Marcada por muitos recursos visuais, a apresentação da SRCom recebeu admiração dos participantes no auditorio Lumiére neste domingo em Cannes. Intitulada “O poder do storytelling para tocar o coração das pessoas” a palestra desenvolvida por Flavio Machado, Daniela Thomas e Vik Muniz mostrou o valor da autoestima de toda uma nação, resultado obtido em 6 de agosto do ano passado, quando foi ao ar, para todo o mundo, a cerimônia de abertura dos jogos. A palestra foi mostrada ao vivo do perfil da SRCom no facebook
E se para as estruturas de competição o custo foi por um preço muito acima do inicialmente orçado, para o evento de abertura a verba foi curta e exigiu criatividade.
“A gente sabia que teria menos dinheiro para fazer a abertura desde o início”, lembra Machado. Já que era necessário economizar e improvisar, o conceito da festa acabou adotando o jeitinho brasileiro e passou a refletir o espírito da “gambiarra”. O termo, que acabou ganhando destaque nos sites especializados que cobrem o festival, mostra também a maneira como brasileiro trata com bom humor as situações de dificuldade.
Embora Machado não confirme o orçamento da festa, fontes dizem que a cerimônia custou cerca de R$ 100 milhões – bem menos do que os R$ 400 milhões dos jogos de Londres, em 2012, e cerca de um décimo do recorde que havia sido gasto em Pequim, em 2008. A mudança da temperatura da economia se refletiu na festa, segundo o Flávio. “Não havia nem clima para uma proposta muito extravagante.”
A cerimônia lá de 2016 contou também com os cineastas Fernando Meirelles e Andrucha Waddington como diretores, porém Machado afirma que Daniella Thomaz merece o maior crédito pelo conceito visual do evento. “Ela se dedicou à abertura como ninguém. Trabalhou muito bem o conceito do que quer mostrar, buscou uma razão para o que foi mostrado visualmente.”
Por sua vez, aqui em Cannes, Daniela mostrou como algumas ideias foram desenvolvidas tecnicamente, como a reprodução das florestas com fios de elástico e projeções, assim como a recriação dos cenários das favelas dentro do Maracanã. Outra inovação destacada na apresentação do Lumére foi "colocarmos um caldeirão como pira olímpica", lembrou ela.
“Somos seres emocionais e só há memória com emoção”, lembrou Flavio Machado, enquanto explicava a estratégia do evento, planejado em meio a uma enxurrada de más notícias na economia e na política que criaram resistência à Olimpíada do Rio, que foi realizada no meio de uma recessão econômica e muitos protestos no país, além das posições céticas da imprensa internacional.
Enquanto a Olimpíada teve o improviso como tema e também tentou resumir a história do Brasil para uma audiência internacional, a abertura da Paralimpíada trabalhou para despertar os cinco sentidos da plateia e de quem assistia ao espetáculo pela TV. Entre as cenas icônicas destacou-se o “balé” com a atleta Amy Purdy, que ganhou uma medalha de bronze competindo com snowboarding na Paralimpíada de Inverno de 2014.
Em sua apresentação, Vik Muniz contou que aceitou trabalhar no projeto olímpico porque nunca tinha ido a nenhuma cerimônia olímpica e por se tratar justamente da Paralimpíada.
Com o escritor (e cadeirante) Marcelo Rubens Paiva e o designer Fred Gelli, Vik disse que teve de lidar com a total instabilidade. “As pessoas esperavam que falhássemos”, ressaltou o artista plástico. Mas o grande desafio, para ele, era o fato de que tudo estaria em jogo naquelas três horas da cerimônia, sem a opção de um segundo take.
Mas, como “somos todos deficientes em alguma extensão”, lembrou ele, o caminho foi seguir adiante, reconhecendo isso. E o resultado foram momentos tão belos quanto a dança da atleta de snowboard americana Amy Purdy ou Clodoaldo Silva vencendo a escadaria diante dele para acender a pira olímpica.
Mas para Vik Muniz o momento mais emocionante foi um com o qual ele não teve nada a ver: o silêncio das milhares de pessoas quando a veterana medalhista Marcia Malsar, de bengala e caminhando com dificuldade, deixou cair a tocha olímpica e, na sequência, a explosão do público quando ela, enfim, consegue repassar a tocha para outra atleta, após levantar e retomar a caminhada, depois de ser ajudada pelo staff do evento.
E opinião final dele sobre o trabalho, depois de todas as dificuldades e instabilidades enfrentadas: “Faria de novo um milhão de vezes!”.