Mídia

Clubhouse salvando o carnaval da comunicação, será?

Muito do seu sucesso, talvez se deva à crescente ascensão dos podcasts e essa necessidade de falar de vários assuntos.

A célebre frase: “No Brasil, o ano só começa depois do Carnaval” teve que ser desconstruída esse ano. Por causa da pandemia, não tivemos Carnaval – e não me venha falar das lives e outros cases, que cumpriram seu papel, mas nem de longe representam o poder da manifestação cultural, tampouco a movimentação em média de R$ 8,1 bilhões de uma indústria que engaja de turismo a lantejoula, e, com certeza, é um dos momentos mais promissores para as agências de live marketing e a maioria das marcas.

Mas eis que surge, no grupo de acesso, dois temas agitando esse começo de ano, para a alegria do setor de comunicação: BBB21 e Clubhouse.

Apesar do reality desse ano ter um apelo diferente por conta do isolamento social  e outros temas, queria focar no Clubhouse, pela novidade, quero dizer, pelo frenesi, mas nem tão novidade assim.

A primeira vez que ouvi sobre Clubhouse, foi ao ler uma newsletter do SXWS, sobre a nova sensação no Vale do Silício, por ter sido criada pelo empresário Paul Davison e pelo ex funcionário do Google Rohan Seth, mas depois disso, a plataforma explodiu com o dono da Tesla – o bilionário Elon Musk usando-a e aqui no Brasil, e, nada menos que o Boninho, entrou em algumas salas falando de seu reality (Olha o BBB21 aí gente!). 

Além do burburinho, começou uma corrida louca pelo convite para entrar na rede, que é somente para IOS e convidados, receita velha conhecida para testar um produto e gerar buzz com a exclusividade.

Aqui temos um elemento, que pelo menos nesse início é excludente, pois somente 13% da população tem Apple, sem falar no percentual de portadores de deficiência auditiva que ficam impedidos de utilizar.

O que me chama a atenção nessa rede social é que ela nada mais é do que um grupo de WhatsApp onde as pessoas deixam áudio, e, pior, porque os áudios não ficam registrados, não temos histórico, não resgatamos o aprendizado, tampouco seu conteúdo.

Deveria se chamar ‘Club Voice’, pois é um espaço de fala. Muito do seu sucesso, talvez se deva à crescente ascensão dos podcasts e essa necessidade de falar de vários assuntos. 

Tem sala de “tornando-se vegan” como tem sala sobre “diversidade nas mídias sociais” e toda uma mecânica onde quem mais fala, ganha uns convites para trazer mais gente para a rede. Me lembra a velha pulseirinha VIP, ou aquela pessoa que conhece a hostess para ir na balada fechada.

Nas salas pequenas, meio que todo mundo fala, mas nas maiores existe o moderador. Pode parecer que estou desdenhando da nova rede, longe disso, mas do ponto de vista de criatividade, ela não traz a superinovação, mas está atendendo uma demanda da sociedade que estamos tentando entender o porque e se isso se sustenta muito tempo, ou não é uma mera modinha. 

Enquanto ela existe e continua crescendo, pois está no trend topics do Twitter e tem mais de 500% de aumento nas buscas do Google, é bom estar antenado no seu desempenho. Portanto é mais uma oportunidade interessante para ações de live marketing pois:

– Posso monitorar temas emergentes;

– Posso criar eventos, que atuam como “demo” para eventos mais elaborados ou até mesmo como teaser;

– Os moderadores que melhor performarem, podem ser os novos influencers ou mais um espaço para os já influencers e até mesmo os early adopters;

– Os ouvintes são praticamente o que a gente chama de fã, entender esse perfil, pode direcionar um termômetro de insights;

– Mesmo as pessoas entrando somente por curiosidade, é mais um ponto de contato com consumidores ;

– As salas podem atuar como “chatbot” onde dúvidas são tiradas sobre qualquer projeto;

– Pode ser realizada a curadoria colaborativa de um evento;

– Grupos pós-eventos podem ser criados, dentro de temas que mais se destacaram num evento ou até mesmo para feedbacks;

– Grupos já existentes, têm mais um espaço de comunidade para falarem sobre seu tema favorito. Algumas marcas já estão saindo na frente, como o Club Atlético Paranaense com transmissão de jogo.

Semana-passada, a Audi, que está atuando fortemente no lançamento dos carros elétricos criou uma sala com esse tema. Alguns famosos estão fomentando discussões para se colocarem como experts em determinados temas e conquistarem mais adeptos, além de estarem mais próximos de seus seguidores.

As regras de publicidade interna dessa rede ainda estão sendo organizadas, mas tem muita gente tentando entender o modus operandi para tirar o melhor proveito desse novo ambiente. 

Se será uma rede de muito blá-blá-blá, como o Second Life (lembram disso), só o tempo dirá, enquanto isso, ou você espera porque só tem Android ou você compra um Apple num e-commerce qualquer. 

Ah, não tem convite, fuça bem na sua rede, ou já tem gente vendendo convite no mercado livre por R$ 280,00 ou quem sabe, alguma marca não te arranja um convite para entrar, seria uma baita ação de relacionamento, não.

Assim como muitos amores de Carnaval, que acabam logo após o carnaval, só o tempo dirá.