Eu-fui educado sob o discurso do Rev. King! Seja educado. Seja polido. Comporte-se. Não faça movimentos bruscos. Não fale alto. Estude e se “aculture” o máximo possível. Tenha bons modos e não permita que te associem a estereótipos, mas abaixe os olhos na presença da polícia.
Tudo isso para que, com movimentos leves e as tais “ações afirmativas” e/ou positivas, pudéssemos deixar de ser vistos como bárbaros, e, lenta e gradativamente, fôssemos sendo “absorvidos” (no sentido de incorporados e não no de “engolidos”) pela sociedade como cidadãos… quaisquer cidadãos… e nesse contexto, a cor deixasse de ser um “assunto” e se tornasse só uma característica!
Só que ninguém, e nem minha mãe, dona das melhores intenções, me contou que “lenta e gradativamente” era na verdade “pra sempre”.
No mesmo dia em que Malcolm X faria 95 anos, mais um menino negro foi assassinado no Rio, pela polícia (pra variar), que mais uma vez, legitimada pelo cumprimento do dever, leva, sem critério (ou totalmente pautada em um “critério” antigo e velho conhecido de gente preta) mais um de nós!
Dentro de casa? Sim! Dentro de casa… e assim rompemos as fronteiras invisíveis que nos mantinham ilusoriamente seguros! Malcolm X era (como se diz nas quebradas) “pocas ideia”. Ele não enxergava outra alternativa que não o confronto.
Confronto esse que sempre me amedrontou, do qual eu fui educado pra fugir, confronto esse que já matou muitos de nós, simplesmente porque se ousou questionar o direito de não morrer “desse jeito“… porque na boa? É tão recorrente e cheio de similaridades que parece esporte!
A essa altura da vida, eu queria poder seguir acreditando no meu set up original, mas pensei no pai desse menino o dia todo, e, a medida em que envelheço, começo a entender (talvez tardiamente) o que o Malcolm queria dizer quando disse: ” A mais perigosa criação no mundo, em qualquer sociedade, é um homem sem nada a perder.”
Mas antes de ter tempo de secar as lágrimas, somos brindados pela polícia americana (cuja seleção nacional desse “esporte” é uma das mais competentes do mundo) com o caso George Floyd, e, neste exato instante, deixamos de ser as vítimas do crime que o mundo finge não ver pra assumir o papel dos culpados pelos crimes que o mundo assiste de camarote.
É sempre mais fácil julgar do conforto do seu lar e sentenciar pelas redes sociais. A coragem sobra nesses contextos!
As pessoas apenas se esquecem de que tanto ódio, sobretudo o que vem de dentro, fruto da exaustão, enfraquece a todos e cria colaterais irreversíveis!
Cada menino negro que é morto em algum canto faz com que a sociedade inteira ande mil casas pra trás no tabuleiro.
É cansativo andar com um alvo nas costas e a certa altura da vida, fica pesado de carregar!
A falta de fé mora no cansaço, e o diabo se alimenta de gente exausta!!!