A fim de contribuir para o combate ao Coronavírus, principalmente nas favelas, a Central Única das Favelas (Cufa) lançou a campanha “Favela Contra o Vírus”, sob a direção geral de Celso Athayde, fundador das duas instituições. A campanha está nas redes sociais embalada por uma música que foi escrita a 8 mãos, Dudu Nobre, Edi Rock (um dos líderes do Racionais MCs), Dexter e Ivo Ivo Meirelles.
Além da interpretação dos quatro, o clipe conta com grandes nomes da música brasileira como Xande de Pilares, Mumuzinho, Alcione, Péricles, Ferrugem, Karol Conka, Leo Santana, Sandra de Sá, Grupo Bom Gosto, Serjão Loroza, Pretinho da Serrinha, Andrezinho do Molejo, Mc Menor MR, Raí BG, entre outros.
“A ideia surgiu num papo com um amigo chamado Sérgio Valente. Entendo que a música dentro da favela sempre foi muito potente. Por isso, através dela, queremos conscientizar seus moradores a tomarem os cuidados adequados contra o Coronavírus. Por isso, escolhemos artistas que sabemos que falam a língua das favelas.”, explicou Celso Athayde, fundador da Cufa.
“Quando o Celso me ligou pedindo para produzir a parte musical do projeto, eu fiquei feliz por me dar a chance de contribuir com as favelas nesse momento de tensão.”, disse o sambista Dudu Nobre, produtor artístico do projeto.
Mas se engana quem achar que os cantores são os únicos a contribuírem. Todos podem e devem participar do movimento, basta fazer um vídeo cantando o refrão da música e usando a hashtag #favelacontraovirus (sem acento).
A intenção da instituição é mostrar para os moradores das favelas e periferias que, com gestos simples como lavar as mãos por exemplo, o Coronavírus poderá impactar menos do que todas as projeções feitas até aqui. Só depende de nós.
“O site da Cufa e suas redes, nesse momento, estarão exclusivamente focados em informações sobre como a favela poderá se proteger e por isso quem tiver sugestões, fique à vontade de passar.”, disse Marcus Vinícius Athayde, um dos coordenadores da ação.
Veja as recomendações da Cufa
Sabemos que são necessários bem mais ações e que o conjunto de medidas proposto visa alcançar um público que ficou fora das medidas formais adotadas até aqui. Em particular, os que se encontram economicamente fragilizados e habitantes em territórios de desigualdade.
Os números, que nos ajudam a focalizar estas medidas, são: 77 milhões de pessoas estão no cadastro único; 66 milhões de pessoas de renda muito baixa (menos de ½ SM per capita); 41 milhões no bolsa família; 11 milhões com renda não muito superior a ½ SM.
Considerando esta enorme desigualdade social brasileira, a alta taxa de desemprego e a crescente informalidade do trabalho à qual estão expostas muitas famílias e que a crise gerada por essa pandemia irá somar-se a uma situação já delicada, que causará um enorme impacto econômico e social, principalmente para as populações que sempre tiveram seus direitos de cidadania vilipendiados, sugerimos as seguintes propostas e deixaremos no ar, durante uma semana, para colhermos sugestões de todos para compor este documento, que será levado até os poderes públicos executivos e legislativos responsáveis pelas decisões políticas do país:
a- Distribuição gratuita de água, sabão, álcool 70º em gel e água sanitária em quantidade suficiente para cada morador das favelas brasileiras.
b- Organização em mutirões do Sistema S e das Centrais de abastecimento para a distribuição de alimentos durante os meses de março, abril, maio e junho, meses em que são esperadas muitas pessoas infectadas pelo novo Coronavírus. Essa distribuição de alimentos, principalmente para as famílias que tenham crianças, idosos ou pessoas com maior risco de contraírem o Covid-19, é uma medida humanitária urgente: tanto para manter a alimentação para as crianças que não estarão frequentando a escola, quanto para manter a integridade imunológica das pessoas mais suscetíveis ao vírus.
c- Aluguel de pousadas ou hotéis para idosos e grupos vulneráveis com estrutura para repouso; nas favelas, na maioria dos lares, não há possibilidade de isolamento, o que compromete a saúde de todos.
d- Parceria com agências locadoras de veículos ou com operadores de transportes de passageiros (vans e ônibus) para a locomoção imediata de pessoas infectadas para centros de saúde, quando houver indicação médica.
e- Instituição do Programa de Renda mínima para as famílias já inscritas no Cadastro Único e adicional de renda para os cadastrados no Bolsa Família. Aumento do apoio financeiro para famílias já inseridas no programa de tarifas sociais.
f- Decreto apoiando economicamente as micro e pequenas empresas que tenham autorizado seus funcionários a permanecerem em casa (sem desconto no pagamento).
g- Apoio às empresas de água, luz e gás que isentarem o consumidor do pagamento durante 60 dias, para famílias com renda de até 4 salários mínimos.
h- Incentivo para que a população compre dos pequenos comerciantes, mais frágeis frente aos problemas econômicos advindos da pandemia.
i- Liberação de pontos de internet junto às empresas de fibra ótica para garantir acesso universal à rede. Isso é primordial para a comunicação de medidas de prevenção e cuidados para a população.
j- Financiamento para as redes de comunicação próprias de cada favela: rádios comunitárias, sites, jornais impressos ou virtuais, TVs.
k- Apoio financeiro específico para as famílias das crianças que estarão impedidas de frequentar as creches.
l- Apoio financeiro específico para famílias com pessoas portadoras de deficiência.
m – Criar uma rede de comunicação com apoio técnico do Ministério da Saúde para filtrar e fazer verificações, em tempo real, das informações compartilhadas em redes sociais para as favelas.
n – Ampliação das equipes de saúde da família para prevenir e informar as favelas, para que se evite lotação nos hospitais.
Essas medidas, além de humanitárias e eticamente defensáveis, visam preservar o Sistema Único de Saúde (SUS) de um colapso frente ao contingente projetado de pessoas infectadas. Um colapso do SUS não interessa a ninguém, pois o Sistema Único de Saúde brasileiro é um patrimônio de toda a nossa sociedade.
Sem deixarmos de mencionar que a redução da demanda comercial, necessariamente, provocará um impacto econômico relativamente perverso. Esse impacto econômico não é trivial, que levará a uma desaceleração da economia como um todo. Causando um problema maior, principalmente, para a população das favelas.
Música – O Mundo Parou
Diretor-Geral – Celso Athayde
Produtor executivo – Marcus Vinícius Athayde
Coprodutor executivo – Flavio Régis (Bom Gosto)
Produtor artístico – Dudu Nobre
Produtor Musical – Dudu Nobre e Duzinho Soares
Autores – Dudu Nobre, Edi Rock, Dexter e Ivo Meirelles
Vídeo Clipe – Ficha técnica
Direção – Celso Athayde Júnior e Marcus Vinícius Athayde
Produtora – CUFA (Central Única das Favelas)
Edição: Édipo Ferraz
OBS: Todo o projeto foi realizado por vídeos enviados pelos artistas de dentro das suas residências, bem como a edição.