O Google e a Microsoft trocaram acusações na sexta-feira (12), em meio a uma audiência em um subcomitê antitruste no Congresso dos Estados Unidos sobre o domínio das grandes empresas de tecnologia sobre as organizações de mídia.
O presidente da Microsoft, Brad Smith, disse durante a audiência que o Google tornou os veículos de imprensa dependentes de seus serviços, incluindo ferramentas de análise de audiência e publicidade digital enquanto lucra com os acessos das pessoas.
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Smith afirmou que o tráfego gerado pelo Google para as empresas de mídia tem valor, mas “Rentabilizá-lo se tornou cada vez mais difícil porque a maior parte do lucro foi espremida pelo Google.”
Para justificar sua fala, o presidente da Microsoft apontou que as receitas de publicidade de jornais caíram de US$ 49,9 bilhões em 2005 para US$ 14,3 bilhões em 2018, citando uma pesquisa da Pew Research.
Durante-o mesmo período, segundo ele, as receitas de publicidade do Google saltaram de US$ 6,1 bilhões para US$ 116 bilhões.
O mercado de publicidade digital é a principal fonte de receitas do Google – o negócio gerou US$ 46,2 bilhões no 4º trimestre de 2020, o que representa 82% de seu faturamento. Muitos sites e jornais digitais são financiados por meio de anúncios on-line.
Os EUA, que já processaram Google e Facebook por práticas anticompetitivas, estão avaliando qual o impacto das grandes empresas de tecnologia no financiamento da mídia, seguindo passos da França e da Austrália.
Em uma audiência na sexta-feira (12) do subcomitê antitruste do Congresso, que investiga práticas anticompetitivas, a Microsoft foi convidada para dar o seu posicionamento, junto com associações locais de imprensa .
Resposta do Google
O Google retrucou em uma publicação oficial em seu blog, lembrando de quando a Microsoft sofreu processos antitruste a partir dos anos 1990.
O vice-presidente de relações globais da companhia, Kent Walker, disse que as alegações da Microsoft sobre o trabalho com a mídia estão “totalmente erradas”.
O executivo afirmou que “Compartilhou bilhões de dólares em receitas com editores de notícias por meio da rede de anúncios.” e citou um comprometimento de US$1 bilhão em licenciamento de conteúdo nos próximos três anos.
“Este último ataque marca um retorno às práticas de longa data da Microsoft.”, escreveu.
“Não é coincidência que o novo interesse da Microsoft em nos atacar venha no rastro do ciberataque da SolarWinds e em um momento em que eles permitiram que dezenas de milhares de seus clientes, incluindo agências governamentais nos EUA, aliados da Otan, bancos, organizações sem fins lucrativos, fornecedores de telecomunicações, serviços públicos, polícia, unidades de bombeiros e resgate, hospitais e, presumivelmente, organizações jornalísticas – fossem ativamente invadidos através das principais vulnerabilidades da Microsoft.”, completou.
A Microsoft foi uma das várias empresas e entidades governamentais atingidas após hackers sabotarem a atualização do Orion, um software de monitoramento de rede da empresa SolarWinds.
Recentemente, a companhia afirmou que hackers chineses exploraram brecha em seu sistema de e-mail empresarial – mas não revelou se esse ataque estava relacionado ao caso da SolarWinds.
Rixa na Austrália
O clima de animosidade entre o Google e a Microsoft acontece há alguns meses.
Uma lei na Austrália, aprovada recentemente, prevê que grandes plataformas, como Facebook e Google, remunerem grupos de imprensa pela publicação de reportagens.
A Microsoft foi uma das empresas que apoiou a proposta dos australianos e afirmou que os Estados Unidos deveriam ter sua própria versão da lei.
A empresa disse estar disposta a melhorar sua ferramenta de buscas Bing para ocupar eventuais espaços deixados por outras grandes do setor.
Após mostrar resistência e também ameaçar bloquear seu buscador na Austrália, o Google acabou firmando contratos com empresas de mídia do país.
Um acordo com o grupo de notícias Nine Entertainment estabeleceu o pagamento de US$ 30 milhões (R$ 163,9 milhões) para ter acesso aos principais meios de comunicação da empresa.
Processos contra o Google
O Google é alvo de 3 processos nos EUA por práticas anticompetitivas. Todos se relacionam em alguma medida com o poder da companhia no mercado de publicidade digital.
Em uma dessas ações, as autoridades dizem que a empresa teria mantido sua posição no mercado de buscas on-line ao abusar de seu poder em outras áreas como o de assistentes de voz, carros conectados e publicidade digital.
O Google nega as acusações e diz que “As pessoas usam o Google porque querem – não porque são forçadas ou porque não conseguem encontrar alternativas.”