Luiz Fernando Coelho

Comunicar: Uma arma para reconstruir na direção correta

Por Luiz Fernando Coelho. Qual o papel da comunicação como ferramenta crucial na reconstrução após o maior desastre ambiental já enfrentado?

Créditos: Unsplash
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Estamos escrevendo num dos veículos de comunicação de marketing mais conceituados neste Brasil. Eu fiquei muito tentado e acabei não resistindo a escrever sobre a situação da reconstrução do estado do Rio Grande do Sul.

Sei bem que aqui não é o lugar para tratar de assuntos que envolvam políticos, instituições e partidos. Mas sei que o que nós usamos no dia a dia, a COMUNICAÇÃO, é um dos agentes mais importantes nessa reconstrução.

Talvez, e espero firmemente que sim, esta seja uma pequena, mas valiosa contribuição neste momento em que as águas estão finalmente baixando e, cada vez mais, ter uma boa COMUNICAÇÃO se faz muito necessário.

Todos nós, pelo menos as pessoas que conheço, estamos impactados com o maior reflexo que a nossa irresponsabilidade em lidar com a natureza em nosso país nos apresentou. Digo maior, pois houve outros casos, mas nada tão grande como esse a que estamos assistindo.

Mas sempre tem alguém que poderá falar, e com razão, sobre a seca do nordeste brasileiro, as cheias e secas, (foi muito chocante também, ver os botos morrendo) sem precedentes da bacia amazônica, as inundações em Blumenau e Vale do Itajaí, e por aí vai.

Eu devo concordar, apesar de saber que, quando um fato se repete insistentemente na mídia, o que acaba acontecendo é que nos acostumamos com a desgraça, e assim ela deixa de ser manchete, dando lugar à próxima.

No entanto, apesar de poder estar muito enganado, nunca se viu, em um único estado, tantas cidades simplesmente desaparecerem e ficarem submersas, apontando para isso o fato de que, ao serem reconstruídas, tenham que ocupar outro lugar.

Muito bem. Como eu disse ali em cima, meu chamamento versa sobre as questões relativas a como serão abordadas as ações de reconstrução. No que tange à nossa atividade, seria muito importante fechar uma direção de não se apropriar das enchentes para mostrar todas as magníficas ações que a empresa A, B e C estão fazendo.

Que tal simplesmente fazer? E não termos arroubos de patriotismo, compaixão ou qualquer outra coisa que mostre aquilo que, no fundo, não retrata a realidade.

Que tal, também, se todas as notícias sobre políticos que embarcam nessa canoa, não para resolver problemas, mas para garantir votos nas próximas eleições fossem ignoradas? Nada de notícias nessa direção.

Que acham de um tribunal que julgue imediatamente aqueles que se aproveitam das doações, roubando-as e vendendo aos desabrigados, que não têm muitas vezes o que comer. Capturados, presos e sentenciados imediatamente a trabalhos forçados de limpeza das áreas atingidas.

Que tal não haver eleições nas cidades em reconstrução e esse recurso ser empregado nas obras da cidade? O pleito fica adiado para quando a vida voltar ao normal.

Que tal seria se não houvesse ações do governo federal, estadual ou municipal, veiculadas em qualquer órgão de comunicação, colocando como proprietário da ação este ou aquele, afinal o recurso a ser empregado foi gerado pelos brasileiros, sem cor ou sopa de letrinhas de partidos.

Sei que este artigo é um devaneio, quase que sem sentido, pois tais propostas seriam impossíveis de serem adotadas. Mas, acredito que a COMUNICAÇÃO, em suas várias faces, tem um papel fundamental na reconstrução do Rio Grande, e talvez, a partir de uma situação como essa, possamos desempenhar o nosso papel, o papel daqueles que têm a capacidade de fazer com que os fatos apareçam, um papel que evite que aqueles que estão sempre por aí, aproveitando-se dos impostos arrecadados e maus funcionários, se locupletem ainda mais, trazendo para si o mérito da solução dos problemas. Afinal, não estão fazendo mais que sua obrigação.

Nós todos somos culpados dessa e de outras tragédias que virão, pois fazemos campanhas mirabolantes, levando o público a acreditar que ESG é uma realidade, e que as organizações privadas e públicas estão fazendo seu dever de casa, quando sabemos que não é verdade.

E o pior, tenho que ouvir: “Mas é marketing”. Não é possível que seja dessa forma. O que é verdade é verdade. O que é meia verdade é mentira. Recolher o lixo separadamente, de forma a se poder reciclar, é um passo, sem dúvida. Mas isso simplesmente não é suficiente para se ter cuidado com o meio ambiente. É obrigação. Plantar árvores é lindo, mas quem cuida delas para garantir que cresçam e recuperem a área?

Enfim, gostaria muito que nós, responsáveis por comunicar, tivéssemos a consciência de que trazer a público ações mais ou menos politicamente corretas, não é suficiente para evitar uma nova tragédia como a que vimos no Sul do nosso país.