Nos bastidores do live marketing existe uma tensão recorrente entre o efêmero e o mensurável. De um lado, temos experiências cuidadosamente desenhadas para provocar encantamento: cenografias imersivas, ativações sensoriais, ações que suspendem a rotina e colocam o consumidor dentro do universo da marca. Do outro, temos planilhas, KPIs, Relatórios de desempenho, e a difícil tarefa de traduzir tudo aquilo que foi vivido — e sentido — em algo que possa ser quantificado com clareza.
Durante muito tempo, o setor viveu um certo conforto narrativo: se o público sorriu, se publicou nas redes, se comentou no grupo do WhatsApp, então a ação foi um sucesso. Mas o marketing amadureceu, e o live, inevitavelmente, precisou acompanhar. Em 2025, esse tipo de avaliação já não basta. A experiência, por mais criativa que seja, precisa ser compreendida como parte de um funil de valor. Não basta encantar — é preciso transformar esse encantamento em dados acionáveis.
Essa transição não é simples, nem imediata. Requer um novo repertório, um novo olhar e, principalmente, uma aproximação mais estratégica entre criação e inteligência de dados. Esse é um movimento que tenho observado de perto — e vivido na prática — ao longo dos últimos anos.
O que realmente vale a pena medir
Uma das primeiras discussões que precisamos ter com mais franqueza é: o que estamos medindo? E, mais importante, para quê? Não é raro ver marcas obcecadas por métricas de vaidade — volume de público, alcance de hashtag, número de fotos postadas — que pouco dizem sobre efetividade real.
O live marketing precisa, cada vez mais, operar sob uma lógica de desempenho. Isso não significa abrir mão do impacto emocional, mas sim entender esse impacto como parte de uma cadeia de valor. Por exemplo: quanto tempo as pessoas passam em determinada área da ativação? Em que momento ocorre a maior dispersão? Houve alguma ação espontânea do público que se converteu em lead, cadastro, download, compra?
Essas são perguntas que não podem mais ser ignoradas. E as respostas não virão apenas de percepção subjetiva — mas sim do uso inteligente de tecnologia.
Quando a tecnologia para de ser adereço e vira métrica
Hoje, é possível rastrear quase tudo. RFID, QR codes personalizados, wi-fi tracking, IA aplicada à leitura de comportamento e até análise facial para mapear emoções. O problema não é a ausência de ferramentas — é a ausência de estratégia na escolha delas.
Já vi eventos onde se aplicou RFID para medir presença, mas sem qualquer análise sobre o que fazer com esse dado. Em outros, QR codes levavam o público para uma página genérica sem nenhuma conexão com a jornada da marca. A tecnologia, por si só, não entrega valor. Ela precisa ser inserida dentro de uma narrativa e de um objetivo de negócio.
O ponto é: não estamos falando apenas de tecnologia, mas de arquitetura de mensuração. E essa arquitetura começa muito antes do evento, no desenho da ação, e continua muito depois, na análise e uso dos dados.
A urgência de um novo modelo mental
Se existe algo que tenho defendido com insistência é que o mercado precisa rever sua relação com o tempo no live marketing. Não dá mais para pensar apenas no que acontece “durante o evento”. A mensuração precisa considerar três fases distintas — e igualmente importantes: o antes, o durante e o depois.
No pré, podemos medir intenção, expectativa, engajamento antecipado. Durante, capturar comportamento, navegação física, permanência e reações emocionais. No pós, o que mais importa é o que se transformou em relação: quantos retornaram à marca? Quantos interagiram novamente? Houve conversão real?
Esse tipo de abordagem exige método, sim, mas também exige humildade. Nem toda ação vai gerar retorno direto. Nem toda métrica será positiva. Mas é nesse exercício de observar, interpretar e ajustar que o live marketing pode deixar de ser um espetáculo isolado e passar a ser uma plataforma de valor contínuo.
Entre dados e sensações: o que fica?
Tenho aprendido — às vezes com dados, às vezes com silêncio — que o mais difícil de medir ainda é o mais importante. O brilho no olho de alguém que se conecta com uma marca de forma genuína não cabe num gráfico. Mas ele deixa rastros. E esses rastros podem — e devem — ser lidos com mais inteligência.
A tecnologia nos permite isso. O pensamento estratégico nos obriga a isso. E o consumidor, mais exigente e mais consciente, espera isso. Não quer apenas viver algo bonito; quer que aquilo faça sentido, deixe marcas, reverbere.
Depois que as luzes se apagam, o que fica não é o palco. É o impacto — emocional, comportamental, comercial. E se conseguirmos construir formas mais honestas e completas de medir esse impacto, o live marketing não será apenas memorável. Será indispensável.
Acompanhe a coluna de Ti Bernardes, Diretor Geral da Agência MAK e referência no mercado de live marketing no Brasil. Com uma trajetória marcada por visão estratégica e inovação, o colunista compartilha insights sobre experiências de marca, tendências do setor e a construção de conexões sólidas com grandes marcas.