximava, o bicho dava aquele passinho pro lado. O suficiente para não ser pego.
Dava o passinho e olhava pro Pedro com aquela cara de inocente. O camarada foi ficando brabo, e partiu pra cima do pássaro.
Partiu mesmo. Só que o galho da árvore desceu junto, a escada e o coitado do Pedrão.
E o papagaio ainda fez um som que pareceu muito com um He He He.
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Mas a melhor situação de todas foi com uma fita VHS. Acho que tem gente que nem sabe o que é isso hoje. Trata-se de objeto antigo onde gravávamos imagem e som, filmes, vídeos etc.
Como o Pedro era o gerente do projeto de esportes que nossa empresa patrocinava, ele era responsável por todo o acervo de material que havia saído na imprensa sobre o referido projeto. Inclusive as fitas de vídeo.
Um dia, para tirar uma onda e mostrar toda a sua organização enviou para nosso diretor, uma relação onde havia catalogado tudo o que dispúnhamos de material.
A fita número 1 (existiam a esta altura quase 200) era o videotape da primeira final que nosso time disputou.
Curioso, nosso chefe pede: “Pedro, você poderia me enviar a fita número um. Tenho curiosidade de ver como era isso há dez anos.”
-“Claro, imediatamente”. Respondeu ele.
Bingo!!! Na mosca! A fita um não estava no lugar.
As desculpas foram dadas com o firme propósito de que acharíamos a maldita fita um.
Passados alguns muitos dias, ninguém mais lembrava da porra da fita um, chega o Pedro, britanicamente atrasado como sempre, feliz da vida. Cheio de razão. Afirmou categoricamente: “Eu sou muito organizado. Sei exatamente onde está tudo. Aqui está a fita um.”
“Estava na minha casa pois levei para produzir um clip de nosso projeto.” Eu olhei aquilo sem acreditar muito. Mas quando examinei o VHS, estava lá escrito o conteúdo que havia. Era a fita um.
Ato contínuo, chega nosso diretor, um senhor bastante educado, dizendo assim: “Então, vamos ver”? O nosso Pedro já havia avisado a ele, diretor, de sua proeza.
Imediatamente entramos na sala de reunião, acertamos tudo e play. Primeiro frame, uma cartela com a data, o local e quais equipes disputaram aquele título.
Todos ficaram curiosos.
Finalmente iríamos ver como tudo havia começado.
Segundo frame, uma loura sensacional aparece na tela, lambendo seus beiços, provocativa, completamente pelada, e começa a beijar e chupar uma morena fazendo caras e bocas.
Estavam nas preliminares, não do jogo, é claro.
Rapidamente desliguei o aparelho de TV e ainda tive que ouvir: “Não, não, não tira não. Vamos ver como acaba. Vai ver o jogo está depois.”, uma hora da mais pura sacanagem.
A partir daquele dia, o acervo de imagens passou a ter como primeira fita, a fita dois.
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Aqueles foram tempos de muito trabalho, mas extremamente divertidos. Criamos uma equipe unida, onde um sempre estava pronto a acudir o outro.
Tenho enorme saudade do Pedrão e suas ideias. De sua coragem em propor e desenvolver ações. De seu jeito desengonçado, e, principalmente de sua lealdade, amizade, e…….espírito bom.
Nunca deixou ninguém na mão nos seus cinco anos de convivência, e, quis o destino, que numa dessas compras e vendas de empresas, eu, como gestor imediato, fosse incumbido de demiti-lo.
Aquele foi um dia muito triste.
Salve Pedro!