Além do São João

Por que as marcas demoraram tanto para se conectar com o público nordestino?

Cultura, tradição e história; confira o porque o Nordeste merece mais atenção das marcas

Créditos: Reprodução
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Por muito tempo, os consumidores conheciam os lançamentos  por meio de campanhas na TV, displays em lojas, blitz e promoções. Mas, com o avanço da tecnologia no setor e mudanças de consumo, as marcas passaram a apostar em estratégias de Live Marketing para proporcionar momentos únicos e exclusivos ao público. 

Contudo, para os clientes fora da rota Rio de Janeiro/São Paulo, essa novidade é ainda mais recente. Do ponto de vista de uma consumidora do Nordeste, as marcas demoraram para aprofundar o relacionamento com os nordestinos. somente há pouco tempo. 

O Nordeste do país sempre foi atrelado ao turismo, sendo considerado constantemente um lugar para ir, mas quase nunca “para ficar”. São poucos os momentos de relevância nacional, com destaque principal para o Carnaval e o São João. Isso, de certa forma, também influenciava na visão dessas marcas, que chegavam, investiam, mas ficavam por pouco tempo.

A região carece ainda de eventos de grande porte, como shows de artistas internacionais, que necessitam de uma maior estrutura. Por mais que isso impacte nas estratégias de Marketing das marcas, existem outras maneiras de firmar esse laço.

Conversei sobre isso com a especialista em produção de eventos e fundadora do PADRÃO DM, Dani Martins. E ela me falou que, quando não há tantas alternativas de eventos, as marcas tendem a utilizar da mídia e de influenciadores locais como pontes para se aproximar desses consumidores.

“Podemos observar que são lugares que geralmente são buscados como destinos finais de convenções, confraternizações, para viagens de incentivo ou turismo. E no fim, acaba tendo uma abordagem muito mais focada nesse sentido do que de fato para eventos. Mas isso, óbvio, tem mudado e crescido muito, e a tendência é crescer ainda mais”, destaca Dani.

Vista a camisa

Com o passar dos anos as pessoas se tornaram ainda mais observadoras e criteriosas, entre elas está o povo nordestino, que sempre esteve muito ligado à sua região, ás tradições, aos costumes. Afinal, são nove estados, cada um com a sua própria história e riqueza.

De acordo com o IBGE, a região possui cerca de 54,6 milhões de habitantes, representando um mercado diversificado, com um enorme potencial de consumo e engajamento. 

Identificar, “falar a língua”, e reconhecer o Nordeste como uma das maiores áreas em desenvolvimento econômico e polo cultural se torna extremamente necessário e estratégico para se conectar com um público tão “bairrista” quanto o nordestino.

Dá para notar o quanto as marcas têm investido cada vez mais na nossa cultura quando falamos de épocas especiais. Podemos citar, por exemplo, o crescimento do investimento no São João de 2023 para o de 2024. Diversas marcas estão presentes em celebrações nos estados do Nordeste, como a Nestlé, que está nas festas de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), com um investimento 10 vezes maior que o do ano passado. 

Outras marcas que estiveram em peso nas capitais do forró foram a Natura, Garoto, Beats, Perdigão, Devassa, Deline, e o Boticário, que levou ativações exclusivas e participou das festas dos nove estados. Além disso, Caruaru também recebeu a Roda Gigante do Rock in Rio, que esteve pela primeira vez no Nordeste, sendo uma das principais atrações do Aposta Ganha.

Mas, por que não ir além do Carnaval e do São João? Dar continuidade ao que já foi investido, se envolver realmente com a região, com ações sociais, parcerias com instituições locais, e participação em outros eventos.

O povo, principalmente a geração Z, tem procurado cada vez mais estar mais próximo de marcas que praticam o que falam, que levantam a bandeira, e que passam autenticidade. Os nordestinos não se resumem apenas a Carnaval, São João e praia. A partir do momento em que as marcas começam a nos enxergar de fato, elas vão conseguir se conectar com o público nordestino e construir uma imagem positiva e sustentável no mercado daqui.