Esta é a pergunta que muitos fizeram, após terem presenciado o que aconteceu nas
águas do Rio Sena, aos pés da Torre Eiffel.
O primeiro ponto aqui é muito simples: por que a cerimônia foi tão linda?
Em nossa área de marketing, poderíamos chamar de que foi muito bem desenvolvido um tal de briefing, aprovado e seguido ao pé da letra.
Os franceses partiram de um conceito: DIVERSIDADE.
Esta foi a diretriz que se seguiu até as últimas consequências.
Os mínimos detalhes foram seguidos a partir daí. Para mim este é o grande segredo. Vejam, o que Paris oferece, que poderia fazer a diferença em relação as cidades onde os outros Jogos foram realizados?
O Rio Sena. Um palco natural, onde uma intensa narrativa pode ser realizada, aproveitando o potencial turístico e cultural da cidade. Os personagens dos quadros as margens do Sena assistindo aos atletas em seu desfile, foi uma inversão de papeis disruptiva.
Além deste e de outros exemplos de números artísticos, tendo como palco a história francesa, retratada nos monumentos existentes pelo leito do rio, pela primeira vez tivemos a presença de público de cerca de 300 mil pessoas, ao vivo. E não foram 600 mil por questões de segurança. Muitos dos presentes, sorteados entre os moradores da cidade, pela Prefeitura, e gratuitamente puderam fazer parte do maior evento esportivo do mundo, e poderão dizer orgulhosamente, eu estava lá.
Então, a partir daí, somaram-se uma série interminável de mudanças, que trouxeram dinâmica e inclusão, a ver: o desfile dos atletas entremeados por números artísticos, a narrativa do sequestro da tocha que só aparece quando entregue a Zinedine Zidane (com a plateia aclamando seu ídolo ao grito de “ZIZOU”), depois a tocha sendo passada a Rafael Nadal 14 vezes campeão de Roland Garros.
O espanhol se juntou à Serena Williams, dona quatro ouros Olímpicos, Nádia Comaneci, primeira atleta a receber nota 10 na ginástica artística e cinco vezes campeã Olímpica, e Carl Lewis, dono de 10 medalhas Olímpicas no atletismo. Todos atletas de outra nacionalidade, mas com vínculos extremos com os Jogos Olímpicos.
Lewis passou a tocha para a primeira representante da França, Amélie Mauresmo, primeira e única atleta do país a ser número 1 do tênis mundial. Mauresmo entregou a tocha a Tony Parker, um dos maiores nomes do basquete francês, com quatro títulos de NBA e presença no Hall da Fama.
Na sequência, foi a vez de um trio condecorado carregar a chama: Alexis Henquinquant, Nantenin Keita e Marie-Amélie Le Fur, grandes nomes da França no esporte paralímpico, multicampeões no triatlo e atletismo, respectivamente.
Dois grandes nomes do handebol francês, Michaël Guigou e Alisson Pineau receberam a tocha e passaram para uma legião de atletas do país, como Clarisse Agbegnenou (judô), Félicia Ballanger (ciclismo de pista), Renaud Lavillenie(atletismo), Florian Rousseau (ciclismo de pista).
O último a receber a tocha foi Charles Coste, do ciclismo, o mais velho campeão Olímpico francês ainda vivo, aos 100 anos, venceu o ouro em Londres 1948. Ele entregou a chama para Teddy Riner, do judô, três vezes campeão Olímpico e 11 vezes campeão mundial, e Marie-José Perec, tricampeã Olímpica no atletismo, que enfim acenderam a pira Olímpica.
Percebam, diversidade o tempo todo. E não fica por aí. Na cena do Banquete, um desfile de todos os gêneros; IMAGINE, uma música em inglês sendo cantada como hino da Paz, nas águas do Sena; o hino francês interpretado por uma lindíssima cantora negra, num dos pontos mais altos do trajeto; o juramento de técnicos, juízes e atletas, feito em conjunto. E mais uma série de outros exemplos que poderíamos enumerar aqui.
Mas olhando para o desafio de LA 2028.
Ousadamente repetiria o que os franceses fizeram. Sim, exatamente isso. Qual o conceito a ser criado pelo storytelling da cerimônia?
Determinado este tema, briefing, linha de pensamento, como queiram chamar, o próximo passo é imaginar o que, como Los Angeles se destaca no cenário mundial. E isso não me parece muito difícil, já que pensando em LA o que mais rapidamente vem a mente é o cinema, Hollywood, Disneylândia, entretenimento enfim, aquilo que os americanos sabem fazer muito bem. Por que não, então começar o exercício por aí, com um roteiro de um longa metragem, que teria como missão, obter grande sucesso de bilheteria, que não é muito difícil de se criar, na terra do cinema.
Poderiam me perguntar, mas Luiz, isso não é óbvio?
Minha resposta seria, talvez. Mas o óbvio é muitas vezes uma oportunidade de se iniciar um projeto, onde não é necessária muita explicação, simplesmente porque é óbvio e assim possibilita que os criadores sejam criativos nas metáforas a serem desenvolvidas. Afinal é tudo muito óbvio.
Take one!