Nas três últimas décadas, as feiras de negócios representaram o principal canal de relacionamento, prospecção de oportunidades de novos negócios e vendas de curto médio e longo prazo para a grande maioria das atividades industriais no Brasil.
Os demais canais de marketing e de vendas das indústrias têm uma grande importância na receita dessas empresas, mas, nenhum deles, apresenta a mesma eficácia quando analisada a relação custo x benefício.
Neste cenário complexo que estamos vivendo, as feiras de negócios deixaram de ser realizadas por conta da proibição dos gestores públicos face à pandemia.
Em que pese as inevitáveis comparações que possamos fazer com atividades que foram flexibilizadas para ter seu funcionamento retomado, como os shopping centers, que, em última análise muito se assemelham no que tange ao funcionamento de uma feira de negócios, o poder público da maioria das cidades/Estados não tem se mostrado disposto a avaliar com a necessária profundidade o impacto causado na economia e na manutenção/geração de empregos.
A-palavra evento atemoriza os gestores públicos. Sem a percepção de que as feiras recebem um público controlado do pré ao pós-evento não iremos progredir e as feiras só irão retornar à (nova) normalidade após uma vacinação em massa, e, até lá, já teremos outros milhares de postos de trabalho fechados e empresas quebradas.
Recentemente, realizamos uma pesquisa que envolveu mais de duas mil empresas habitualmente expositoras de feiras B2B e nos deparamos com um número que mostra de modo inequívoco o anseio pela volta das feiras: 89% declararam intenção de retomar a participação.
Junto aos potenciais visitantes, o número quase empatou: 78% disseram que voltariam a visitar porquanto entendem que as feiras representam uma atividade bem preparada para praticar todos os protocolos necessários à biossegurança dos visitantes.
Com os eventos da Expo Retomada, que realizamos em cidades com São Paulo, Salvador e Goiânia, e também com várias feiras B2B que foram retomadas na cidade de Gramado e que tiveram todos os seus participantes monitorados, tivemos clareza e consolidamos nossa visão de que é possível retomar os eventos de negócios com segurança.
Não somos irresponsáveis. Ao contrário, sabemos exatamente qual é o tamanho da responsabilidade que temos pelos nossos colaboradores, expositores e visitantes, e é exatamente por conta dessa responsabilidade que mantemos o nosso pleito de retomada enquanto ainda é possível manter parte do sistema ativo e capaz de alavancar a economia.
Ficamos perplexos com liberação de atividades que são potencialmente geradoras de aglomerações descontroladas, e, inexplicavelmente, os eventos de negócios não são liberados.
Igualmente perplexos ficamos ao ver que gestores públicos e outras autoridades se aglomeraram em um estádio para assistir uma partida de futebol que estava sendo transmitida ao vivo pela televisão para todo o Brasil…
Não sou dado a elucubrações malucas e nem tampouco simpatizo com as teorias de conspiração, mas será que pode haver interesses outros escondidos por detrás dessas decisões de nos manter à margem da economia?
Não adianta acenar com recursos de empréstimos para o setor. Exatamente porque não sabemos quando iremos voltar. A principal arma de uma boa empresa é o planejamento das suas atividades, o que nos foi tomado parte pela pandemia e parte pela falta de competência do poder público na análise das toneladas de informações que incessantemente lhes fornecemos.
Recentemente, uma das multinacionais que atuam no segmento realizando importantes e relevantes feiras, tomou a decisão de deixar o Brasil.
Há rumores de que mais duas deverão tomar a mesma decisão em breve. Se isso está acontecendo com empresas de grande expressão, podemos imaginar o que está acontecendo ou o que já aconteceu com as pequenas e médias empresas brasileiras que dão vida a esse fundamental braço da economia.
Parem com isso. Deixem-nos trabalhar. É um pleito legítimo e urgentíssimo, inexplicavelmente negado.
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