Na tarde daquela sexta-feira de julho, milhões de brasileiros assistiram com desgosto a Holanda eliminar o Brasil na Copa do Mundo. Eduardo Morato, de 36 anos, fundador da agência paulistana de marketing esportivo Off Field, estava no estádio de Port Elizabeth, na costa da África do Sul, e sentiu a derrota bem de perto.
“Não foi minha primeira vez”, diz. Quatro anos antes, ele vira a seleção ser eliminada pela França na Alemanha, em Frankfurt. Ok, esse Morato é um pé-frio — mas só no futebol, não nos negócios. Nos últimos anos, a Off Field cresceu rapidamente e, em 2010, deve faturar sete milhões de reais fazendo campanhas de marketing para grandes empresas em jogos de futebol e outros eventos esportivos. “Vamos dobrar de tamanho”, afirma ele.
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Morato não viajou à África do Sul só para torcer. Ele foi investigar como a Off Field pode aproveitar as oportunidades que a organização do Mundial no Brasil trará a muitos pequenos e médios negócios brasileiros até 2014. Morato trocou cartões com possíveis clientes e conversou com executivos do setor de marketing sobre acordos entre agências e patrocinadores do evento.
Para ele, fechar contratos com patrocinadores multinacionais como Adidas, Coca-Cola, Emirates Airlines, Hyundai, Sony e Visa é importantíssimo — pelas receitas a mais e principalmente para a internacionalização da Off Field que, neste ano, abriu escritórios nos Estados Unidos e na Europa. “A expectativa é fechar contratos com essas marcas e conservá-las como clientes depois da Copa”, diz. Há tratativas com a Coca-Cola, já atendida pela Off Field no Brasil. “Estamos negociando com outros patrocinadores também”, afirma.
Enquanto não se assina a papelada, tem sido a maior correria para deixar a Off Field pronta para cumprir os contratos, que devem ser fechados a partir de janeiro. “Estamos escolhendo fornecedores”, diz. São empresas de pesquisa de mercado, logística, montagem de estandes, fabricantes de brindes e gráficas. “Quero acertar com todos até dezembro”, diz Morato. “Na África do Sul, vi muitos perderem negócios porque não conseguiram fornecedores a tempo.” Morato tem pressa, e com razão.
Os jogos são daqui a quase quatro anos, mas as oportunidades estão acontecendo agora. “Governo e empresas envolvidas com o evento já estão fechando contratos”, diz Robson Calil, sócio da consultoria Deloitte. Até julho de 2014, quando o juiz apitar o encerramento da partida que definirá o novo campeão mundial, devem ser movimentados 142,4 bilhões de reais no país, segundo um estudo da consultoria Ernst & Young em parceria com a Fundação Getulio Vargas.
É um monte de dinheiro — quase o triplo das vendas de produtos de beleza no País durante todo o ano passado. Na cadeia de suprimentos do Mundial, precisa-se de praticamente tudo que as pequenas e médias empresas podem oferecer — alimentos e autopeças, calçados, móveis, material de escritório, equipamentos médico-hospitalares, tradução, recrutamento de mão de obra e serviços para grandes obras. “A mobilização para a Copa começa bem cedo”, diz José Carlos Pinto, sócio da Ernst & Young. “A agilidade característica dos negócios de menor porte, em que se tomam decisões rápidas, é uma grande vantagem nessa hora.”
Morato e os outros empreendedores desta reportagem não ambicionam somente um pedaço de um mercado grande, porém temporário. Eles olham lá na frente, para um crescimento permanente depois do empurrão dado pelo campeonato. Acompanhada pelo mundo inteiro e envolvendo, de presidentes de países a crianças de famílias ricas e pobres, uma Copa do Mundo é uma gigantesca feira de negócios montada de quatro em quatro anos. Desta vez, a conjunção astral é particularmente favorável às pequenas e médias empresas que entrarem na órbita da Taça. O Brasil ganhou uma importância inédita no planeta (o que injeta dinheiro de fora na economia), e os brasileiros têm mais dinheiro para gastar (o que abre portas a novos negócios e ajuda os existentes a ganhar escala). “Este Mundial é um trampolim para levar pequenas e médias empresas a um patamar de crescimento superior, mesmo quando as luzes dos estádios se apagarem”, diz o economista Fernando Blumenschein, coordenador de projetos da Fundação Getulio Vargas.
Fonte: Revista Exame.