Luiz Fernando Coelho

Gatilhos, espoletas e insights no trato de realidades adversas

Por Luiz Fernando Coelho. Diante de uma realidade repleta de enganos, desenvolver um programa de recuperação para um grupo ou empresa exige mais que soluções prontas; Descubra quais

Créditos: Unsplash
Créditos: Unsplash

Outro dia fui desafiado a escrever um texto sobre como lidar com uma realidade cheia de enganos e como eu faria para desenvolver um programa de recuperação daquele grupo ou daquela empresa, iniciando pela correção dos erros cometidos pela equipe. O desafio constava de algumas fases, como levantamento do que estava errado, identificação das causas, insights para solução e desenvolvimento de uma estratégia vencedora.

Achei muito interessante e iniciei um trabalho de colocação de ideias e conceitos a respeito de situações como essa e quais caminhos percorrer. Mas, principalmente, pensando que aplicar soluções de livros nunca fora bem o meu jeito de conduzir e, por isso, achar o fio dessa meada era uma questão importantíssima, pois era a partir daí que conseguiria identificar a direção a seguir.

A primeira tentação, por achar que seria a mais breve e eficiente, era levantar de forma rápida todas as ações que não tiveram o resultado esperado e que haviam causado os problemas que a realidade estava mostrando. Assim, seria somente construir as soluções necessárias para que aquilo acontecesse e vida que segue, implantar e desenvolver.

Muito bem, não era uma solução com que eu simpatizasse muito, mas precisava escrever e enviar para quem me havia solicitado o artigo. Entretanto, na hora H, acabei virando o jogo para outra forma de abraçar a realidade. Claro, começar com as questões principais relativas aos caminhos que não estavam levando ao destino desejado era o primeiro passo.

E essa é realmente a minha primeira sugestão. Feito isso, porém, o melhor que tinha a propor era guardar essas considerações e esquecê-las por um tempo. Poderíamos, então, criar possibilidades novas e tentar outras possibilidades.

Minha alternativa: mesmo com os problemas identificados e aprendendo com a realidade, quais seriam os pontos positivos do que foi desenvolvido? Será que nada do que foi feito era viável de ter um aproveitamento? Será que os integrantes daquele grupo de trabalho construíram soluções 100% erradas, que de nada serviam? O que de positivo haveria no que foi proposto?

Logo alguém me perguntará: mas, Luiz, você é muito ingênuo. Está sempre querendo ver o lado positivo das coisas. Deu errado, não serve. Sim, devo concordar. No entanto, partir sempre do negativo pode trazer mais frustrações do que soluções e, com o levantamento do que foi positivo, talvez pudéssemos elevar a autoestima das pessoas envolvidas na realidade que se apresenta e com isso chamá-las a tentar novamente.

De quebra, se identificarmos aqueles que não estão nem aí para os problemas, não seria interessante no meio do processo uma oxigenação do grupo? Começaria pelo que foi criado de positivo.

O segundo passo: não tendo conseguido resolver as demandas, qual a dimensão do que era positivo? Não alcançou o tamanho necessário para gerar efetivamente as soluções? Para isso, é preciso organizar uma reunião das pessoas envolvidas, onde a principal ferramenta será o surfe de ideias. Ou seja, depois que você pega a onda, não dá para voltar atrás. O que eu quero dizer com isso? Simples.

Muitas vezes, nessas tais reuniões de brainstorming, as pessoas estão mais preocupadas em garantir que suas ideias prosperem do que realmente resolver os problemas. Assim, mesmo numa dinâmica onde a palavra NÃO deveria ter sido abolida, ela insiste em estar presente.

No surfe, como seria voltar na onda? Se não quiser ir por esse caminho, proponha outra onda, e o grupo decide qual delas vai surfar. É muito tranquilo. As boas estratégias são fruto de insights colocados por alguém ou “alguéns”. Mas, na verdade, devemos procurar os gatilhos que fizeram com que esses conceitos brotassem. Aqui, uma lição muito importante: o primeiro passo para fazer dar certo é tornar o grupo proprietário das soluções a serem propostas.

A pior coisa que pode acontecer é a frase “Não falei que não ia dar certo?” proferida por um componente do time.

Feito esse levantamento, é hora de formular as soluções para serem apresentadas. Antes, porém, faz-se necessário um último exercício. Vamos rever a realidade em que estamos envolvidos. Depois, vamos trazer aquelas soluções que não deram resultado e colocá-las na mesa, comparando com as novas, recriadas pelo mesmo time. Como temos duas formas de pensar diferentes e uma já testada que não deu resultado, o que podemos melhorar na segunda, à luz do resultado negativo da primeira e assim criar uma proposição? Sempre haverá o que revisar.

Depois desse último exercício, teremos uma nova direção para propor e combater a realidade adversa, baseada no que de bom foi criado anteriormente e filtrada por tudo aquilo que não apresentou o resultado desejado.

Um caminho mais longo? Talvez. Quem nos garante que, se começarmos olhando somente os erros, vamos chegar a soluções mais assertivas? Dessa forma, oferecemos uma opção de atuação diferente e que, no mínimo, pode recuperar a confiança do time envolvido, além de identificar aquele ou aqueles que talvez não estivessem muito a fim de fazer parte, de compartilhar, e sempre trabalhando em causa própria, com o objetivo de ser notado e, quem sabe, promovido.

Na verdade, sabemos que isso sempre acontece, pois ninguém está muito aberto ao positivo. Gasta-se mais tempo em identificar quem errou do que em construir uma nova possibilidade de acertar. É mais simples. E a maioria de nossos superiores vai comprar a ideia mais rapidamente. Afinal, a ordem é “vá lá e resolva como achar melhor”.

Meus caros, eu sempre vou acreditar que somos gente se relacionando com gente. Ninguém quer errar de propósito. Quando isso acontece, podem cavucar, que vão encontrar um motivo para que isso aconteça. Viver em dupla hoje já é um grande desafio. Imaginem trabalhar entre tantos e tantas, com tamanhas diferenças de formação, crenças, ideais, objetivos.

A grande chave desse enigma está em como você demonstra a importância de todos no processo, em como as pessoas passam a poder contribuir com as mínimas sugestões, criando, assim, um senso de pertencimento ao que está sendo feito e aplicado. Só isso. Pensem um pouco e se perguntem se essa estratégia serve para o dia a dia de cada um, para solucionar questões das mais simples às mais complexas.