Se você fica tão eufórico quanto eu quando encontra um relatório de tendências ou se nem sabe o que é – esse texto é pra você. E nem precisa fazer download.
Ideias são um negócio confuso
Há becos sem saída, vieses inconscientes e todo tipo de insight sobre a natureza imprevisível da criatividade. E, assim como as ideias, as tendências também estão em todo lugar. Elas são centrais para como as empresas elaboram suas estratégias de desenvolvimento de produtos, marketing e mídia, e como os consumidores tomam decisões de compra. As empresas que prestam atenção e entendem as tendências atuais e em evolução – por meio de pesquisas de análise de tendências – são capazes de usar a tomada de decisão embasadas em suas operações.
A palavra “forecast” é de origem inglesa e significa “previsão”
Muito associado à previsão climática, o termo ganhou força no ambiente dos negócios quando foi publicado pela primeira vez no jornal britânico The Times em 1861. Desde então, é a palavra que apadrinha todos os relatórios de tendências que vemos por aí.
E a gente bem sabe que evento tem tudo a ver com clima, em todos os seus sentidos. Quando falamos de entretenimento, somos muito impactados pelas sazonalidades.
Tendências sazonais são variações que ocorrem em períodos específicos do ano devido a fatores sazonais, geralmente durando alguns meses e se repetindo anualmente. Exemplos incluem o aumento nas vendas de roupas de verão ou inverno e o aumento no movimento de restaurantes durante feriados. Identificar essas tendências permite que as empresas ajustem suas estratégias, como contratar pessoal sazonal ou planejar manutenção em períodos de baixa demanda, garantindo maior eficiência e lucratividade.
Às vezes, as tendências são impulsionadas por fatores externos (como a escassez de um determinado produto que cria uma tendência para algo novo) e, outras vezes, as tendências são impulsionadas por desejos/necessidades internas do consumidor (como alternativas de produtos não sustentáveis, por exemplo).
O começo e o fim dos relatórios criativos
Durante o evento da Promoview sobre o SXSW junto ao time de peso da SHERPA42, o questionamento sobre a mesmice das tendências veio à tona. Lá, foi chamado de “Vanilla Valley”, termo que define esse estágio letárgico em que nada de muito importante ocorre, ou que o mesmo assunto se repete, sem grandes novidades.
Parece que estamos falando de IA há anos, e, ao mesmo tempo, não. O ano de 2010 parece muito distante, enquanto um filme sobre 1982 já pode ser considerado “de época”. Nossa percepção de tempo mudou e, junto dela, o nosso entendimento do que é uma tendência. A Inteligência Artificial já é realidade para muitas pessoas, empresas e veículos, em pequeno, médio ou gigantesco grau. Mas continuamos falando sobre isso o tempo todo, para tudo. Inclusive, aqui faço referência a outra palestra do SXSW – o bate-papo com os Daniels, diretores de Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, obra que representa muito bem essa loucura kitsch que é viver nos dias atuais.
A curadoria e o entendimento complexo, com bagagem, se faz muito necessário.
O que ninguém está vendo
Narciso acha feio o que não é espelho, canta Caetano Veloso em “Sampa”. Contudo, não foi em São Paulo, mas em Londres, na década de 1960, que o psicólogo Peter Wason deu o nome de “viés de confirmação” para o mecanismo que induz a mente a aceitar as informações que sustentam as próprias crenças, em vez de questionar e ter abertura para analisar outros tipos de informação.
Ficamos muitas vezes presos às nossas bolhas, olhando, participando, investindo nas mesmas estratégias, eventos, ações e iniciativas. E, por isso, perdemos a sensibilidade de olhar para o que está acontecendo em volta da gente.
Um exemplo disso é a ausência de patrocinadores em movimentos tão necessários como o Women’s Music Event, ou WME Awards. E uma de suas apoiadoras, Vanessa Queiroz, sócia fundadora do Colletivo Design, trouxe sua opinião sobre o tema:
“Quando uma marca não se posiciona de forma clara em relação a um evento como esse, tenho algumas hipóteses: a marca quer se posicionar, mas ao mesmo tempo deseja continuar sendo mainstream, falando com todos os públicos. E eu sempre digo que posicionamento é renúncia. Quando você se posiciona em algo, precisa renunciar a outros aspectos; caso contrário, o posicionamento nunca vai chamar a atenção e nunca será efetivo. As pessoas que estão à frente das marcas e que distribuem as verbas de marketing para essas iniciativas muitas vezes ficam receosas, porque o retorno pode não ser imediato ou o posicionamento pode parecer radical. Há uma tendência a investir sempre nas mesmas coisas – como o Lollapalooza, onde todo mundo já está investindo, mas onde as marcas acabam não se destacando ou aparecendo pouco.
Elas deixam de investir em eventos onde poderiam ter muito mais repercussão, usando os recursos de forma mais estratégica e colocando esses eventos em outras dimensões. Ou seja, quando você investe em um evento desses, precisa contribuir não apenas com dinheiro, mas também para catapultar o evento e levá-lo a novos lugares. Acho que há muita insegurança sobre como diversificar os investimentos em marketing. Faltam coragem e ousadia…”.
Vamos fugir do mais do mesmo
Os relatórios de tendências podem ser detalhados e extensos, como também podem ser mais curtos e adotarem abordagens mais condensadas para assuntos amplos. O importante é apresentar de maneira clara e interessante as descobertas. Falando de tendências de mídia e entretenimento, insights acionáveis entregam maior valor, uma vez que seus leitores podem implementar as ideias em suas próprias estratégias.
Ou seja, o objetivo de todo relatório de tendências (do momento – e futuros) deve ser não chover no molhado, e trazer as melhores descobertas, sob a ótica do que nos interessa.
Para que a etapa final na análise de tendências seja colocar as descobertas em prática, os relatórios devem ser claros, concisos e traduzir com sucesso dados complexos em insights acionáveis que podem orientar a tomada de decisões. Isso geralmente envolve a criação de representações visuais, como gráficos e tabelas (ou apenas imagens bem ilustrativas), para ajudar todas as partes interessadas a compreender rapidamente padrões e tendências. Os recursos visuais devem ser complementados por relatórios ou apresentações escritos que detalham o contexto, a metodologia, as descobertas e as implicações. Esses elementos escritos são essenciais para fornecer a profundidade e a justificativa necessárias para entender a lógica por trás das recomendações estratégicas.
É tudo uma questão de ter ambições fundamentadas e um plano sólido em prática.
Então se você não sabia o que era um relatório de tendências, não sabia o que fazer com ele ou simplesmente o ignorava, minha opinião é: talvez você não tenha encontrado o formato ideal. E é nisso que estamos trabalhando, nessa collab entre Mapoteca e Promoview. Fique de olho nas novidades deste ano!
Até a próxima,
Julia
Cofundadora da Mapoteca®, um estúdio de design que promove a colaboração entre criativos, clientes e agências, Julia Padula escreve sobre processos criativos, arte e eventos dos quais participa.