O mercado de arte movimenta bilhões anualmente. No ano passado foram US$ 50 bilhões, segundo dados da Statista. É comum vermos obras raras alcançando valores exorbitantes em leilões, como foi o caso de um quadro de autoria de Winston Churchill.
A peça, que fazia parte da coleção da atriz norte-americana Angelina Jolie, foi vendida pela casa de leilões Christie’s por US$ 12 milhões em 1º de março de 2021.
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As obras de arte que têm movimentando milhões nos últimos meses têm uma característica em comum: elas são NFTs (tokens não fungíveis, do inglês non-fungible token). Em 22 de março, o 1º tweet de Jack Dorsey, fundador do Twitter, foi leiloado por US$ 2,9 milhões.
A-foto da coluna Kevin Roose, do New York Times, foi vendida por US$ 560 mil, em 25 de março. Em 28 de fevereiro, a cantora canadense Grimes vendeu uma coleção de obras de arte digitais por US$ 6 milhões.
Os tokens não fungíveis “derivam” da blockchain, a mesma tecnologia das criptomoedas, que cria registros únicos e imutáveis criptografados.
Segundo Paulo Roberto Barbosa Lustosa, pesquisador e professor do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade de Brasília, “o token é como se fosse uma ação de um projeto que ainda não foi materializado”.
As criptomoedas nasceram com o objetivo de “fugir de influências políticas”, afirma Paulo Lustosa. Surgiram
“a partir do mecanismo de crowdfunding, que é quando as pessoas têm uma ideia ou inventam um produto, que é atrativo e singular”, o que atrai investidores.
“Como contrapartida, o investidor tem o direito de comprar aquele produto mais barato e, assim, ter um lucro. Para dar uma garantia a esse financiamento, foi emitido um ‘título virtual’. Esse título virtual foi chamado de token”.
Ele explica que, com o avanço tecnológico, “os tokens começaram a ser transacionados para muito além daquele produto do qual ele foi originado”. Como “passaram a ser atrativos”, “algumas pessoas começaram a comprar e outras a aceitar vender os seus produtos com aqueles tokens como moeda de troca”.
Para Paulo Lustosa, era natural que “as moedas digitais fossem vinculadas a produtos da economia real”, o que torna possível pensar na arte. “A arte tem um valor intangível. É o valor da inteligência e da capacidade do artista de conceber aquela obra.”
“Isso pode ganhar um valor absurdo porque ela é uma relíquia, é única. Eu posso transpor essa ideia da obra de arte física para uma obra de arte ‘digital’. Se eu tivesse um mecanismo para criar um mercado digital de obras, então eu poderia transacionar essas peças”.
O mercado e os riscos
Paulo Lustosa explica que mercados como o dos tokens são criados de forma artificial no 1º momento. “Existem milionários excêntricos que dão valor para a novidade e isso ganha as notícias.”
“De repente, esse mercado artificial começa a ser um mercado real. Até as pessoas ‘comuns’ querem comprar um NFT”.
O professor fala sobre os riscos que envolvem os NFTS. Segundo ele, o valor desses produtos pode cair e “o mercado [pode] passar a não aceitar mais essa moeda nas trocas”. Além disso, a volatilidade dessas transações pode levar governos a intervir. “Se uma moeda flutua muito, ela passa a ser um elemento especulativo. As pessoas estão comprando menos pelo poder de troca e mais pela expectativa de que o preço vai aumentar”, afirma Paulo Lustosa.
Ele destaca como um “risco menor” o ataque de hackers à tecnologia dos NFTs. Segundo Paulo, “a cadeia de blockchain, que é superprotegida, vai agregando novas camadas a cada transação realizada. Apesar de ser extremamente difícil, alguém pode hackear. Isso não está inviolável”, pondera.
O 1º NFT
“Quantum”, o 1º token não fungível da história, foi apresentado em 2014, na conferência Seven on Seven da organização de arte e tecnologia Rhizone, pelo duo de artistas norte-americanos Jennifer e Kevin McCoy.
Segundo informações divulgadas pela Axios, ele poderá ser vendido por US$ 7 milhões ou mais.
Nyan cat
O vídeo, que foi publicado no YouTube em 5 de abril de 2011 e se transformou em um viral da internet, foi a leilão em 18 de fevereiro. Chris Torres, criador da animação, colocou a plataforma Foundation uma edição digital única do Nyan Cat. O lance final foi de US$ 590 mil.
Depois do leilão, Chris Torres disse em seu perfil no Twitter que tinha “[acabado] de abrir as portas para o futuro da economia dos memes no universo Crypto” e que esperava “inspirar artistas a entrar no universo #NFT para que possam obter o devido reconhecimento por seu trabalho”.
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Beeple
A Christie’s tornou-se a 1ª grande casa de leilões a oferecer uma obra puramente digital com um NFT ao vender uma obra do designer Mike Winkelmann, conhecido como Beeple.
“Everydays: The First 5.000 Days”, uma coleção de desenhos feitos por 5.000 dias consecutivos, foi vendida em 11 de março por US$ 69,3 milhões.
O veículo norte-americano Business Insider fez um pequeno dossiê sobre os tokens não fungíveis e sobre o trabalho de Beeple, assim como os valores exorbitantes pelos quais suas obras foram vendidas.
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