Antes de chegar nesta crise, Celio Ashcar Jr. teve uma longa jornada frente à Ampro e está familiarizado com as dores do mercado das agências e fornecedores especializados.
Por isso ele participa da nova série de entrevistas do Projeto Brand Experience 2020 que dá sequência à pesquisa que Promoview realizou junto ao mercado na primeira semana de Abril e que vem gerando muita repercussão.
Célio fala da nova rotina da Aktuellmix e sobre as mudanças que espera daqui para frente.
Promoview: O ano tem sido especialmente difícil para a Aktuellmix que, em fevereiro, teve parte da sua sede invadida pelas enchentes de São Paulo e agora precisa conviver com os impactos do Coronavírus? Como superar esse baque?
Celio: Começamos o ano um pouco fora do controle, logo no início tivemos a enchente em São Paulo na Vila Leopoldina, que afetou muito a Aktuellmix, todo nosso andar térreo foi afetado, mas também reagimos rápido, em dois dias já estávamos todos trabalhando normalmente.
Nós temos uma sede grande e conseguimos alocar toda a equipe de forma confortável e produtiva. Foi um momento muito difícil, mas por outro lado foi muito bonito ver união e cumplicidade entre todos, um momento em que a gente se conectou mais, porque estivemos todos no mesmo andar. Mas bola pra frente, literalmente “águas passadas”.
Depois, logo na sequência, veio o Coronavírus, essa pandemia que está atacando o mundo todo e afetando violentamente o mercado de quem cria e produza ações de experience, e, de novo, a união de toda equipe vai nos ajudar nessa crise.
Promoview: Como a agência está encarando esse período de pandemia?
Celio: Trabalhando desde o dia 13 de março em home office, fomos uma das primeiras agências a adotar o trabalhar de casa. Estamos utilizando sistemas e mecanismos de videoconferência. Eu ainda sinto muita dificuldade porque prezo muito as relações humanas, então eu gosto de estar nas ruas, gosto de estar nos clientes, gosto de estar junto do meu time em reuniões, ouvindo, discutindo, aprendendo, questionando e sendo questionado, e esse calor de estar próximo ao outro facilita muito mais, mas estamos aprendendo a fazer isso de forma digital. Esse é um momento de se reinventar, aprender novas formas de trabalhar e atuar. Decidimos por preservar toda equipe fixa.
Os eventos experience representam uma boa fatia do nosso faturamento e são ações de grande porte. Então é um impacto importante. Estamos conversando com todos nossos clientes e criando estratégias para sair desta crise. Até agora tivemos apenas dois eventos adiados, nenhum cancelado. Nosso grande volume de eventos está no segundo semestre. É um momento de cautela e união. Apostamos e acreditamos que vamos sair dessa mais fortes, mesmo sendo afetados de forma irreparável
Promoview: Quais devem ser os impactos na economia e no mercado de live marketing brasileiro em curto, médio e longo prazo?
Celio: A economia está sendo afetada em todos os segmentos e não só o live marketing, é um problema mundial. Sofro e lamento muito pelos colegas freelancers e profissionais autônomos que estão tendo muitas dificuldades pela falta de trabalho. Tem uma enorme cadeia profissional sem perspectiva de trabalho. Por isso, eu apoio veementemente e compartilho da campanha “Não cancele, remarque”.
Estou tentando ser otimista com o que vamos conseguir fazer daqui pra frente, acho que devemos ter um segundo semestre mais aquecido. Mas ainda não sabemos quando tudo isso vai acabar. Rezo para que seja logo.
Os clientes também estão na mesma toada, a maioria em home office. Penso que é um grande momento para refletirmos sobre velhas e ultrapassadas práticas que o mercado vem utilizando. Temos que pensar mais nas pessoas, em manter empregos porque muitas famílias dependem disso. A relação cliente versus agência tem que passar por um rápido amadurecimento para que possamos sobreviver a isso tudo.
Celio: Agora é a hora de ver realmente quem está disposto a fazer diferente e o correto. Não adianta as marcas ficarem anunciando plataformas de diversidade, empoderamento, igualdade e não respeitar as agências que trabalham para elas. Temos de separar as crianças dos adultos. Acabou a fase de brincar. Estamos falando em salvar vidas e empregos.
Pra começar, temos que acabar com essa péssima prática de pagamentos além de 30 dias. Isso é um desrespeito com o fornecedor. É desumano. Quando fazemos compra numa loja, pagamos no dinheiro ou cartão de crédito. Quando vamos em um médico, pagamos consulta no ato. Quando pegamos empréstimo no Banco, começamos a pagar juros no dia seguinte e não depois de 30 dias. Por que as agências têm que receber depois de 30 dias?? Existem empresas pagando em 120 dias.
Por isso estou lançando o movimento Job entregue. Job Pago!
Temos que ter a consciência da realidade que estamos enfrentando. Pessoas perdendo emprego e sem perspectivas de oportunidades. Toda a cadeia econômica tem que se unir agora para sairmos desta crise. Em nosso mercado, temos que diminuir concorrências, antecipar briefings com budget bem definido e acabar de vez com esta verdadeira insanidade que são os prazos de pagamento. Só temos uma saída: União com responsabilidade.