Experiência de Marca

Eurocopa: Racismo on-line revolta Reino Unido

As mensagens comparavam os jogadores a macacos e os insultavam com os termos mais agressivos na língua inglesa, como 'nigger'.


A tristeza pela derrota da Inglaterra para a Itália na final da Eurocopa na noite de domingo (11/7), no Reino Unido, deu lugar deu lugar a uma revolta generalizada pelas cenas de vandalismo, ataques a torcedores italianos na saída do Estádio de Wembley e uma onda de abusos racistas pelas redes sociais, direcionados aos três jogadores negros que perderam pênaltis.

Sancho, Saka e Marcus Rashford — este último um jovem de 21 anos que virou ídolo nacional ao liderar uma campanha para forçar o Governo a prover alimentos para as crianças durante o lockdown — tornaram-se vítimas de ataques pesados desde que o jogo acabou, colocando mais uma vez em questão a capacidade de as plataformas digitais coibirem os abusos e não apenas lamentar quando eles ocorrem. 

Leia também: Vamos combater a discriminação racial?.

As mensagens comparavam os jogadores a macacos e os insultavam com os termos mais agressivos na língua inglesa, como “nigger”, uma das formas mais ofensivas de atacar uma pessoa negra. 

Saka,-Marcus Rashford e Sancho (Foto: Reprodução).

O assunto tomou conta das redes, com as hashtags #sickening e #disgraceful entre os trending topics.

Dominou também a pauta de entrevistas matinais de segunda-feira, que em vez de analisar a partida trataram dos abusos. A Scotland Yard (Polícia Metropolitana de Londres) anunciou pelas redes sociais que uma investigação criminal será aberta.

Em entrevista coletiva na manhã de segunda-feira, o técnico do time inglês, Garrett Southgate, descreveu os ataques como “Imperdoáveis” e disse que a posição “Não é a que defendemos”.  

Federação cobra empresas que administram redes sociais

A Federação Inglesa de Futebol (FA) emitiu um comunicado dizendo-se assustada com o racismo on-line perpetrado contra alguns dos jogadores. Disse que estava dando apoio aos atletas e exigindo as mais duras punições para os responsáveis.

A FA cobrou das empresas de mídia digital responsabilidade e ação para banir os abusadores das redes, a entrega de evidências que possam ajudar a condená-los e manutenção das plataformas livres de “Abuso abominável”, e pediu ao Governo celeridade na adoção da nova lei de abuso on-line que está em tramitação. 

Apoiadores saem em defesa dos atletas

Os ataques aos três jogadores negros provocaram uma batalha nas redes sociais, com uma contraofensiva em defesa dos atletas e condenando a atitude dos torcedores radicais.

Muitos lembraram a campanha de Rashford pelas crianças, que valeu a comenda MBE (Member of the Most Excelent Order of the British Empire), terceira mais importante condecoração dada pela Rainha. 

Embora muitos abusadores se ocultem protegidos por perfis com nomes falsos, outros não fazem questão de se esconder.

Andrew Bone, gerente de uma das maiores redes de agências imobiliárias do Reino Unido, foi um dos que tuitou de forma ofensiva. Muitos usuários repostaram a mensagem, marcando a empresa e pedindo que ele fosse demitido. Horas depois Bone fechou a conta. 

Seleção inglesa teve postura forte contra o racismo na Eurocopa

A contradição entre o comportamento do time inglês e uma parte dos torcedores, intolerante contra imigrantes e minorias, é gritante.

Durante a Eurocopa, os jogadores da Inglaterra estiveram entre os que se ajoelharam no início da partida em sinal de protesto contra o racismo, o que nem todos os times fizeram.

Jogadores-da Inglaterra chegaram a ser vaiados pelo gesto antirracismo durante a Eurocopa (Foto: Eddie Keogh – The FA/The FA via Getty Images).

O brasileiro Jorginho, que joga pela Seleção italiana, virou alvo de polêmica por se ajoelhar nas partidas de seu time, o Chelsea, mas não ter feito o mesmo nas primeiras partidas disputadas pela Itália no torneio. 

O problema do racismo on-line contra atletas é recorrente na Europa. Em abril, o Reino Unido foi palco de um boicote às redes sociais que durou quatro dias. Clubes e atletas não postaram nada para denunciar a falta de ação das plataformas digitais.

Semanas antes, o astro do futebol francês Thierry Henry havia fechado todas as suas contas, cobrando das plataformas medidas mais enérgicas. 

Ele defende o fim do anonimato nas redes, que dificultaria postagens racistas ou abusivas, que hoje se disseminam mais facilmente porque qualquer um pode abrir uma conta sem usar o nome real e nem estar associado a qualquer forma de identificação formal.