Com 100% dos eventos presenciais cancelados e com o isolamento social, as agências de brand experience estão tendo de se reinventar para enfrentar a maior crise de todos os tempos que afetou de forma exponencial esse setor.
Promoview conversou com Fabiana Schaeffer, cofundadora da Netza e COO da Circle Aceleradora que fala sobre o que a sua agência está fazendo para enfrentar a pandemia do Coronavírus e quais os projetos para curto, médio e longo prazo.
Promoview: Considerando todo o contexto deste momento, em que medida a crise Covid-19 afetou os negócios da Netza?
Fabiana Schaeffer: Bem, esta crise está posta, seja para qualquer área do primeiro, segundo ou terceiro setor. É verdade que o nosso segmento está sofrendo um pouco mais, porque nossa atividade é específica. Aqui na Netza, a crise foi acentuada em torno de 70% neste período, mas mesmo assim, tivemos um percentual razoável de eventos adiados (em torno de 40%), o que nos dá uma boa projeção para o segundo semestre.
Percebemos o esforço de todos para ultrapassar a situação atual, mas precisamos pensar como isso pode alterar a estrutura mercadológica.
Promoview: Quais atividades produtivas a sua agência está realizando neste período?
Fabiana Schaeffer: Primordialmente cuidar das pessoas. Acredito que estas pessoas que merecem toda nossa atenção agora são as que estarão lá, na hora da retomada, somando pensamentos positivos para que coisas boas voltem a acontecer.
Por outro lado creio que nosso time tenha realizado o movimento correto ao fundar uma aceleradora e reunir um pensamento moderno. Talvez a gente veja, pela primeira vez, uma geração mais nova alcançando um papel preponderante sobre a minha geração, por exemplo.
Eu começo a perceber que a crise está, de certa forma, empoderando ainda mais os millenials e também as mulheres, que estão muito mais presentes, e neste momento estão contribuindo com muito mais intensidade. Sem dúvidas, a presença mais relevante dessa geração vai ajudar a corrigir essa questão social muito forte nas gerações anteriores como a questão do machismo e preconceito que, de certo modo, ainda permeia o pensamento das posições de poder e liderança.
No ambiente de negócios fomos menos afetados, pois temos um bom volume de trabalhos na área de digital, como ativações digitais, programas de incentivo, além de outras ferramentas de tecnologia que acabam refletindo positivamente no faturamento. E também estamos estudando alternativas, planejando a utilização desses combinados com outros novos formatos para o nosso negócio.
Promoview: Agora que a mobilização dos setores econômicos é geral, como você vê a posição do seu negócio de agências especializadas no mercado como um todo?
Fabiana Schaeffer: “Estamos por conta própria”, ou seja, não pertencemos à classe cultural nem aos setores que realmente deverão ser contemplados e olhados com seriedade pelo Governo, já que ele não vê a nossa atividade como essencial, ainda que os números do nosso setor sejam bastante expressivos e gerem muitos empregos. Na melhor das hipóteses, pegaremos uma carona com eles.
Por isso, neste contexto, mais união seria fundamental! Mas o desencontro das ideias e atitudes é uma característica do mercado de live marketing. Esta é uma oportunidade para modificarmos isso, porém, pelo que vemos até agora, não passam de algumas correntes nas redes sociais para ajudar produtores e freelancers.
As iniciativas dos grupos que representam agências e empresas do mercado são em nível governamental quando deveriam ser muito mais próximas das pessoas e das empresas.
A maior dificuldade é que, nós agências, não temos uma filosofia própria do live marketing. Então, conciliar tudo isso é algo improvável. Porém, não sabemos a extensão desta crise. Talvez o caminho da reinvenção passe pela prática efetiva dos códigos de ética e cartilhas já publicadas, mas pouco utilizadas.
Promoview: Então você acredita que haverá mudança nas relações comerciais entre quem cria planeja e produz e quem compra eventos, exposições, presenciais após este período?
Fabiana Schaeffer: Não creio que o cliente será mais generoso após a crise. Pelo contrário, as grandes empresas foram fortemente afetadas financeiramente, e, assim, elas vão pedir para “fazermos mais com menos”. Além disso, não podemos deixar de considerar o lado social; somos um país pobre e nossa atividade tem como base as pessoas, o relacionamento delas com as marcas e entre elas mesmas. Então, fica mais complicado ainda…. isso é uma realidade. Mas não é um problema.
É necessária uma conscientização de que o nosso negócio é estritamente comercial, e, assim, termos melhor entendimento do negócio do cliente, maior proximidade e menos subjetividade. A partir daí, seremos mais estratégicos e resolveremos realmente as dores dele para que ele consiga ver nas agências parceiras esse diferencial. Por exemplo: se as concorrências ficassem restritas a três agências, isso daria um novo ânimo para todos, e, com certeza, iria refletir em melhores resultados e entregas.
Promoview: Você acredita em uma recuperação a partir de quando?
Fabiana Schaeffer: Quando realizarmos o primeiro faturamento (risos).
Olha, apesar de entender que o nosso mercado aqui em volta não vai mudar imediatamente, acredito que, na sequência, teremos mudanças que serão ainda maiores, inclusive, com algumas orientações e decisões que teremos que definir. Mas acho que só conseguiremos ver tudo isso de forma ampla no início de 2021, quando estivermos mais distantes deste momento.